Sétima regra

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Jungkook acordou muito cedo naquele dia. Mesmo que já imaginasse de onde eram os barulhos que ouvia, preferia fingir que não sabia de nada. Permaneceu daquele modo por longos minutos agonizantes, recusando-se a levantar e acabar dando de cara com os pais.

Os dois estavam errados. Por que era tão difícil perceber? Mesmo que não entendesse tudo perfeitamente por ser criança, já conseguia compreender bem que trair a confiança de alguém não era certo. Seu pai havia feito isso, e sua mãe tinha razão ao ficar irritada. Mas ela também estava errada por cometer o mesmo erro, utilizando a própria traição como uma resposta ao pai pelos seus atos.

A conclusão chegava todas as vezes que eles se aproximavam um do outro: xingamentos, ódio sendo despejado para todos os lados, lágrimas e mais desgosto para um com o outro.

Estavam no limite e já não tinha nenhuma solução para um amor jovem e ingênuo que tornou-se velho e venenoso, matando lentamente os que insistiam em alimentá-lo.

Quando a porta do seu quarto foi aberta, Jungkook levantou e sentou na cama, observando seus pais entrarem —  diferente de muitas vezes — juntos e com expressões calmas.

Eles pareciam receosos, Jungkook percebeu; as mãos de sua mãe corriam pelo vestido azul marinho tentando secar o suor das mesmas. Seu pai disfarçava enquanto ajeitava a camisa, mesmo que ela estivesse totalmente adequada.

Querido, precisamos conversar — a mãe do Jeon proferiu baixo, muito baixo. Yuna estava sentindo-se péssima por envolver o filho naquilo. Não queria ter que magoá-lo mais ainda com todas aquelas brigas ilimitadas.

— Papai irá se mudar para uma nova casa, filho — seu pai disse enquanto abaixava-se frente às pernas de Jungkook, apertando o joelho do mais novo fracamente enquanto sorria pequeno.

A separação havia sido a única solução que acharam, e estavam torcendo para que Jungkook conseguisse compreender.

Compreender...

"Meus pais não irão mais morar juntos".

Mesmo que houvesse brigas, mesmo que não ficassem todos os três em um mesmo lugar por muito tempo, mesmo que seus pais acabassem esquecendo que ele era uma criança e que tudo aquilo afetaria-o no futuro, Jungkook não desejava a separação de seus pais.

Amava-os demais, e quando tudo ainda parecia normal, admirava o amor de seus pais. No fundo, sonhava que aqueles tempos passados, não tão velhos assim, voltassem. Mas ali em sua frente, enquanto explicavam como seria a partir dali, Jungkook percebeu que não.

Entendeu que o amor de seus pais não durara para sempre. Entendeu que era raro, muito raro, amar alguém e continuar amando-a por tanto tempo, sem pensar em traições ou em outros sorrisos que não fossem da pessoa amada.

Em sua mente tudo aquilo era errado. Jamais trairia a pessoa amada. E se o amor de seus pais realmente fosse verdadeiro, teria ocorrido um perdão mútuo, e eles tentariam recomeçar. Porque para Jungkook, aquilo era o certo. Seria uma prova de que o amor poderia vencer se os dois desejassem.

Quando sua mãe deixou um selar sobre sua bochecha e saiu do quarto juntamente com seu pai, Jungkook deitou novamente. Acabou dormindo, tendo esquecido parcialmente das dores enquanto sonhava com sua família estabilizada novamente.

Mas assim que acordou, todo aquele desejo dissipou-se como fumaça. Sua vida real não era tão agradável assim. Saiu de casa e foi para fora, observando o jardim com cuidado e mais atenção do que costumava. Afim de esquecer que seu pai iria embora, Jungkook deitou-se na grama fresca. Os raios solares acertavam-o minimamente devido às árvores maiores, e o Jeon suspirou enquanto colocava a costa da mão sobre os olhos.  

Como Ser Um Destruidor de Corações | taekook.Onde histórias criam vida. Descubra agora