CAPÍTULO 22

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    NOS DESPEDIMOS PELA última vez, e eu volto a me sentar perto da lápide assim que ela vai embora. Encaro o envelope pouco aberto em minhas mãos, e o abro devagar enquanto sinto minhas mãos tremerem. Uma carta da minha mãe. O que diz aqui? Eu quero muito saber, mas tenho receio com o que eu posso encontrar. Em muito pouco tempo eu soube de tantas coisas, e eu sei que ela diz sobre Boyce aqui. Então eu sei que quando eu ler essa carta, tudo o que eu não sei e não imagino irei encontrar aqui. Suspiro pesadamente, segurando a carta dobrada enquanto a olho fixamente.

— Leia logo!

    Olho para o lado, e não me surpreendo quando vejo Cody Brake. Eu sempre projeto sua imagem na minha cabeça, quando estou nessas situações.

— Se eu ler, vou saber de coisas que talvez eu não deva. — Murmuro.

— Leia logo! — Ele repete. — O que pode encontrar? Você está indo embora daqui, vai deixar todo esse passado para trás. Leia e se desfaça dessa angústia. Se desfaça do seu passado, Rae.

    Olhando-o por um tempo, eu me volto para a carta e abro a mesma, começando a ler.

    22 de outubro de 2017, Flórida.

    De todas minhas cartas que enviei para a Flórida, essa você poderá ler, pois Samantha irá lhe entregar pessoalmente. Eu já havia lhe escrito, Landon. Mas pela falta de respostas, suponho que seu pai nunca deixara você ficar com elas. Escrevo com um aperto enorme no meu coração, porque apenas Deus sabe o quanto eu queria lhe ver, falar com você, abraçá-lo. Querido, você é meu único filho. E eu nunca amei tanto alguém como eu amo você. Mesmo estando muito longe de mim. Eu tentei tanto, muito. Eu tentei ir até você. Mas eu estava doente. E bom, eu ainda estou! E se hoje não estou aí com você, eu quero lhe explicar, e deixar tudo muito claro. Eu nunca saí da Flórida porque eu quis! Não. Meu erro foi sim deixar você com o seu pai, mas eu nunca teria as condições que ele tem de poder criá-lo, e eu sinto muito, muito. Não sei e nunca soube como você está, e o que tem passado. Não sei o que pensa de mim, e não vou me fazer de vítima. Filho, eu me arrependo todos os dias, cada minuto e segundo de meus dias por ter deixado-o para trás. Mas era melhor assim! Eu nunca poderia levá-lo comigo para deixá-lo passar as necessidades que eu passei, eu preferia morrer. Mas quando tudo ficou bem, eu tentei voltar. Tentei voltar por você, mas Boyce não me permitiu. Seu pai entrou com uma ordem judicial, e teve toda sua guarda para ele. Não deixou me aproximar, e muitas coisas aconteceram por fora. Enfim, eu tentei Landon. Muitas vezes. Quero que você saiba disso. Você pode me culpar por ser uma mãe desprezível, porque eu mesma penso que sou. Irei carregar essa angústia no meu coração até os últimos dias de minha vida, e parece que isso está cada vez mais próximo. Estou doente, com câncer nos ossos. Osteosarcoma. Tumores na coluna, e na cabeça. Estou escrevendo de um hospital em Los Angeles, e esperando pelo resultado de uma biópsia. Sei que estou morrendo aos poucos, e que infelizmente não poderei vê-lo, por estar presa nessa cama. Então eu quero que você saiba que eu te amo intensamente, e que eu penso em você todos os dias. Eu queria ter visto-o crescer e vê-lo se transformar no homem que você está se tornando. Mas as coisas não ocorreram dessa forma, então eu quero lhe pedir uma coisa, meu filho. Viva. Viva intensamente, seja independente e batalhe por aquilo que você quer. Nunca deixe seu pai ou qualquer pessoa passar por cima disso, ou dizer o que você tem que fazer. Apenas faça! Corra atrás de seus sonhos. E simplesmente, seja você mesmo. Eu te amo, e sempre estarei com você. Mesmo que de longe, mesmo que em outro plano. Eu te amo.

    De sua mãe, Patricia.
    Califórnia.

     Engulo o nó que se formou na minha garganta, depois de ler tudo. Ela morreu com câncer. Minha mãe estava doente, e passou por dificuldades longe de mim. Ela se culpava, tanto quanto eu a culpei um dia. Mas havia apenas um culpado, e eu nunca, jamais o perdoaria. Por mais que tentasse mudar, ou correr atrás de mim. Eu jamais perdoaria Boyce por ter me separado da minha mãe. Jamais.

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