I - Acordado

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    A morte nunca caiu bem a ninguém. Na verdade ela nunca vem em boa hora e nem em boas circunstâncias... A morte é uma praga.


O homem alto olhava para a pedra fria como se pudesse mudar algo apenas por fitá-la, por mais que ele soubesse que nada aconteceria e muito menos que os mortos se levantavam. Ele apenas queria se demorar um pouco mais no descanso eterno da mulher que um dia foi sua esposa, Kim Mirai.

"Mirai, significa futuro... Que ironia mais incabível para o momento." pensou a criatura que observava a distância o homem que se afogava em sua silenciosa tristeza.


Os cabelos curtos e negros do homem triste se bagunçavam com o vento de quase inverno que se fazia ali, os olhos escuros marejados, porém relutantes ainda fixados no túmulo... Ele não estava conformado, preferia que fosse ele ali, não ela. Preferia que o assaltante mascarado jamais houvesse entrado em seu apartamento e disparado contra Mirai. Naquela noite, há dois dias atrás, Kim Seokjin sentiu que perdera uma parte de si ao ver o corpo sem vida caído ao chão e envolto de um sangue vermelho escarlate. Ele não pensou em chamar os policiais, não pensou em uma ambulância, apenas pensou que havia acabado de ficar incompleto...


O assaltante não havia levado nada material, parecia transtornado após o disparo, mas para Seokjin ele havia lhe tomado o bem mais precioso de todo o mundo. Ele tomara a força, a vida e a vontade de um jovem homem de 27 anos que só tinha planos e sonhos ao lado da mulher. A sua melhor parte já não existia mais.


A criatura estranha que espectava tudo de longe resolveu que era hora então. Tinha forma humana, mas longas e surradas asas negras nas costas, o que o tornava de certa forma macabro e talvez intimidador, então resolveu que escondê-las por hora, era o melhor a se fazer. Seus cabelos curtos e loiros não se mexiam muito com o vento, mas ele sentia o frio arrepiando sua espinha apenas por olhar a tamanha tristeza daquele homem. Como um animal espreitando, a criatura foi andando em sua forma mais humana possível até chegar o mais próximo e seguro possível de Seokjin, porém o mesmo não fez menção de olhá-lo, não havia percebido sua presença ali ainda.


— Eu sinto muito. - a voz da criatura era grave, mas também havia um certo pesar e tristeza em seu tom.


Seokjin vagarosamente notou então que ali havia um homem normal, de cabelos loiros, estatura alta, pele branca, olhos verdes e grossas sobrancelhas. Seu semblante também era de luto, mas diferente de qualquer pessoa que estivesse ali naquele cemitério, o homem usava roupas brancas.


— Obrigado. - Seokjin respondeu ao desviar o olhar.


— Era alguém muito importante? - o homem indagou olhando o nome Kim Mirai na lápide.

— Minha esposa. - Seokjin respondeu neutro - Era a melhor parte de mim... - seus olhos marejaram-se, mas ele se recusava a deixar-se ficar tão vulnerável na frente de um estranho.


— Entendo... É uma dor profunda. Também estou me sentindo assim. - respondeu o homem tristonho.


— Perdeu alguém recentemente? - indagou Seokjin.


— Sim... - o homem estranho disse se colocando exatamente ao lado de Seokjin - A mim mesmo.


O rapaz não entendeu o que ouviu, pois para ele não havia o mínimo sentido em tais palavras, mas também não fez questão de pedir explicações, estava envolvido em toda a sua lamuria e em seu luto, não tinha tempo para enigmas.


O estranho o olhou esperando algo, mesmo que soubesse exatamente como as coisas aconteceriam ali. Ele sabia que no final das contas conseguiria exatamente o que havia lhe sido mandado, por isso não pressionou o rapaz. Estendeu a mão como quem se apresenta e disse:

The Time Traveler |  TAEJINOnde histórias criam vida. Descubra agora