Capítulo 07: A Última ligação.

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O que é o dia para você?
O que define um dia bom para você?
Ou qual a sua definição de dia ruim?
"Bem" e "mal", "bom" ou "ruim", o que realmente significa isso?
Como sabemos se realmente conhecemos a definição correta das palavras? Afinal elas foram criadas por mortais, e se no fundo, lá no fundo mesmo, houver algo "a mais" que nós, negligenciamos pelo simples fato de se manter neutro ou ignorante o suficiente ao ponto de não querer expandir a mente e abrir o pensamento para o extenso horizonte.

— Que tolice. Continuar a seguir invicto por um caminho tão desnecessário e oculto. Agir nas sombras do seus sentimentos e contar apenas para si próprio. Essa ideia distorcida de "amizade" e "confiança" é como se jogar em um rio que se encontra repleto de tubarões ou outros animais aquáticos prestes a devora-lo. Sabe, só há dois caminhos, ou você pula e morre afogado, ou morre esquartejado por um tubarão branco.— Assim fala Bruno consigo mesmo, pensando naquele carro vazio.

O motorista do carro levava Bruno ao shopping, e por mais que houvesse apenas eles dois ali, para Bruno não havia ninguém, exceto seu fone. O carro seguia em uma velocidade média, mas ao mesmo tempo, aos olhos de Bruno tudo passava rápido, como um trem vazio que seguia em alta velocidade. Era de noite e o barulho daquela sirene não saia da sua mente, da sua cabeça. E aquele carro não estava totalmente vazio, ele estava preenchido de dor, uma dor enorme. "Socorro", "me ajuda", "não me deixa morrer" e assim se repetia tão rápido quanto um flash, tudo ao mesmo tempo clamava sua mente. Seus olhos estavam fixados, mas preenchidos por lágrimas, por mais sério que tentasse permanecer, não conseguia, ele não conseguia fazer mais nada, apenas observar um mundo que que se desabava, e não lentamente, mas rapidamente. Era tão rápido que ele não conseguia pensar no que fazer ou como agir, ele estava apenas deixando aquele veículo levá-lo, guia-lo para algum lugar, qualquer lugar que fosse.

Chegamos, o total é de $5,25.— Falava o motorista.

Ao efetuar o pagamento, Bruno se retira do veículo e segue em direção ao shopping que está lotado de pessoas, como de costume.
Tanto crianças, quanto adolescentes e adultos. Uma multidão preenchia aquele lugar "naquele dia" e por que? Talvez fosse a estréia de algum filme sobre uma heroína, ou quem sabe poderia ser alguma outra coisa, na verdade eu não sei.
Passo a passo ele começou a dar, sem nenhuma lágrima no seu olhar, apenas a dor em seu lugar, mas com o seu sorriso, tudo podia disfarçar.
No entanto, era uma multidão de pessoas tanto para um lado, quanto para outro. Esquerda, direita, frente, atrás, em cima e em baixo, todos os lugares tinham pessoas, tantas pessoas que Bruno sentia a pressão, ele sentia a perda de seu ar lentamente, sua mão estava trêmula e seu coração altamente acelerado.

—"Precisamos sair daqui, vamos embora."—Voz na cabeça de Bruno.
—Cale-se, sua voz idiota.—Irritado, respondia Bruno a si mesmo.

Ele chegou a praça de alimentação que estava ainda mais lotada.
Compreende a sensação de chegar em um local completamente lotado de pessoas? Pessoas essas que quando você aparece todos redirecionam o olhar para você e é como se o mundo todo caísse sobre você naquele momento.

Vamos embora, por favor.—Falava a voz na cabeça de Bruno.
Eu vou conseguir.—Pensava Bruno, suspirando com seus olhos fechados.

Ele continuou a andar, às pessoas naquela praça de alimentação simplesmente não estavam mais ali, para ele, só havia um único som, o som de seus passos. Havia uma mesa no 3° andar do shopping direcionado a uma incrível vista para o Rio próximo ao shopping, uma mesa no canto com um longo vidro mostrava toda a vista que fez com que seus pensamentos começassem a viajar.
"Controle" ele começou a ter, não havia mais nada ali, apenas a sensação de um turbilhão de meteoros caindo. Mas essa sensação, ela era boa, por mais que fosse trágica, conseguia trazer uma calmaria.

[00h:45m:00s]

Devido ao lançamento do filme que acontecia naquele mesmo dia, também acontecia um show, deste modo o horário de funcionamento do shopping era diferente. Bruno permaneceu em sua mesa, onde lanchou hambúrguer, tomou refrigerante, comeu pizza, salgados, sushi. Ele comeu bastante, quanto mais ele estava triste, maior era sua fome, mais ele almejava comer, era uma compulsão que ele não conseguia parar ou controlar. Isso era a única coisa que ele não conseguia manter o controle. Mas o tempo passava...

[01h:45m:00s]

Enquanto Bruno estava no shopping uma enorme chuva cobria todo aquele lugar, essa chuva fazia seus pensamentos vagarem ainda mais. Às pessoas continuavam naquele evento, evento este que não foi impedido nem mesmo por uma forte chuva. No entanto, este horário, algo acontecia do outro lado da cidade.

[02h:45m:00s]

Bruno permaneceu sentado naquela mesa ouvindo música e pensando, durante todo o tempo. E então, exatamente neste horário, sua música acabará por ser interrompida. Uma ligação, um número desconhecido ligava para ele.
Ao atender aquela ligação, sua mão gelou, seu coração parou e tudo havia realmente entrado em um silêncio eterno, até sua mente parou.
Um novo carro chegava, e levava Bruno até o local indicado por sua ligação misteriosa, e o carro seguia, o motorista falava, mas ele não respondia, imóvel e com o olhar fixo ele apenas ia, o motorista percebeu lágrimas caindo, e então ele não falou mais nada. Apenas continuo a levar aquele garoto, naquela enorme chuva, ele acelerou e foi o mais rápido possível ultrapassando todos os sinais e não respeitando as regras de trânsito, pois o motorista não sabia o porquê, mas sentia que ele deveria chegar logo.

—Chegamos. Vá, você tem que ir, não precisa pagar, apenas vá.—Falou o motorista.

Bruno em um estado de choque adentro para aquele lugar, passou pela primeira porta, então passou novamente pela segunda porta e seguiu em direção ao longo corredor vazio, e então dobrou para o lado esquerdo, entrando na primeira porta a frente, e ao atravessar a terceira e última porta, ele pôde ver uma cena que marcaria sua vida para sempre, naquela sala.

—"Você não sabe o valor da vida, no verdadeiro sentido da palavra. Mas quando descobrir..."—Ele se recordava da ligação que recebeu em seu quarto, começando a recuar e olhando fixamente, com sua boca trêmula.

Aguente firme, Mary! Mary!—Pegando Mary no colo, alguém gritava naquela sala.

—"...Aqueles à sua volta morrerão."—Se completava a lembrança de Bruno daquela madrugada. E então, recuando em lágrimas e trêmulo, Bruno gritava alto ao ponto de todos que estavam naquele hospital o ouvissem.

O Garoto SolitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora