Ela deu uma leve recuperada e prosseguiu com sua história:
- Até que um dia, eu conheci um rapaz que se intitulava como médium e suas capacidades extrassensoriais, dizia ele, que advinham de um ser que afirmava não ser desta Terra. Ele atendia algumas pessoas pobres que tinham tumores e inchaços pelo corpo, cuja eram curadas. Eu, por muitas dúvidas em minha vida e pelo que ocorreu com minha querida mãe, resolvi buscar algumas respostas observando-o. Ele era jovem, belo, cabelos lisos que pareciam escorregar os dedos, um olhar leve, firme e olhos negros como a noite. Muito encantador! Sempre usava roupas brancas, inclusive os sapatos. Com certeza, poderia atrair qualquer mulher que quisesse com o estalar dos dedos e eu me senti fissurada e apegada por ele.
Uma vez, eu vi uma senhora querendo pagá-lo em dinheiro, após ter lhe retirado um tumor nos seios e o mesmo se negou a aceitar, alegando que a sua benção seria comprada com o que ele veio para fazer neste mundo, logo, ele não precisaria de dinheiro para o que precisava. Era como se tivesse uma visão do que esperava acontecer. Enquanto isto, eu o acompanhava e realizava meus trabalhos como enfermeira, durante os tempos vagos, no Centro Espírita ao qual ele vivia, tornando-me sua auxiliar e via as pessoas humildes com esperança e enxergando-o como se fosse uma pessoa divina, que realmente não era do nosso mundo e quando alguém o citava como tal, ele respondia:
"Assim como o arcanjo Miguel repreendeu pelo nome do Todo Poderoso e não aceitou idolatria para si, eu faço o mesmo e dou-lhe graças ao Misericordioso! Eu sou apenas um instrumento do Grande Ser."
Quando ele falava deste Grande Ser, logo, vinha em minha mente à imagem do funeral de minha mãe e no quanto eu O culpava pela sua morte, porque não O via como Misericordioso, mas como um Ser que não se importava com a humanidade. Havia uma farpa encravada em meu peito que não conseguia tirar e já vinha à aflição na sua crença. Eu tinha o conhecido enquanto estudava, em uma pesquisa por dados sobre as doenças mais predominantes da minha comunidade e algo me levou até ele, quando me perguntou se eu tinha alguma crença e eu dizia que não mais, pois era uma ateia. Ele apenas disse para buscar respostas olhando para o jardim do nosso bairro. Isto me fez questionar sobre aquilo que pensara sobre as divindades, mas observei... Eu analisei as flores, tão belas e suaves, suas cores tornava tudo mais belo, o vento que as brisavam, os raios que as aqueciam. Era como um leve coração de uma pequena criança batendo, cujo deveria se cuidar, assim como o verde que estavam em volta e, por uma semana, ainda me perguntava sobre o quanto eu tentava codificar seu pedido, que pra mim, era algo superficial, embora belo. Logo, resolvi ir atrás dele para perguntar à necessidade de olhar para algo tão supérfluo e ele apenas disse que eu não deveria ver a beleza do jardim, mas acreditar no quanto àquilo era belo, no quanto aquilo poderia me proporcionar, mesmo que um dia venha a morrer. Esta resposta me aficionou e estive com ele até saber que o mesmo tinha uma neoplasia intrecraniana, já em fase terminal e que, por escolha do próprio, não quis tratar. Isto me aborrecia porque a minha mãe, antes de morrer, lutou por sua vida, enquanto ele jogava fora.
Eu discutia dias e dias, enquanto o mesmo permanecia quieto, e, resolvi parar de frequentar o Centro para ajudá-lo. Não me dava conta de gostar de uma pessoa tão mesquinha ao ponto de ajudar aos outros, mas não se ajudar. Isso me causava ânsia, ódio, muita raiva, mas tudo isto foi se refrescando com o tempo até o sentimento de culpa me encontrar e pedir para vê-lo novamente e, ao menos, dizer o que eu, verdadeiramente, sentia dele. Eu cheguei e as pessoas estavam atônitas, como se estivessem perdendo algo muito importante, a maioria chorava, outros estavam cabisbaixos e parte evitava conversar sobre o assunto. Logo, não perdi tempo e fui até sua sala e eu vi: Uma luz enfeitava seu rosto, suas mãos clareavam todo o local, sua pele, mesmo magra e com ossos já expostos por se alimentar mal, reluziam ao ponto de quase ofuscar meus olhos. Eu olhava para as senhoras que me acompanhavam e algumas colocavam a mão no rosto, enquanto outras o viam normalmente. Encantei-me pelo que via e ele disse:
"Venha até mim, tímida criança! A sua lamúria, um dia será curada, não por mim, não por este mundo, mas por Àquele que um dia virá para acabar com as aflições e provas que ainda virão. O meu instrumento de apoio será o consolo para esta terra sofrida, que já viu choro e sangue, mas a ti, verá que isto é comparado à nada, pois muito ainda terás ao perambulá-la. Leve os ensinamentos que vieram à mim para os que virão e verão o que há de vir. Tu és parte da luz que o mundo precisa ver, por isso, acredite! Nem a morte subsistirá a ti... A morte subsistirá à ninguém."
Josafá estava em pé e de braços abertos ao anunciar suas palavras e quando as terminou, as abaixou e se aquietou cujas forças reduziram e voltou-se a deitar de bruços, virado para a parede. As senhoras foram para lhe cuidar e eu fiquei sem reação por alguns minutos como se não tivesse forças para me mover e não consegui dizer o amor que tinha para o mesmo porque havia entendido a verdade: eu precisava de respostas e ele se tornou a porta para elas. Ele era meu mentor, mas queria apenas me mostrar quem era o seu Mentor. Aquele que também lhe mostrou a porta.
Eu me formei em enfermagem, me tornei enfermeira chefe e agora estou aqui, cuidando de você! –
A sua história parecia sair de uma daquelas confissões religiosas de pregação para servir de moral para o público que assiste e pude, enfim, crer que, mesmo eu sendo um cristão moderado, ela se tornou espírita com um ponto de vista além dos meus pensamentos. Ela era muito mais cristã do que eu e, desde que a vi, tinha tanta fé que põe a minha no bolso.
Eu respondi:
"Fico feliz que esteja aqui fazendo um papel importante nesta sociedade caótica."
Ela levantou um sorriso e com uma leve lágrima se esvaindo do rosto, mirou para o horizonte à nossa frente e marchou descalça e destemida para encontrar nosso destino. Logo, respondeu:
"Nós encontraremos a sua família e sairemos dessa. Acredite!"
Já estava raiando as ultimas luzes do sol dando espaço para a noite sussurrante e obscura, ao qual não vemos uma alma sequer. Nós acordamos em prosseguir até a volta do brilho fumegante das luzes solares e ainda não sabíamos o que poderíamos encontrar nos dias que perambularíamos até o Distrito de Rosa Luz porque a caminhada seria longínqua e para nos deparar com alguns perigos, que sejam de grupos de vândalos, que acredito ocorrer, aos Sussuros, todo ato sorrateiro seria pouco.
* Notas:
* Neoplasia intercraniana - Tumor cerebral.
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Sussuro O Prelúdio
Horror[Não plagie! É crime!] Arthur Francis, um bombeiro, precisa sobreviver em meio ao caos ocasionado por criaturas desconhecidas, que matam e devoram pessoas, chamadas apenas de Sussurro, ou Luisón, da mitologia Tupi. Ele encontra uma enfermeira chamad...