0.4 As Luzes em Nós

111 17 6
                                    

"Não é sempre que a gente encontra alguém que nos impressione."

             (Minha vida fora de Série)


15/06/2017, 14h00, Green Door, Nashville

- