"Era um mundo cheio de sentimentos para os quais eu não tinha palavras."
(Cartas de Amor aos Mortos)13/06/2017, 14h00, Biblioteca de Nashville, Condado do Norte
Arabella arrumava pela décima vez a prateleira de livros novos que haviam chegado na biblioteca em que a mesma trabalhava, seus braços estavam cansados dos movimentos repetitivos que a menina fazia afoita por organizar com precisão os livros. Ela amava o cheiro de livros novos que invadiam suas narinas e rapidamente a faziam recordar a infância onde ela e Lia, sua irmã mais nova, passavam as tardes naquela mesma biblioteca empenhadas em terminar suas histórias para depois irem até uma cafeteria que havia ali perto e pedirem pão de queijo para comerem enquanto seguiam rumo a sua casa.
Lia possuía as madeixas avermelhadas levemente encaracoladas, olhos pequenos e acastanhados. Era mais alta que Arabella e possuía seu corpo esguio, uma personalidade forte e imponente, um coração genuíno e um sorriso terno que a confortava em meio às diversas confusões que ocorriam dentro de sua casa. Lia era apenas dois anos mais nova que Arabella e cursava o último ano do ensino médio em uma escola pública no centro da cidade, e trabalhava em uma floricultura próximo a biblioteca onde Arabella trabalha.
Elas sempre possuíram uma conexão intensa e singela, dentre clichês e ditados populares sobre o amor, Arabella gostava da sensação de saber que o grande amor de sua vida pairava em madeixas beijadas pelo pôr do sol, olhos duros, um coração puro e uma essência poderosa. Sua irmã era seu lar, afinal lar não é sua moradia, mas sim onde seu coração está.
Quando terminou de colocar o último livro na prateleira, ouviu o sino da porta soar avisando-na que havia chegado alguém, caminhou até a direção do balcão que se encontrava em frente a porta onde a mesma ficava caso as pessoas que adentrasse precisassem de algum auxílio em busca de algum livro ou gênero específico.
Quando seus olhos pairaram por entre a porta ficou absorta por alguns segundos na beleza do garoto desconhecido que vasculhava o local com o olhar em busca de alguma informação.
Ele era alto - diga se por passagem, era enorme -, talvez o garoto mais alto que Arabela já tivesse visto, seus cabelos eram dourados, sua pele morena, quase de um tom bronzeado de melanina tão belo que a deixavam estática, seus dedos longos coçavam levemente a nuca em um certo desconforto, seu pescoço possuía tatuagens que enrolavam-se até seus braços expostos em uma camisa preta tão grande que ficava folgada em seu corpo delgado, suas calças também pretas e botas surradas o davam aquele certo ar de garoto rebelde, e conforme seu olhar pairou sobre a garota, ele ia ganhando aquela aura cética e desinteressada, enquanto continuava com suas orbes escuras presas no rosto delicado e tão bonito.
Arabella aproximou-se do garoto e com um tom de voz polido disse:
- Boa tarde, sou Arabella, monitora da biblioteca, você precisa de alguma ajuda?
O rapaz a olhou atentamente e seus braços tatuados ficaram estáticos ao lado do corpo, enquanto o timbre rouco e brando respondeu:
- É, na verdade eu estou procurando alguns livros de filosofia, sabe onde posso encontrar?
Arabella prosseguiu em direção a prateleira dos fundos, e olhou para atrás com um maneio de cabeça chamando-o, quando lhe mostrou a ala onde os livros de filosofia se encontravam, obtendo um sorriso do maior que possuía adoráveis covinhas em suas bochechas, como dois buracos negros que poderiam sugar tudo e todos ao seu redor, mas de uma maneira suave, quase como se em seu subconsciente você estivesse a mercê daquele garoto e implorava para ser puxado em sua órbita. Apesar das tatuagens e vestes marcantes, ele ainda possuía certa calma, um ar jovial, inteligente e encantador.
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Frenesi
Roman d'amour° Em Nashville, a cidade da música, as canções que tu compunha em papéis brancos espalhados pelo teu quarto, conceberam um Frenesi em meu coração ° capa feita por: @homeodour