O Garoto Solitário

Capítulo 02: Seja bem-vindo.

9 meses de espera, para que algo fosse formado, ou alguém.
Cada célula e detalhe do corpo humano, detalhes esses que se vão se aperfeiçoar com o passar do tempo.
Em meio ao tumulto de gritos e dor, a uma roda de especialistas, alguém começava a gritar.
Não eram gritos de medo, ou de dor. Era apenas um meio de avisar que ele havia chegado. Eu não sei se seus olhos estavam abertos ou fechados, e nem quem foi a primeira pessoa que ele se deparou. No entanto, foi direto para o colo da única pessoa que o amaria incondicionalmente, mesmo que do seu jeito.
Ele sentiu o quão caloroso era estar nos braços de Mary.
Aquele pequeno ser, que uniu Mary e Juan, havia chegado. E ainda que os dois não estivessem mais juntos, estariam unidos, até o fim de suas vidas, pois ambos haviam criado algo, que mudaria a suas vidas para sempre.

Ah, nossa primeira sensação, o primeiro toque, a capacidade de sentir o primeiro cheiro, e a liberdade da temperatura ambiente. Esse deve ser o momento em que todos nós devemos nos sentir livres, uma sensação incrível que nem a memória consegue guardar.
Bem, a maior sensação, apenas o tempo apaga, pois nem a memória segura.
A notícia logo chega, ele havia chegado, e havia pessoas ansiosas pela sua vinda, já outras nem tanto. Mas, isso não importa agora.
O importante, é que ela havia chegado.
Teodora, a mãe de Mary estava naquele lugar cercado de especialistas.
Eu não tenho idade para saber como se chama aquele lugar, mas você, leitor, com certeza sabe. Não é?

Teodora, pegou o seu neto em mãos, o olhou.
Observando cada detalhe, aqueles lisos e escuros cabelos, aquelas pequenas mãos, tão doces e frágeis.
Foi estranho que ao invés de chorar, ele sorriu.
Afinal, por que devemos chorar nos braços daqueles ao qual nos sentimos seguros?
Mary estava abatida e cansada, devido ao ter carregado durante 9 meses uma criança, e tê-la de uma forma normal, bem. Isso deixa qualquer mulher exausta.
E agora, é hora de descansar, e dos visitantes se retirarem. Com exceção do acompanhante é claro, alguém deve passar a noite em claro no fim das contas.
Estando nesse local, sempre nos sentimos recuados com a ideia de "dormir", já que o pensamento nos faz pensar que se fechamos os nossos olhos, algo ruim pode acontecer.
No entanto, tinha dado tudo certo, e todos estavam exaustos, então. Por que não dormir por um tempinho não é mesmo?
Mas tomem cuidado, esse tempinho, pode custar a vida de alguém que acabou de nascer.

Parece que houve uma pequena complicação.
Para alguém que acabou de nascer, uma febre tão alta, resultando em uma convulsão, pode acabar tirando o que acabou de ganhar.

Nunca sabemos o porquê, ou como nós viemos parar aqui, em um piscar de olhos, simplesmente estamos aqui. Será se nós fazemos essa escolha?
Será se alguém nos pergunta se é isso que desejamos?
Ou será, que apenas somos jogados como uma pedra ao rio. Aonde aquele que nos jogou, espera saber se flutuamos ou afundamos.
Muito cuidado pequeno bebê, a sua vida está em risco.
Mas, pelo visto, você está muito bem cercado.
Será se eles vão conseguir te salvar? Ou será que serão eles que irão te matar?
Às lágrimas começam a cair, o coração começa a acelerar, as mãos não conseguem parar juntas, e o suor sobre o corpo. É muita tensão não é?
No entanto, vamos ver, talvez esse bebê tenha mais desejo de viver do que morrer, pelo menos por enquanto.

Tic tac, tic tac
Parece que o tempo resolveu correr, e eu acho muito bom isso. Afinal, quanto mais rápido o tempo passar, logo a história poderá começar.
3 dias se passaram desde a complicação do pequeno e frágil bebezinho. E por sorte, o nosso pequeno guerreiro, mesmo que tão indefeso, conseguiu dizer não a morte.
Isso é até emocionante. Mas não tanto para alguém que teve tanto medo, agora Mary chorava de alegria, e abraçava tanto o seu pequeno tesouro.
Mas, depois de três dias de muito desespero, está na hora de ouvir uma notícia, parece que um especialista vem aí:

- Senhorita Mary? Está na hora de ir para sua casa.
- Já posso ir? Muito obrigado.
- Cuide bem do nosso pequeno amiguinho, ele deu um pouco de trabalho, mas agora está bem.

Às vezes, só precisamos de uma boa notícia para começarmos nossa jornada.
Não importa o quão escuro possa estar, sempre vai vir alguém para dar a você, uma pequena luz, e essa luz, será a esperança.
Eu espero que você tenha percebido, alguém está ausente não é? Mas tudo bem.
Mary e Teodora, junto com o nosso amiguinho, estão felizes indo para casa. E lá fora, alguém os esperava com um carro retrô, e amarelo não era sua cor.

Acho que eu esqueci um detalhe importante
E eu sei que você deve estar se perguntando
Porque eu sei o que você está pensando
Vai em frente
Pode perguntar
Não vai?
Não sabia que você era tímido (a)
Pois bem. O dia, o mês e o ano de nascimento daquele pequeno bebê? Eu sei, isso eu me lembro bem, mas sabe? Eu prefiro não dizer.

Preparem a festinha de boas vindas, porque depois de 9 meses de espera, eu finalmente cheguei.