Ato VI: Saqueadores

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- Por fim, estamos indo bem, Necro! – Disse aquele imundo. Sujo! Doentio! Ele era tão perverso que me fez ver aquele delicado corpo rumando ao chão. Aquela aparência frágil, aqueles dedos gordos e pouco desenvolvidos. Seu rosto singelo e meigo. Coitado! Ele o golpeou por mera diversão e nem se fez de conta que era uma atuação. – Maldito Dante! Era uma criança! Não tem coração? – Eu disse, após ver as gargalhadas de sua turma. Ambos portando pedaços de pau, facas, pistolas, barras de ferro... Ferramentas sofisticadas para o que tínhamos presenciado. Todas necessárias às nossas necessidades. – Pare de fingir que sente dó! Você é um monstro! Eu lhe conheço desde o internato. Eu sei o quanto perverso você é e o quanto violento ainda pode ser. Não é mesmo... Cindy? – Quando ele disse aquele nome... Cindy... Não! Afaste-se de mim, demônio! Eu não quero sair! Eu quero cuidar das coisas agora, então vá logo, afeminado! Sabe que eles te temerão, não é? Sei... E é o que eu gosto... De temor! Anda! Sai! – Os insolentes, não dois... Nem três... Quatro, nem pensar... Cinco... Complicado! Seis! Este é o número! O palavrear da ira! Da morte! Seis! Esta era a quantidade de pessoas que estavam junto de nós, e eu precisava... Eu queria. Enquanto me denunciava ao Telo, este ser mais sensível que habita para dentro de mim, Dante e os outros ficaram em silêncio, após tantas gargalhadas, e nos observavam. Um deles é o novato do grupo, um juvenil, de pele escura, piercing no nariz, metido a rebelde, cujo diz ter matado duas pessoas e assaltado várias no Distrito de Rosa Luz. Por isto, foi detido pelos Protetores. A Caipora deu-lhe 20 anos de serviços forçados, sendo obrigado a trabalhar na construção de empreendimentos urbanos. Eu devo matá-lo? Ainda não sei. Outro é um magrelo com cabelo alaranjado na testa e tossia tanto, que me causava enjoo. Um embasbacado, que ri de tudo. Parecia ligado no máximo. Provavelmente, consumia rapé sintético. Esse me parecia uma boa presa. Também está em análise. A sim! Esse ai... Um inocente de óculos, com sardas nas bochechas... Hum... Deu-me um clímax! Me excitei! Que vontade... Mas espera... Tem mais... O ex-vendedor social. Esse que se diz platino. O seu idioma me fazia querer cortar sua língua de tanto que ela se remexia e se enrolava. Aquele calvo... Embora um homicida, eu quero o melhor! Aquela garota... Isso... Aquela garota me parece apetitosa. Ela parecia me interessar. Com aquela tiara, olhar cintilante e verde. Jovem! Hum... Joellen... Que tesão! Vontade de arrancar-lhe os seios e mutilar-lhe por completo. Por fim, aquele bruto! Qualquer mulher sentiria envaidecida de ter ao seu lado. Grande porte, lábios carnudos, másculo e um sorriso mortal... Dante! Não ousava errar... Era o meu par. Esse não colocaria as mãos. Era o meu homem desde a DTI e sabia me cuidar. Foi meu mentor. Claro! Foi ele quem me prendeu diversas vezes. Ele não...

Estávamos em uma antiga loja de conveniência. Era o acesso à entrada do Metrô de superfície. Em volta havia poucas construções, mas era uma parada com finalidades casuais. Em algumas tivemos acesso e levamos o que podemos levar. Outras, fomos obrigados a roubar de seus donos, cujo houveram dois casos engraçados:

O primeiro, um casal e uma triste garotinha. Eles não ofereceram resistência e pediam apenas para irmos embora, só que o Dante queria a mulher, e o Telo queria impedi-lo. – Nossa Telo! Como você é complicado! Era apenas uma mulher... – Não era apenas uma mulher, Cindy! Era uma mãe! A sua criança... –. – Pare de chorar seu molenga! Dante a queria e eu queria seu homem. A criança era o que sobrou! Eu podia fazer... Era o meu direito de homicida! –

Dante esbofeteou o rosto dele. Aliás, ele me esbofeteou. Eu senti tanta raiva, que me acordei em meio a olhares medonhos! Escuros! Era uma cozinha agradável até... Mas não acalmou minha ira e pude pegar aquela faca. Eu a alisava, a espalmava, ou chame do que quiser... O que eu queria era usá-la para fazer mal a alguém, quando a mulher mandou a criança correr, só que era tarde... Eu fui atrás, e seu marido veio em meu encalço, mas Dante o impediu e grudou-lhe uma barra de ferro nas entranhas de sua mente. Foi escroto mental voando para todos os lugares! Quando vi aquela coloração vermelha misturada a todo aquele excremento que chamam de cérebro, eu ria e bailava com minha faca. Sentia-me tão feliz que poderia alcançar o teto e a pobre criança do Dante o espancava até nada sobrar para contar o que ocorria depois. Mas eu... Eu vou contar...

Sussuro O PrelúdioOnde histórias criam vida. Descubra agora