Wish

alone

A sensação de solidão é bem pior quando se está rodeado de pessoas. Saber que fisicamente tem alguém do seu lado mas ela não se importa o suficiente pra te fazer sentir acolhido.

Michael sentia-se sozinho, pequeno e indefeso. Ele não pertencia aquele lugar, não era quem ele é. Ele só queria sumir e nem se quer havia estado na presença dos Hemmings ainda.

Aquilo era a coisa mais difícil que ele já fez na vida, ver a mãe chorando e ter que se despedir do seu pai, aquilo partiu seu coração de uma forma que ele não achou que pudesse ter conserto.

Michael estava em uma espécie de sala de banho, onde tinha algo que correspondia a uma banheira com água ainda morna. Haviam três mulheres que estavam responsáveis por sua limpeza, que iriam banha-lo, seca-lo e vesti-lo, mas ele dispensou elas no mesmo instante, sentia-se totalmente capaz de tomar um banho sem precisar de ajuda e não se sentiria confortável com alguém o lavando.

Depois de um banho com as lágrimas se misturando a água, ele estava pronto. Iria enfrentar tudo de cabeça erguida, estava ali por seus pais mesmo que eles pudessem o odiar por mais tempo do que ele poderia suportar.

Aquelas roupas eram estranhas e ele sabia disso sem nem ter um espelho para ver seu reflexo. Respirou fundo e passou pela porta, dando de cara com uma garota de cabelos loiros e olhos azuis, era uma criança e Michael se perguntou se ela era irmã de Luke mas as vestes eram tão simples quanto a que Michael usava ao chegar ali.

— Oi. — Clifford disse, já que a garota estava o olhando bem de perto.

— Er... Eu estou aqui para te levar ao encontro da família Hemmings. — A voz infantil da garota preencheu o ambiente, mesmo que ela tenha falado baixo.

— Certo. Então você não é uma Hemmings?

— Não! — Ela fez uma cara estranha, claramente ofendida.

— Meu nome é Michael.

— Eu sei. Elizabeth me colocou para te ajudar a encontrar os lugares dessa... Casa.

— Isso daqui parece um labirinto.

— É de propósito. Bom, me acompanha. — A garota começou a andar, tendo Michael logo atrás.

— Você não é muito nova para trabalhar?

— Eu não tenho muitas habilidades, mas me viro como posso.

Michael entendia muito bem daquela situação, ele mesmo estava tentando se virar a tempos. Não é como se fosse uma opção.

— Eu ainda não sei o seu nome e como acho que vamos nos ver bastante, seria legal saber, poderíamos até ser amigos... Quem sabe.

— Lauren.

Fizeram o restante do percurso em silêncio e Michael sentia como se as paredes o tivessem observando, sentiu que elas guardavam segredos que talvez ele não quisesse descobrir tão cedo. Lauren o acompanhou apenas até a entrada da sala onde o almoço estava sendo servido, onde Michael deveria entrar sozinho.

A primeira pessoa que viu ao adentrar o cômodo foi Elizabeth, na verdade ela era a única sentada a mesa, os demais estavam apenas a servindo.

— Senhora Hemmings, que prazer. — Clifford forçou um sorriso

— Nosso convidado chegou, é uma pena que Andy não esteja aqui mas Luke já foi avisado que deve vir juntar-se a nós.

Calum adentrou a sala indo direto até Elizabeth e sussurrando algo que Michael conseguiu ouvir como "já é a terceira vez e ele se recusa", ela apenas gesticulou algo que Clifford não entendeu, e assim moreno saiu.

— Luke vai chegar em instantes, então nem vou convidar a sentar agora. Apenas espere. — Liz disse simples.

Segundos depois Luke chegou ofegante a sala, era visível que ele tinha corrido até chegar ali, tinha um sorriso enorme no rosto, coisa que fez sua mãe ficar surpresa.

— Oi, eu sou o Luke. — O de olhos azuis disse indo até o de olhos verdes.

— Oi, eu sou o Michael.

Luke abraçou Clifford rapidamente, o que deixou todos ali surpresos. Michael pelo contato inesperado, e os demais por saberem que o Hemmings pouco demonstrava afeição.

— Senta aqui do meu lado, nós vamos almoçar. — Puxou a cadeira para que o outro sentasse, logo em seguida sentou ao seu lado.

— Eu não... — Michael começou mas foi interrompido.

— Primeiro comemos, depois falamos sobre você. — O loiro disse indicando para que ele se servisse.

Aquilo era estranho e desconfortável para Clifford, mas ele não poderia simplesmente levantar e ir embora, até porque não tinha para onde ir.

Só restava estar ali e tentar desempenhar seu papel de companhia agradável, afinal ele foi comprado para isso.