Universo Paralelo

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A medida que o ônibus avançava em direção à faculdade, percebia que o rosto dos alunos expressavam claramente confusão e medo por conta dessa eventualidade misteriosa.
Observando alguns alunos, assim que percebi a pessoa que estava sentada na frente do nosso banco.
Toquei, meio sem jeito, o seu ombro direito. Ela se virou e franziu a testa e depois mostrou um sorriso pelo canto da boca, esperando que eu falasse algo.

Isabella Cecchi é o nome dela. Ela passou as férias viajando pelo mundo com a família. Sempre tive uma quedinha por ela, mas é bem provável que ela nunca descubra.
No momento, ela está bem bronzeada. Louríssima. Se eu não a conhecesse, juraria que era uma modelo sueca, ou uma daquelas cantoras que aparecem de repente na TV, com aqueles cabelos longos, loiro platinado, quase brancos, jeans rasgados, violão na mão e um olhar sedutor.

E então, saindo do transe em que me encontrava, após vários segundos admirando a beleza encantadora que se encontrava na minha frente, perguntei, com a voz meio rouca por conta do nervosismo que se espalhava pela minha espinha:

- O que você acha desse "vírus", ou seja lá o que for, que o pessoal está comentando?
- Fala sério, Miguel... Acredita mesmo nisso? Bom... - Dá uma pausa, passa a língua entre os lábios e olha em volta, como se estivesse procurando as palavras para expressar o que está pensando.
- Eu, pelo menos, não acredito. Sejamos racionais. Como um suposto vírus se espalharia por um bairro inteiro, em menos de vinte e quatro horas? Se uma pessoa estivesse se sentindo mal, ela nem se atreveria sair de casa. Como ela teria transmitindo para outras pessoas? E sem contar que esse bairro é gigantesco; há muitas pessoas. É impossível que a maioria tenha contraído um suposto virus assim, do nada. Vai por mim, é boato.

Faço uma pausa para refletir a respeito dos argumentos dela, tentando não desviar muito nossos olhares.

- Mas então, por que aquelas pessoas estavam todas tão decididas a pararem o ônibus? - digo em voz um tanto quanto elevada, ainda pensativo, não querendo ouvir bem uma resposta.

Mas ela fez questão de responder.

- Miguel, não seja tão ingênuo. Você devia saber que hoje em dia as pessoas fazem de tudo para chamar atenção.

E então, ela se vira para frente, me dando uma última olhada, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, o que faz meus pensamentos sobre tudo e sobre todos pararem para se concentrar apenas nela. Logo percebo a aceleração repentina do meu coração, o que faz outros pensamentos invadirem minha cabeça.

"Que besteira é essa, Miguel? Já se esqueceu de todas a vezes que tentou com outras garotas e se decepcionou? Por que essa sempre tem que mexer com seus sentidos?"

Paro de pensar um pouco, quando sinto a desaceleração do ônibus e vejo várias pessoas se levantando.
Chegamos, finalmente. Eu estava mesmo no mundo da lua.
O corredor do ônibus está lotado, então olho através da janela, e percebo o quão escuro está o céu. Aguardo, inquieto, ter espaço para enfim me juntar ao pessoal, que agora se empurravam e grunhiam freneticamente por conta de alguns pingos de chuva que começaram a cair no teto do ônibus.
Ao me aproximar da saída, próximo a cadeira do volante, olho de relance pro rosto quase enrugado do motorista. Ele parece preocupado, pois olha a todo instante do retrovisor para os alunos, certamente certificando-se se eles saiam todos seguros. Sou o último a sair. Me despeço dele e ele fala algo que certamente iria ficar grudada na minha mente por horas: "Que Deus esteja com vocês!"

Ao chegar na faculdade, sentindo-me bastante sortudo por estar com uma jaqueta de couro, o que fez com que os pingos de chuvas não tivessem feito muito estrago, me deparo com uma cena atípica: a faculdade está inóspita.
Muitos dos que ali estavam, começam a correr em direções diversas, certamente indo de encontro as suas respectivas salas na esperança de encontrar alguém, algum professor, mas em vão.
Ao longe, ouço o barulho do ônibus, que a essa altura, deve estar a meio quilômetro de distância.
Uma menina baixinha tenta falar algo, mas o som agudo de sua voz logo é abafado pelas vozes inquietas dos alunos já expressamente desesperados. Ao perceber aquela cena, um ímpeto repentino cresce dentro de mim e eu grito:

- SILÊNCIO, POXA! UMA MENINA QUER FALAR. MANTENHAM A CALMA. CHEGA DE PÂNICO!

A menina olha pra mim agradecida, pigarrea e diz:

- Se vocês não perceberam, ficarmos desesperados não vai adiantar em absolutamente nada e...

Mas antes que ela pudesse terminar, um menino ao fundo grita sarcasticamente:

- Sério? Devemos manter a calma? Nossa, não acredito que não pensei nisso! Me diz, como você espera que mantenhamos a calma nessa situação?
Temos várias provas para fazer hoje, e quando chegamos na droga do colégio, não tem ninguém! E o pior, meus amigos, fomos alertados sobre o suposto vírus se espalhando pela cidade, ou seja lá o que for isso, mas teimamos e viemos mesmo assim! - ele aplaude, se voltando para o restante dos alunos que lhe observava.

De repente, do meio do pessoal que estava na frente, algo inesperado acontece: Isabella surge com uma cadeira nas mãos, sobe em cima, e começa a falar incrivelmente bem alto para sua voz doce e meiga.

- JÁ ESTOU DE SACO CHEIO DE VOCÊS FALAREM, FALAREM E NAO DIZEREM NADA. AO INVÉS DE PÂNICO, SE MANDEM DAQUI, SEUS TROUXAS. TEMOS CLARAMENTE QUE FAZER ALGUMA COISA A RESPEITO, E SE NÃO FOREM AJUDAR, TRANQUEM A PORCARIA QUE VOCÊS CHAMAM DE BOCA!

Quando, então, Isabella termina de falar, um silêncio invade a sala, e só o que se consegue ouvir são os pingos lentos e agora aterrorizantes da chuva. Logo, um frio se apossa do lugar, como se a madrugada tivesse chegado naquele momento e com ele, um som estridente e horrendo.
Uma jovem chega correndo desesperada. Aparentemente, frequentava a faculdade, mas diferentemente de todos ali, ela estava completamente desarrumada e parecia ter corrido por quilômetros.
Quase que instantaneamente, um menino tira da mochila sua garrafa com água e oferece com a mão estirada a ela. Ela aceita sem hesitar, e sem piscar, toma tudo em questão de milésimos.
Três segundos depois, no entanto, ela começa a vomitar tudo que acabara de tomar, e para o desespero de todos que ali estavam, nos restos do vômito, havia um dedo humano!
Porém, antes sequer que alguém pudesse mencionar isso, ela grita, quase como se fossem suas últimas palavras, pois era como se o fôlego não conseguisse alcançar os seus pulmões.

- Eu só quero viver! Me ajudem! Agh...

Ela começa a chorar, soluça muito, cai de joelhos ao chão, encostando sua cara no chão...

Subitamente, seu rosto muda. Ela não está mais chorando. Pensando bem, ela sequer tem lágrima nos olhos. Os globos oculares, até então brancos, assumiram lentamente uma cor negra, feito duas azeitonas gigantes, tomando conta de toda a retina também.

A menina baixinha, que há pouco argumentava para que ficássemos calmos, mal sabendo do que estava acontecendo, se ajoelha diante dela e acaricia seus cabelos procurando, em vão, encontrar alguma maneira de ajudá-la, no entanto...

A menina baixinha, que há pouco argumentava para que ficássemos calmos, mal sabendo do que estava acontecendo, se ajoelha diante dela e acaricia seus cabelos procurando, em vão, encontrar alguma maneira de ajudá-la, no entanto

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Meu Deus, no que ela está se transformando!? Todos correm desesperados, mas poucos felizardos conseguem escapar da morte. O que está acontecendo?

Apocalipse - Sobrevivência e ExtinçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora