Capítulo 08: 9102-30-51

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Em nossas vidas, há um dia, um único dia inevitável em nossas vidas. E infelizmente esse dia sempre chega. Às vezes ele demora, e às vezes ele vem o mais rápido possível.
Nós, mesmo sabendo dá idéia de que ele é real e que virá em algum momento, nunca estamos realmente "prontos"para ele.
"Perder" alguém importante na nossa jornada em vida, é algo que infelizmente não há cura, ou superação. A realidade é que, alguns realmente conseguem superar, ou se iludem com a ideia de superação. Mas outros? Outros não, eles não superam. Mas, apenas aprendem a viver ou existir com aquela dor, a dor da perda.
Leitores, eu escrevo e notifico a vocês de que infelizmente houve uma perda na jornada do nosso autor. Talvez neste momento eu esteja em lágrimas por ele. Mas, uma hora ou outra nosso "Adeus" sempre chega.
O mundo pode dar várias voltas, ou então ter vários ciclos, mas, no fim, tudo se resume unicamente ao "Adeus."
A dor da despedida é real, mas a dor da perda a torna ainda mais real.

Antes de retornar a sua casa para que ele desse a notícia do ocorrido, ao ver a cena que marcou sua vida. Ele saía correndo do hospital indo em direção ao moro ali próximo. Ao chegar no moro de onde se avistava a cidade quase inteira, ele ficou lá imóvel. Sentindo a chuva que caia sobre o seu corpo, ouvindo os estrondos de trovões, relâmpagos que descarregava de uma nuvem a outra, e os raios que sob a superfície tocava. Com toda aquela forte chuva que caia, ele se permaneceu naquele moro, observando e tentando entender e até mesmo aceitar o que havia acontecido.
A grande chuva marcou a perda deste dia, desde a madrugada até o fim da tarde, sem parar aquela chuva caia sobre a cidade, sobre aquela casa, sobre a cabeça de Bruno. "Como lidar com isso?" Infelizmente não há uma resposta específica.
Logo ao amanhecer, onde nascia um Sol que trazia lágrimas ao invés de sorrisos, a chuva cessou temporariamente em um intervalo de 10 minutos.
Esses 10 minutos foram decisivos, 10 minutos estes que trouxeram prantos e dor, gritos e falta de "crença" no que ouviam.

Sim. Aconteceu.—Respondia Bruno, em lágrimas.

Todos choravam, alguns eram mais fortes, outros buscavam sua força no colo de outros e assim, o apoio e carinho era passado uns com os outros. No entanto, é normal que em dias pesados como esse, é também ganhar um balde de água fria na cara, pois nessa situação, se reúnem pessoas que você acreditava ter morrido com o passado, ou ter ido para longe, crente de que jamais iria rever, novamente. Mas, é hora de encarar essas pessoas, agora mais do que nunca.

Bruno entrava em seu quarto, sem rumo, em choque e em lágrimas. Na sua face perdida, a única coisa que conseguia compreender era aquelas lágrimas, lágrimas que emanavam dor, muita dor. A situação de Bruno estava fora do controle, e era pesada. Tanto que ao adentrar em seu quarto, ele sequer percebeu quem o esperava no canto escuro.

Como vai maninho?—Com uma voz triste, questionava.
Você veio...
—Assim que eu soube, vim imediatamente.

Aquele que estava no canto então se aproxima de Bruno e o abraça fortemente. Seu abraço acolhedor acolhe sua dor, e juntos eles compartilham a perda daquela que deu aos dois, a vida.

Eu estou aqui agora. Vamos lidar com isso juntos ok?
—Alex...—Sussurrava Bruno, apertado ainda mais Alex, tornando seu abraço ainda mais forte.
V, temos que ir. Temos que ir lá para fora, devemos encarar e aceitar isso, logo...—Com lágrimas em seu rosto, com seus lábios trêmulos, falava Alex.

De mãos dadas, apoiados um no outro, os irmãos saíram do quarto e foram até a sala, onde normalmente acontecia o velório. Silêncio e dor, não havia mais nada ali, se não isso, eram as únicas emoções que preenchiam aquele local. Durante todo o momento, os dois irmãos não largaram a mão um do outro, e então ambos foram para o lado de sua avó, Teodora, e lá, próximo ao corpo, permaneceram os três, juntos.

O tempo foi passando e a chuva começava a cessar, deixando apenas respingos de sereno. Já estava na hora de levar o corpo ao lugar aonde deveria descansar.

Parou de chover. V, você consegue. Eu sei que você consegue, eu acredito em você, está na hora.—Falava Alex para Bruno.

Então, Bruno retirava o corpo de sua mãe, Mary, do caixão, em lágrimas, e em seus braços ele a levava para fora da casa, com Alex ao seu lado. Lentamente os dois irmãos seguiam, juntos.
Essa cena chocou algumas pessoas, que se perguntavam o que os dois estavam fazendo e sem nenhuma resposta, eles seguiram, andando e andando. Sem questionar, alguns apenas seguiam os dois, até que a grande maioria começou a ir atrás, os dois irmãos a frente, com Mary nos braços de Bruno, ao lado de Alex, juntos eles levaram o corpo de Mary até o cemitério, a pé. Era uma distância média, nem tão perto, nem tão longe. Não sei de onde vinha toda aquela força para aguentar aquele tempo todo, ela apenas veio, e assim foi.
Ao chegarem lá, Bruno colocou o corpo de Mary novamente no caixão. E logo se iniciava a última despedida, as rosas começavam a cair, juntamente com a terra e o último adeus, lentamente.
Alex vê que ali se escurece o céu, o seu céu. Onde já não haveria mais sua lua, a lua que lhe deu a vida, percebendo ele que naquela cova não seria enterrado apenas a sua mãe, como também a sua Lua. Às lágrimas de Alex aumentavam, sua pulsação acelerava, suas mãos estavam ainda mais trêmulas, e sua visão se distorcia lentamente, até que seu corpo parava e ele caia, e ao mesmo tempo, caia junto Bruno.
Ambos os irmãos desmaiaram juntos. Mas, antes de ficarem inconscientes, por mais difícil que seja acreditar, seus pensamentos foram o mesmo, o último:

—"Obrigado por tudo que fez, agradeço, mesmo que do seu jeito. Eu amo você, mãe. E amo muito, muito mesmo. Um dia, nós nos reencontraremos novamente. Adeus, Lua do meu universo."—Em sincronia, este foi o último pensamento de Alex e Bruno.

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