Ato IV: Subúrbio Serrano

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Desde que tudo ocorreu, eu nunca havia tido uma noite de sono tão boa como esta e com uma pessoa desconhecida. – Elisa, você não é desta Terra... –. Ela sempre ri de tudo o que digo, mas falo com muita sinceridade que soa mesmo engraçado. Pegamos um pouco daquele cereal que ainda tinha sobrado e comemos com água pela manhã. Era o que tínhamos e não poderíamos negar.

Eu ainda tinha uma meta: Encontrar minha família. E ela seria útil para a nossa sobrevivência, pois tinha formação como enfermeira chefe. Então eu a pedi: - Elisa, eu preciso que venha comigo para encontrar meu filho e minha esposa. –. Ela olhou para mim atônita e detalhou com uma simples pergunta: - Tu já procuraste sua família? –. Eu respondi que sim. Ela continuou: - Para procurá-los, primeiro deveria ir até sua casa, o que seriam, provavelmente, alguns quilômetros de distância de onde está agora. Se você foi, com certeza, voltou por dois motivos: Ou você os encontrou mortos ou não os viu. Estou certa? –

Ela acertou em cheio e saberia também que não pretendia voltar para fora da cidade, já que os centros urbanos, faz dezena de anos, que não eram usados para moradia, de acordo com o Plano Nacional de Habitação e Ambiente. Os centros eram usados apenas para uso profissional, industrial, comercial e tinham setores preventivos para acudir civis, quando em necessidade. Após o crescimento da tecnologia V, foram estabelecidos metrôs de hiperespaço para chegar das habitações à área central em pouco tempo, cujo pôde abastecer a população e seguir o pacto mundial sem poluição. Nisto, Pindorama fora esplêndido em realizar! Ela sabia que eu poderia correr o risco de encontrar os Sussurros para tê-los em meu encalço. Eu teria que ir pela certeza de que tudo correria bem e ela, como uma sobrevivente, me deu a fonte de como sobreviver a eles: Não fazer barulho! Eles não enxergam bem e se eu não os atrair, não poderei ser pego, assim como ela. Logo me perguntou: - Você era um bombeiro. Não tem uma arma? Eu respondi: – Eu tinha. Mas a perdi nos escombros de onde estava quando os caças passaram e explodiram tudo. – O que podemos fazer é saquear mais lojas, levar mais mantimentos e água para percorrermos o trajeto. –. E ela ainda disse mais: - Tem um local próximo, cujo tem militares que protegem a área. Lá provavelmente têm sobreviventes. Depois de encontrarmos sua família, nós poderíamos ir para lá até que tudo esteja sob controle. –

Nós começamos a pilhar comidas, remédios, roupas, água e procuramos um veículo que pudesse nos levar, embora seja mais perigoso ir com ele e ser perseguido por aquelas criaturas. Logo, não tínhamos escolha a não ser ir a pé até o Distrito de Rosa Luz. Seria uma distância de não menos que uns 84,3 quilômetros, o que nos daria mais ou menos umas 20 horas de caminhada se fôssemos sem parar, sem contar os 22,1 quilômetros do Centro até a entrada da Rodovia Central, o que nos renderia uma boa preparação. Nós poderíamos seguir pela estação de metrô, cujo há uma no meu bairro, mas a entrada está circundada por escombros e teríamos que tirá-los para entrar, sem contar que faria barulho e haveria a possibilidade daquelas criaturas surgirem em meio ao nada. Não seria uma boa escolha, mesmo que conseguíssemos, pois estaria escuro e poderíamos encontrar uma delas no caminho, o que seria algo muito inconveniente. Se é que não haja sobreviventes por lá e que também poderiam nos comprometer ou até tentar nos prejudicar. Seria ótimo se pudéssemos como havia feito anteriormente. Seria questão de segundos até chegar lá.

Faz tempo que não escrevo no diário e acho que terei bastante tempo para escrever o nosso dia a dia durante esta andada.

Já se passou um dia desde que pilhamos tudo, tanto eu, quanto a Elisa. Ela disse: - Arthur, precisamos descansar para partirmos. Assim o fizemos. Tivemos uma pausa pela noite e, enfim, veio o dia. Estava ansioso, já que fui um covarde em não ficar e buscar pelos meus familiares, para ir com eles de Rosa Luz para um lugar mais tranquilo, já que, muito provavelmente, seria mais fácil encontrar as criaturas, devida grande quantidade de pessoas que voltariam para suas comunidades ao voltarem para casa. Isso os traria pela quantidade de barulhos que fariam. Logo, iniciamos nossa andada e assim que nos erguemos até o centro daquela imensa avenida, eu comecei a sentir um pavor dentro de mim, como se algo pudesse dar errado ou que teríamos muitos problemas a enfrentar, se caso não nos planejássemos de acordo com os critérios a serem seguidos ao gastarmos nossas energias para uma longa caminhada. Mas como se tratava de meu filho e de minha amada Júlia, não tinha como pensar que fosse em vão. Todo o esforço seria válido!

Sussuro O PrelúdioOnde histórias criam vida. Descubra agora