Tempos depois da conversa do Arthur com o Clarus e entre os dois meses que se passaram. As meninas já estavam extrovertidas e não haviam encontrado o cão delas. O Francis resolveu fazer umas perguntas para saber alguns detalhes que também eram de interesse do Mandaribóia e a pequena os explicou...
- "Távamos bem, quando a nossa amiga, a Tia Elisa, foi cuidar de uma paciente que estava esquisita:
A sua pele estava ficando podre, os seus olhos estavam ficando negros e não parava de uivar como um cachorro. Igual ao Kiko..." –
A outra a interrompeu:
- O Kiko late, Lilica, sua burra! Quem uiva são os lobos... – Logo, a pequena a xingou: - Burra é você! Posso continuar, tio? – Eu respondi que sim e ela prosseguiu:
- "A senhora estava muito fraca, a tia tentava acalmá-la e pediu apenas para que a gente trouxesse alguns medicamentos para ela. Não queria que tocássemos na senhora e sempre pedia para ficar um pouco distante. Era muito chato! Eu queria brincar com o Osvald e o Kiko, mas ficava pra ajudar a tia. Ela parecia triste e, quando tava sozinha, gritava, tapava a parede e começava a chorar.
O irmão dela, de vez em quando e muito pouco, ia para ver ela, mas fechava a porta e havia gritos dela com ele... "-
Após esta surpresa, eu a indaguei:
- Ela tem um irmão? – A pequena Lilica pegou uma caneta e um papel que estava na escrivaninha, sob os olhares do Clarus, da Mãe e da sua irmã, a Mirta. Ela respondeu: - Sim! Ele se chama Igor. É um senhor bem velho, de cabeça bem branquinha, olhos claros, mas com cara de novo. Ele é bonito (risos)! –
As irmãs começaram a rir e eu esperei a alegria de ambas cessarem para que continuassem:
- "... Uma vez, a Cindy tentou entrar no quarto dela, mas ela gritou e ouvíamos muito barulho e o tio Dante foi lá para tirá-la do quarto da tia. Eu tinha medo da Cindy! Ela é má e falava sozinha e fazia um monte de maldade. Uma vez, eu vi ela matando um rato e abrindo ele e cortando pedaço por pedaço. Ela percebeu que eu tava vendo e falou que queria cortar minha língua e enrolar no meu pescoço. Eu sai correndo!
Outro dia, ela veio carregando uma mulher que parecia morta e vi o tio Dante indo junto com ela para outro quarto. Eu não sabia o que eles tavam fazendo!
A tia Elisa ficou pior e vinha pra perto da gente, dizendo que uma hora íamos fugir dali, mas eu dizia que não queria ir embora sem o Osvald. Ele era meu amigo..." –
A Lilica entrou em profunda tristeza e a Mirta, soluçando, continuou:
- "Mataram ele... E-ele aceitou ir com a gente embora daquele lugar... e mataram ele... Deixaram a velha solta e, quando nos acharam para fugir, a Cindy veio e empunhou a faca na mão dele... Ele gritou e mandou a gente correr com a tia Elisa... o Osvald fez o Telo se manifestar, mas a Cindy não queria sair... e o Telo mandou o Osvald correr, só que era tarde..." –
A Mirta abaixou a cabeça e tentou segurar o choro que a mais nova não conseguira. A Lilica chorava com tanta agonia que não conseguia mais continuar e lhes disse:
- Não precisam continuar, se caso não quiserem... – A Mãe abraçou as jovens e até o Clarus ficou comovido com a dificuldade que passaram na área dos Trovsky.
