"Se eu soubesse
O quanto essa vida trouxe de mim
E o quanto ela me tirou
Não teria em um vaso aquela pequena flor
Ela murmurou e disse que sentia falta do que ele levou
Se o vento fosse bom
Não me traria lembranças ruins
Mas traria o meu amor
Aquele amor...
Todo louvor...
É mais ator...
Contracenando um último clamor...
Enquanto o seu vermelho enaltecia a minha dor
Oh! Traga para mim
Aquele Naurú para que eu possa sentir a sua pele
Oh! Traga para mim
Aqueles suaves braços que me protegem
Oh! Vem para que eu sinta você pra mim
Só pra mim...
É mais assim...
Beija sim...
Tenha dó de mim...
Não vá e me deixe, enfim..."
- Esta música lembra nossa mãe... E quantas vezes ela te fazia dormir ouvindo-a cantar... - Ele tocou forte em meu coração, embora também não o via faz alguns anos, desde que mamãe morrera e ele não estava presente para aguentar a barra que aguentei. Não sei se era a música daquela cantora da vanguarda que tocava naquele velho tocaica ou se era sua presença. Eu chacoalhava para um lado e para o outro na cadeira ao seu lado, enquanto Dante olhava para mim e eu não conseguia segurar a emoção de vê-lo ao mesmo tempo em que não conseguia abraçá-lo. Era o meu grande irmãozinho! - Por que você faz isso comigo? - Em meus olhos... A chuva caia... E pôde esconder os barulhos que meu nariz fazia quando do meu rosto lacrimejava uma água salgada. Era um aperto forte! O meu doce maninho estava aqui. Ele veio de Roots, após sua missão de diplomacia, e estava parado exatamente aqui? Eu não acreditava, mas, infelizmente, teve que nos deixar e pude suportar a dor de ouvir aquela música e lembrar-se da nossa família unida, cantando e meu pai brincando com minha mãe e conosco, enquanto estávamos em um jantar... Só nós quatro... Que saudade!
Automaticamente, o agarrei e sentei-me em seu colo. Era mesmo ele: meu Igor! Eu tive que dizer e saiu como se nem minha boca esperasse: - Que saudade, Igor! Está com cabelos brancos, mas está bem cuidado! Ainda é o loiro encaracolado dos anjos dos contos da mamãe. - Faz tanto tempo que só me lembrava dele assim. Afinal de contas, eu era criança quando ele já estava para substituir uma liderança que estava aposentando como diplomata. Ele sorria e ainda era tão gentil, quanto no meu lamurioso passado.
- Fico triste por não estar com você e com o papai na hora em que ela se foi... - Comigo em seus braços, abaixou a cabeça e escorreu em meu ombro apertando-me como se não quisesse me soltar. Ele continuava e se engasgava em soluços: - Você cresceu e não pude ver isto... Muito menos ver papai curtir a vida depois de sair daquele sórdido trampo... Muita coisa aconteceu! Eu me casei com uma roots e me separei porque ela não queria vir comigo. Então vim para o Centro de Paninca, no escritório das Relações Interiores. Eu soube que se tornou enfermeira. É verdade? - Eu acenava que sim com a cabeça e olhava atentamente para aquelas duas jabuticabas brilhantes que me encaravam. Ele era... Na verdade, ainda é um galã e sempre aparecia com uma nova namorada na nossa casa. A mamãe tinha um ciúme terrível dele e sempre dizia que preferiria ele em um mosteiro a ver alguma mulher arrancar-lhe de nós. Por fim, a vocação nos tirou ele.

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Sussuro O Prelúdio
Terror[Não plagie! É crime!] Arthur Francis, um bombeiro, precisa sobreviver em meio ao caos ocasionado por criaturas desconhecidas, que matam e devoram pessoas, chamadas apenas de Sussurro, ou Luisón, da mitologia Tupi. Ele encontra uma enfermeira chamad...