Capítulo 11: Aonde está o meu irmão?

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Tão rápido quanto morreu, seu corpo desapareceu.
Não houve o tempo suficiente ou necessário para se despedir de seu corpo. Sim, foi rápido.
Eu não pude observar direito o que aconteceu, só que a terra cobriu.
Logo todos foram pegos de surpresa com a morte do meu irmãozinho.
Eu irei descobrir, eu irei não apenas punir, mas matar quem fez isso com ele.
O Tar me deu forças e motivos o suficiente para queimar todo o mundo, em busca de um único ser.
Agora, eu deveria ir ver aqueles a quem eu achava que tinha um dedo.
Havia pessoas que queriam o bem dele, na mesma proporção que havia pessoas que queriam matar ele, e outra pessoa matar o meu irmão? Eu nunca iria permitir isso.
Eu saí, em busca de cada um, um a um.
A vizinhança, tão inútil. Eu comecei pelo mesmo horário onde aconteceu tudo. Às 11h:45m da manhã, e não havia ninguém na rua? Isso é quase impossível.
Mas, era verdade. Ninguém, sequer um fofoqueiro inútil pode ver ou ouvir nada que me ajudasse.
Cada nome, eu listei e busquei.

Durante três dias, fora de casa, sem parar eu busquei.
No entanto, nada eu tive.
Fui até seus poucos amigos, que certamente sabiam de algo, mas não queria falar.
Seus poucos amigos? Gaspar e Sophie.
Sua família? Juan, Vanessa, Alberto e Daniely.
Patrícia já havia partido, há anos atrás.
Seus amigos de infância? Dessa casa, os seus vizinhos, Carlos e Isabel. Eu já não sabia o que havia acontecido com eles, e não os encontrei.
Sim, eu definitivamente busquei em todos os lugares, mas nunca o encontrei.
Falei com poucos, e os poucos que falei, não consegui nada.
Afinal de contar? O que realmente aconteceu? Quem realmente havia cometido aquilo?
Bom, se eu, como Alex não descubri.
Talvez como meu irmão, eu descobrisse.
Muitas pessoas sempre falavam o quão parecidos nós éramos, então, simplesmente eu deveria trazer meu irmão morto de "volta a vida."

Meus cabelos negros, eu os cortei, e também os pintei, deixei eles brancos. Peguei as roupas do V, e as usei. Muitas pessoas falavam que nós dois somos muito parecidos, ainda que não fossemos gêmeos, era como se fossemos.
Talvez eu não devesse descobrir nada sendo eu mesmo, Alex.
Mas talvez eu descubra sendo o Valério, meu irmão.
Mas a melhor pergunta é: "Por onde eu devo começar?"
Se eu fosse o V. O que eu faria?
Quem eu buscaria?
Quem são seus motivos?
Quais são foram os objetivos?
Quem são os seus porquês?
Você, poderia me dar um conselho não é?
Sei lá, uma dica. Qualquer coisa.
Sim... é verdade! O quarto. Sempre encontramos algo nele. Então, chega de perder mais tempo, não é?
Gavetas ao chão, camisas, calças, moletons, cuecas, bandanas, gorros, tênis, tudo ao chão.
Cartas, bilhetes, fotos, textos eu encontrei.
Uma música? De autoria dele, sim, eu encontrei. Talvez aquele fosse o gatilho, o começo do gatilho que atirou a bala que o perfurou.
Cadernos, desenhos e mais textos...
O telefone dele!
Isso, preciso dele, é tudo o que eu preciso.
Para ser sincero, meus olhos sangravam com cada palavra que eu lia, nunca tinha visto tanta falsidade, tanta hipocrisia, e principalmente, tanto arrependimento.
Vão sentir falta? O interessante é, que quando ele mais precisou, vocês estavam por aí, se deleitando em seus prazeres e vontades, e depois sempre com desculpas e mais desculpas. Vocês são tão inúteis, foram uns bostas absolutamente.
Não importa, não tenho tempo para isso, para deixar minha raiva ferver meu sangue e guiar meus pulsos, ainda não.
Preciso reunir ainda mais ódio, o suficiente para guiar não somente meus punhos, mas todo o meu corpo, toda a raiva se tornar o puro ódio.

Eu esperei por tempo o suficiente.
Haverá um evento, aonde certamente aqueles que eu busco estarão lá.
São exatamente 18h:45m. Bom, eu devo me arrumar, se bem me recordo, meu irmãozinho sempre amou se atrasar.
Eu buscava a roupa favorita do meu irmão. Seu óculos retangular, sua camisa de manga longa, sua calça jeans rasgada e seu All Star. Eu estava absolutamente todo de preto, como um verdadeiro gótico. Mas faltava um detalhe pequeno, sua camisa xadrez preta com cinza carregada na mão direita.
"Eu estou pronto."—Eu respirava fundo, e pensava.—Na verdade, com meus olhos fechados, eu buscava alguma força, sabe? Aquilo era difícil. Mas eu era aquele que tinha mais força, era eu a verdadeira razão do meu irmão ter tanta força.

[19h:30m.]

Perfeito. Meia hora de atraso. Chegou a hora de aparecer, de verem que não conseguiram, ou melhor, de acreditarem.
Eu cheguei no local do evento, era no shopping da cidade. Ele geralmente reunia diversas pessoas, diversos rostos conhecidos, multidões de pessoas.
Sim, era perfeito. Eu podia facilmente me locomover na multidão. E assim eu fiz, eu me aproximava dos rostos que eu conhecia, que eu já havia visto próximos ao meu irmão, por fotos e pessoalmente.
Imediatamente, eu os chamava a atenção, e então logo eu era engolido na multidão.
Permaneço agora no segundo andar, observando para baixo o olhar de dúvida, medo, aflição.
Como você se sentiria ao ver alguém que morreu?
Seria um susto não é mesmo? É claro que sim!
Mas ainda não é o suficiente.
Em festas, ou até mesmo eventos, facilmente às pessoas levam celulares e postam em seus Storys do IG, Status do WhatsApp e etc.
"Clic"—Uma foto da multidão do evento, eu tirei.
Enviar ao status? Mas com certeza.
Logo o número de visualizações crescia, acomodando pelas respostas, dúvidas, medos, sustos.
Isso na verdade era muito bom, sentir a agonia dos outros, seus medos tomando forma, seu arrependimento corroendo.
Sim, do segundo andar, eu via a agonia de cada um, cada olhar, chegava a tremer às mãos ao ver o próprio celular.
No entanto, algo muito estranho aconteceu naquela noite, naquele lugar, naquele evento...
Toda a música parou, de repente por problemas técnicos.
Aquele lugar tumultuado, absolutamente tinha sido consumido pelo mais alto volume do "silêncio."
Naquele momento, 5 telefones começaram a tocar, incluindo o meu mesmo, sem ser o do meu irmão.
Havia chegado um SMS.
Todo o meu corpo não apenas paralisou, ele congelou totalmente, me faltando todas às minhas forças, automaticamente, eu me tremia por inteiro.
Os outros quatro estavam separados, mas eu pude ver a mesma reação vinda deles.
Aquele número era estranho, eu não o conhecia, mas aquele SMS era mais conhecido que qualquer outra coisa.
Eu soube que no exato momento em que eu comecei a ler, os outros 4 também leram em sincronia junto comigo, na mente, e bem baixinho. Eu sabia, que o fim havia começado, quando aquele SMS chegou.

"Eu ainda estou aqui seus tolos. E eu estou vendo tudo.—V."

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