Pessoas? Sim. Haviam várias, inúmeras pessoas reunidas em um único lugar, vestindo o preto e usando a máscara de tristezas e pratos.
Caro(a) leitor(a) sobre essas pessoas que estavam no velório do Valério? Eu digo algo. Algo que eles não perceberam, seus movimentos e passos, eu os observei desde o dia em que os conheci, até os dias atuais, um mínimo detalhe e movimento sob o ar, a mudança e o ar ao redor. Posso afirmar que há uma união, uma união que os guia sobre seus segredos. Segredos que podem ter mudado eles, de uma forma indeterminada. A verdade é que, dada às circunstâncias e tendo em mãos a motivação certa, qualquer um deles aqui presente poderia ter puxado o gatilho.
Eu logo saí do meu quarto, na verdade do nosso quarto.
Todos estavam vestindo preto, mas eu logo vesti o oposto, e me cobri de branco.
Todos olhavam para mim, eu chamava a atenção de todos. Para ser sincero, eu senti o peso do olhar de cada um, que ali se levantava a cada passo que eu desse.—Sejam todos bem vindos. Obrigado a todos por virem, por favor, vocês já podem sentar-se.—Ao ver minha face próxima ao corpo do meu irmão, isso assustava a todos.—Eu irei começar o velório, com algumas palavras, sobre o V.—Coloca a mão direita em cima do rosto de Valério, e com um olhar endurecedor, ele olhava a todos.—"Valério está morto." E aqui está o rosto dele, sem cor, e sem vida. Em algumas horas sua pele cairá no buraco e então os vermes vão comer cada pedaço de sua pele, a terra irá corroer dos ossos a alma. E ele? Não irá voltar, nem hoje, nem amanhã, e nem nunca mais. E vocês sabem o por que, não é? Todos vocês aqui presentes, vocês sabem por que ele não irá mais abrir a boca? Somente os germes que irão degustar seus lábios e os extinguir. Bom, por que "ele está morto." E sendo sincero, ainda bem que ele morreu.
"Aí meu deus"—Alguém falava.
Com a morte do meu irmão, eu finalmente tenho um motivo, na verdade um bom e excelente motivo.—Alex falava, com lágrimas nos olhos e um sorriso assustador.
"Agora tudo vai ficar...pior."—Alguém sussurrava assustado.
Agora eu posso ver vocês sangrarem. Agora eu posso matar cada um de vocês, um por um. Cortar membro por membro e extinguir a vida de todos vocês. Vão tentar me prender? Tentem, tentem fugir também. Mas, o destino e a conta dele sempre chegam, e aonde isso levará todos vocês? Sempre de volta até mim.
"O que ele está falando?"—Outra pessoa questionava.
"Ele enlouqueceu?"—Alguém sussurrava.
A nossa mãe falava, que os deuses gostavam de brincar. Eles sempre se divertiam com os acontecimentos de nossas vidas, nossas decisões e escolhas. Mas a verdade? É que sempre que um membro de nossa família nascia, os deuses jogavam um jogo. Esse jogo era: Cara ou Coroa. Os dois lado da moeda, eram os nossos destinos. Um deles, poderia ser a loucura e a insanidade e a outra, a grandeza e gentileza. Infelizmente, graças a algum de vocês, eu nunca vou descobrir qual era o lado da moeda do meu irmão, mas eu tenho certeza que vocês irão descobrir qual é o meu. —Aperta o rosto do Valério, com a mão e solta um sorriso ainda mais estranho. Mas nada assustava mais que seu olhar, que era como uma brasa, que pegava fogo a cada momento, como se pudesse queimar tudo que via.
A bala perfurou o seu peito, foi certeiro e proporcional, para atingir e acertar o coração. Como se fosse um cúpido, mas na verdade era um cúpido da morte e não do amor. Vocês se perguntam o quão grande foi a sua dor? Imaginem sentir a cada segundo, lentamente sua vida se esvaziar, e o seu sangue sai para fora de seu corpo, gota por gota caindo em um mar de sangue que se espalhava sobre o branco de seu lençol e sua cerâmica. Seu corpo tremia, suas pupilas da esquerda para a direta, rapidamente indo e voltando, e seus lábios faltando e parando, seu ar estava cortando.
"Pare com isso."—Alguém súplicava.
"Cala a boca!"—Alex gritava.— Sua garganta sufocava e o seu cérebro logo parava. Ele não conseguiu sequer fechar a boca, ou os olhos. Ele estava fraco e não comia, consumido pela tristeza da perda. Mas isso não foi o suficiente não é? Queriam vê-lo sofrer, e o sofrimento dele não parou, vocês aumentaram e aumentaram ainda mais, até não restar mais nada. Apenas um corpo morto, vazio e podre que logo será comido por vermes, abaixo da Terra.—Alex tira uma arma das costas de sua calça, e começa a apontar a todos.—Eu deveria matar vocês, aqui e agora. Não é?— Às pessoas se desesperam.—quem se mexer, quem tiver um único e sequer movimento, vai conhecer o inferno antes que possa piscar.— Alex então ergue sua mão esquerda e direciona a direta, que tinha a arma para a sua mão. Ele põe a boca do revólver em sua mão. E então ele atira.
A bala não atravessa sua mão, mas entra.Eu não sinto dor alguma. Eu apenas queria saber e fazer vocês verem a dor dele.—Reflexivo e em lágrimas, ele diz.—Gotas de sangue começam a pingar no chão.—Sob esse sangue, sob essa "ferida" eu juro que encontrei quem matou o meu irmão, e então eu devolverei a dor, em dez, não. Em vinte vezes mais forte.—Com uma expressão furiosa, ele concluí.—"E isto, é uma promessa."
Logo se inicia o fim do entardecer, o laranja crepúsculo no céu começa a surgir, e logo o escurecer.
Os agentes da funerária chegam para levar o caixão ao cemitério, a tampa do caixão é fechada, e ali se via pela última vez a face dele, a face de V.
Eu calei os prantos falsos, mas ainda haviam faces tristes, outros tentavam esconder sua felicidade com uma máscara de tristeza, mas eu via. Eu via a alegria e o brilho de felicidade em seus olhos, eram esses os primeiros olhos que eu fecharia com às minha próprias mãos.No cemitério, a terra caia por cima de seu caixão, literalmente agora, meu irmão estava lá, onde sempre esteve. "No buraco, no fundo do seu abismo."
Eu assustei todos, com o meu pequeno discurso.
Entrei no meu quarto, e me deitei. Logo eu dormi, e então surgiu uma ligação. Uma ligação que mudaria tudo, absolutamente tudo.
Eram 03h:00m da madrugada, e então, uma voz chiada falava: "O assassino do seu irmão? Ele está no túmulo dele, agora."—Meus olhos choravam sozinhos, eu não controlei.Eu descia a escada da minha casa, e então eu seguia, descendo passo a passo, com lágrimas no rosto, lágrimas que não paravam. O cemitério não era tão longe, era próximo de casa, onde Mary estava.
Eu tinha coragem e ódio o suficiente para andar na rua naquele horário, sozinho. Afinal, eu não deveria ter medo, era o oposto. Os outros deveriam me temer.
Logo eu forçava a abertura dos portões do cemitério, e então eu seguia aquela estrada de tijolos, reto sobre o escuro, várias e várias cruzes e túmulos, eu os desafiava com os meus passos, uma grande cruz ficava no centro a frente do grande sarcófago centralizado no cemitério. E então eu dobrava a direita, passava por mais alguns túmulos e chegava enfim frente ao do Valério. Eu ficava parado lá, não havia ninguém lá, apenas eu. Eu, e uma pessoa de capuz que logo surgia por trás de mim.
Então, eu enxugava às minhas lágrimas.—"Eu consegui."—A pessoa logo ergue sua mão esquerda e puxa o capuz para fora de seu rosto, revelando então a sua face, com isso, Alex fica de frente para aquela pessoa, e então sorri.—"Todos eles acreditam que você está morto, irmãozinho."—Logo, se revela ali, frente a frente a face de Valério e Alex.
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O Garoto Solitário
Teen FictionQuem somos nós? Ou o que somos? O que é a realidade? Ou o que não é real? Nós realmente existimos? Realmente sabemos o que é a "Existência humana?" Nós sabemos o que nos move? Nós guia? Há um livre arbítrio, ou nosso destino? Essa história é de...