OLHO FIXAMENTE PARA a sepultura à minha frente, enquanto que a fumaça branca escapa dos meus lábios, e se dispersa com o ar. O silêncio da noite produz um som ensurdecedor, e qualquer coisa me faz lembrar daquele dia. Aquele maldito dia. Droga. É melhor eu ir embora. Jogo a bituca do cigarro no chão, e apago com a sola do meu All Star. Flashbacks do mês de setembro invadem a minha cabeça, e quando me viro para o lado eu o vejo. Exatamente como eu me lembrava. Os olhos verdes espreitados e um sorriso ladino na boca. Eu nunca pensei que sentiria tanto a falta de alguém.
— Saudades? — questiona, escorando-se na lápide.
Torço os lábios em uma linha reta e me sento ao seu lado, assentindo.
— Você faz muita falta.
— Por favor, não vá chorar.
Caçoa e eu rio antes de mandá-lo ir a merda.
— Colégio de Elite, huh? Vai virar um daqueles mauricinhos agora?
— Preferia morrer do que ser um filhinho de papai — olho para frente e sinto seus olhos me analisando.
— Como vão as coisas com o Boyce?
Dou de ombros.
— Nós sempre nos odiamos, isso não vai mudar.
— Não deixe isso afetar você. O colégio. — Seu tom de voz é cauteloso. — Seja quem você é...
— Quem é que vai chorar agora? — sorrio de boca fechada, o olhando.
Nós rimos e Brake revira os olhos.
— Não é culpa sua, cara — ele diz com um semblante sério, de repente — o acidente, não foi sua culpa. Você não tem que viver com isso. Não fique se culpando.
Aperto os lábios e sinto um nó na minha garganta. Ele me fita com um olhar calmo e sereno. Mesmo assim, todas as lembranças daquele dia me atingem como uma avalanche.
— Eu sempre vou caminhar ao seu lado, Rae.
Um sorriso tranquilo nasce nos seus lábios, e de repente tudo o que eu vejo não passa de uma data, flores murchas e o seu nome gravado na lápide. Alguns minutos se passam, e por fim, me convenço de que o meu melhor amigo se foi, e isso é para sempre.
[...]
Boyce Raston bate no vidro da BMW, e eu desperto dos devaneios ao perceber que, infelizmente, nós já chegamos. Retiro os meus fones de ouvido e não o olho enquanto saio do carro. Eu sinto ódio. Eu não quero olhá-lo na cara de filho da puta. Desde que Patricia fora embora com outro cara, então somos apenas nós dois. Mas é como se eu sempre estivesse sozinho, porque ele nem ao menos age como a porra do meu pai.
— Esse é um ótimo colégio, e com o melhor ensino do país — ele diz isso fitando o prédio castanho avermelhado à nossa frente.
Reprimindo minha raiva, tento me manter em silêncio. Mas se eu ficasse, não seria eu.
— Não espere que eu vá sair daqui engravatado e me portando como um playboyzinho de merda, porquê não é assim que as coisas funcionam — respondo olhando para ele — nada, ninguém, e nem um lugar vai me mudar.
Ele me fita seriamente, sei que sua vontade é de me socar. Dou um sorriso debochado para ele e pego minhas coisas antes de caminhar em direção ao prédio do colégio. Sinto sua presença atrás de mim, mas eu apenas sigo em frente, e sem olhar para trás.
É uma construção antiga, e ao mesmo tempo muito bem conservada. Foda-se. Poderia ser o lugar mais bonito do mundo, mas nenhum local em que eu esteja obrigado me faz sentir bem ou feliz. Me pergunto como seria se Brake estivesse aqui, e esses pensamentos me trás flashes que eu não gosto de me recordar. Porém, é inevitável. Naquele mês de setembro — numa sexta feira à noite — se soubesse da tragédia que aconteceria — nunca eu teria deixado meu melhor amigo entrar naquele maldito carro.
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Sobre Você E Seu Jeito
Teen FictionVolume 1/2 da SÉRIE L&A DE HISTÓRIA ORIGINAL » 🏅 #1 - IDFC Landon Rae Raston é um jovem rebelde e delinquente do ensino médio. Seu mundo é bipolar, confuso e totalmente vazio. Obrigado a estudar em um colégio interno. Lá, ele conhece Amélia Bridget...