A Mirta terminou seu pequeno soluço de choro e continuou:
- "... A velha apareceu nua, já transformada, ensanguentada e com uma coleira no pescoço... Parece que a haviam soltado e o Igor veio seminu, e soltou as correntes que seguravam ela, que atacou, sorrateiramente... o pobre Osvald... Ela... ela... mordeu seu... pescoço... e... eles caíram... Ele mandou... a gente correr... A tia... a tia Elisa... nervosa e chorando... nos agarrou e correu com a gente pra fora... Eu não pude agradecer ao Joeson por tudo que me ensinou... e... nem ao pobre Osvald..." –
A Lilica tentava continuar e disse com muita lamúria: - Eles pegaram a tia! A Cindy machucou a perna da tia e pegou ela! Ela mandou a gente correr com o Kiko! –
O Rick apareceu. Parecia que havia ouvido toda a conversa. Ele estava nervoso... Tem a cabeça muito quente e tenho medo que não meça as consequências de seus atos quando fora de controle. Ele perguntou, para a minha surpresa, a do velho e a da Mãe: - Viram os prisioneiros? – A Mirta balbuciou, balançava a cabeça e tremendo afirmou: - Eu não vi! – O rapaz estava muito nervoso e foi em direção as duas e a indagou: - Anda! Fala! Você sabe! Estava com os inimigos! Desembucha! – O Mandaribóia tentou acalmá-lo: - Calma, Rick! Ela não sabe. Tenha calma... – O jovem caiu de joelhos e, em seguida, pôs suas mãos no chão e gritou com muita ira: - DRO-O-O-O-O-G-A-A-A! – Ele se levantou e saiu batendo em todos os objetos que via pela frente. As meninas começaram a chorar e a mais nova chamava pelo Kiko, pelo Osvald e pela Elisa alegando que os queriam vivos e por perto. O Clarus foi atrás, temendo que cometesse algum vacilo. Eu dei um tempo para que ambos repousassem e me levantei da cadeira para fazer algo de útil, mas a Mirta segurou o meu braço e explanou: - Elisa tá viva! Eles vão mantê-la viva e ela sabe onde estão os prisioneiros de vocês. Moço! Nós podemos ajudar a encontrá-la... – Eu neguei com a cabeça e a expliquei com clareza: - Você não vai sair daqui, mocinha! Não vai se arriscar lá fora, nem você, nem sua irmã. Vou procurar o Kiko e você fique aqui... – Eu já tinha ideia do que estava acontecendo e fui pedir auxílio ao Sebastian, que é um grande rastreador, para encontrar o animal e trazê-lo a salvo para as garotas. Os meninos, o Xavusca e o Cauã vieram em meu caminho e me perguntaram para onde eu iria porque queriam ir junto. Eu disse para eles irem jogar pebolim. Provavelmente, sabiam o que estava acontecendo e que seus pais estavam nos Trovsky, cativos. São jovens e eu não queria que eles passassem por algum sufoco, afinal de contas, estava gostando daquilo tudo, embora seja um cenário incompleto pra mim.
Mais de duas horas se passara após a conversa com as meninas e tracejava uma rota com o Sebastian. O Hans estava junto, a Mãe estava com as crianças para fazê-las esquecer das maldades do mundo e o Rick estava sumido. O Clarus foi buscá-lo e enviou uma mensagem para nós dizendo que estava voltando, mas que não achou o garoto. Isto me deixou irritado e me levantei, peguei um Tau com munições, uma faca e ia em direção à entrada do refúgio junto do casal, quando ouvi um latido e vi um cão correndo para dentro da nossa área. O Hans levou um susto e pulou. O Sebastian se abaixou e chamou o cachorro e, mais a frente, o moleque apareceu e, logo atrás, vinha o velho.
O Rick veio para perto e disse pra mim:
- "Ao menos uma notícia boa no meio de tantas perdas." –
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Sussuro O Prelúdio
Horror[Não plagie! É crime!] Arthur Francis, um bombeiro, precisa sobreviver em meio ao caos ocasionado por criaturas desconhecidas, que matam e devoram pessoas, chamadas apenas de Sussurro, ou Luisón, da mitologia Tupi. Ele encontra uma enfermeira chamad...