XII - Protetora

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Jeon Mirai

"Talvez os olhos não sejam o espelho da alma como dizem. Eu não vi sequer um resquício disso quando o mirei pela primeira vez. Toda sua essência estava concentrada nos movimentos de seus dedos, em sua respiração suave e na forma como ele se permanecia inerte ao mundo em sua volta. Aquela melodia, ela era sua verdadeira alma."
— Quer mais um pouco, Kookie-ah?

— Ora, pare de o mimar tanto, noona! - protestou Hoseok - Ele já comeu mais do que um batalhão inteiro. Além do mais, eu ainda estou com fome. Ofereça para mim! - fez a típica cara de cachorro que caiu da mudança que eu era simplesmente incapaz de resistir.

— Droga, Hobi-ah, não faça isso comigo! - respondi rindo - Você ganhou um jantar inteiro quando foi admitido na Hanyang também.

Eu estava imersa em uma felicidade que não cabia em mim naquela noite, tão feliz que até mesmo esqueci que estava totalmente envolvida com meu trabalho de conclusão de curso e preparei um jantar especial para Kookie. Era muito satisfatório ver que aquele pequeno menino que tomado por um egoísmo e infantilidade por toda sua vida, finalmente havia tomado uma decisão sábia para seu futuro - e para a minha surpresa, ele estava mais do que sorridente por isso.

Talvez nossos pais o tenham criado de forma errônea, muito provavelmente tenha sido isso. Eu, como filha mais velha e sempre pensando a frente, jamais dei trabalho algum, mas o preço alto que paguei por isso foi a responsabilidade de sempre me virar sozinha e me tornar responsável nova demais. Jungkook sempre fora o bebê, o mimado, o incompreendido, mas naquele momento as coisas rumavam para um caminho diferente. Não me contive, tive que preparar seu prato favorito e antes mesmo que o pai e a mãe chegassem de um árduo dia de trabalho, a panela cheia de jjajangmyun já fazia o aroma exalar por toda a casa.

Nós cinco sempre jantávamos juntos na sala de jantar, mesmo que Hoseok não fosse nosso irmão, meus pais o tratavam como um filho, afinal ele havia sofrido muito desde que fora tentar uma vida melhor em Busan com o irmão, mas este era a personificação do próprio diabo. Haneul nunca teve um emprego formal, jamais quis tomar as responsabilidades ou caminhos árduos da vida, sendo assim sua opção viável foi o tráfico. Já me peguei pensando diversas vezes se Jungkook seria o espelho de meu primo.

"Agora isso se tornou um medo distante. Jungkook finalmente se encontrou e isso que importa."

Quando criança, a mãe e o pai costumavam me levar para passar alguns dias na pequena fazenda de meus tios, no mais remoto interior da cidade de Daegu. Eu era apenas uma menina que adorava brincar com os pequenos animais que ali haviam, meus preferidos eram os cordeiros, mas não só me limitava à companhia daqueles seres peludos. Quando chegávamos, de longe eu avistava as quatro figuras na porta da pequena casa, sorrisos carregados e olho expressivos. Os Jung eram sempre receptivos conosco.

O pequeno Hoseok ainda bebê no colo da mãe, assim como Jungkook, meu tio Iseul com seu chapéu de palha velho e a tia Du com os cabelos sempre presos em uma enorme trança que batia na altura de seu busto... Mas a minha ansiedade era sempre por poder brincar e ser mimada pelo primo mais velho que eu alguns anos, Haneul. Ele sempre fora muito educado, engraçado e adorava me levar para os campos onde o tio e a tia plantavam arroz. A companhia de Haneul era a melhor parte dessas viagens.

É uma pena que ele tenha se transformado neste monstro...


— Mirai-ah, me ajude a arrumar a mesa. - papai disse enquanto se levantava.

Yeh, appa. - respondi de pronto.

Os olhos por trás das grossas lentes ópticas do pai tinham um brilho incomum e eu sabia que aquilo expressava preocupação. Jungkook e Hoseok já haviam subido as escadas correndo para a famosa sessão de seus jogos online, deixando apenas meus pais e eu ali na sala de jantar. Notava-se de longe sua mudança repentina de humor ao perceberem que estávamos apenas os três ali e enquanto recolhia os pratos, papai disse:

The Time Traveler |  TAEJINOnde histórias criam vida. Descubra agora