Ato XIV: Benjamin

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- Quantos meses será que estamos aqui, soldado? Ou será que são anos? – Aquele mirim, com aquela enegrecida tatuagem de uma bela harpia que abria tuas asas, riu e exprimiu: - Sério, oficial?! Não sabe mesmo por quanto tempo estamos aqui? – O outro, ainda mais jovem, só que menos destemido que aquele tobatinga, disse: - Se passaram sete meses e dezoito dias, após os acontecimentos do Centro. – Após fuçar o chão com um pequeno pau para perder o único tempo que tinha, antes de qualquer expedição, eu desafiei os detalhes citados pelo soldado: - Tem certeza plena, soldado? Pois me soa como um século! Eu estou farto de ficar preso aqui. – Um rapaz muito nanbiquaraque seus óculos denunciavam. Aliás, a sua lente projetada não funcionava, devido um suposto ataque inimigo ao nosso Abequar e tenho total noção de quem tenha sido... Os Domines! Outros disseram que poderia ser até mesmo um ataque alienígena em escala global, mas não creio nisto e dou até risadas destas piadas de gente babaquara. Sinto-me um civil e desinteressado com tantas conversas inúteis que me deixam calundú. Eu sinto saudade dos meus companheiros e gostaria de tê-los comigo... Vivos, nós tínhamos a ação de que eu precisava e estes brocoiós seriam fichinha perto de nós. Aquele bicho teve muita sorte de acabar com nossa equipe...

"Ben... Por que está de cabeça baixa... Colé, naurú?! Você não é um py'aju... Gûarinim não chora... Quer viver para sempre? Levante-se... Há uma missão, soldado! TERMINAMOS-A!"

Ouço seus dizeres em minha cabeça à todo o momento, desde que vim parar aqui... E agora que tudo está acontecendo eu posso dizer que foram as piores férias da minha vida. Quando perambulo pelas instalações da concentração, eu vejo a professora Beth dando mais uma de suas aulas de história para os mirins e hoje, antes de partir, eu pude ouvir a origem de nosso povo:

"Crianças, hoje vocês ouvirão falar da história que fundou Pindorama, a nossa terra natal.

Tudo começa em mil quatrocentos e noventa e dois. Um passado tão remoto que vocês sequer pensariam na existência de seus tataravôs. Uma terra chamada de Meirídia, que vivia em constantes guerras contra os sartarenos, mas estava em um período chamado de Reconquista, na costa ao sul da península. Um grupo de nobres soldados, cujo vinham de uma ordem militar dos antigos clérigos católicos, foi solicitado pelo Rei Mero, o Fundador, para auxiliá-lo em enfrentar os infiéis e retomar-lhes o que era de direito. Eram monges treinados e disciplinados, desde a infância, para servirem à cúria romana católica e aos reis que eram subservientes ao império.

Eles tinham votos de pobreza, castidade, devoção e total obediência para com Roma e os reinos para reobterem suas funções no Céu que haviam se perdido, assim dizia o conto Católico, pois, no passado, quebraram tais votos ao cobiçarem as riquezas do Templo de Salomão e terem contato com deuses estranhos em Jamiel quando combateram os povos de Potrálsa. Uma região dominada pela selvageria e doutrinação que criava assassinos, ladrões e saqueadores. Eles foram perseguidos e alguns foram mortos, embora uma parte tenha resistido, enquanto outros se tornaram mercenários e foragidos. O Papa daquela era lhes concedeu a bênção Divina para isto, e eles foram para acudir os soldados meiridianos nesta batalha. Estes são os Templários Fundadores.

Houve uma luta devastadora e, sequer as crianças foram poupadas de lutarem. Um imenso massacre! Mas os salvadores de Meirídia conseguiram conter seus inimigos e os expulsaram para a África. Foi uma dura caminhada de oito anos! Os templários, que não eram aceitos em outras regiões da Europa, devido a estigma de seus descendentes do passado, puderam ficar sob a permissão do Rei Fundador e eles trouxeram a ciência para àquele povo. Os meiridianos conseguiram a proeza de navegar para outros confins do mundo e conheceram regiões longínquas, que nunca hesitariam ir. A matemática se tornou presente, assim como as especiarias e o poder da navegação e o conceito de civismo e nacionalismo. Foi a era de ouro dos antigos prizeus, maroucotes, galoseus e vizigotes: as etnias que geraram Meirídia.

Sussuro O PrelúdioOnde histórias criam vida. Descubra agora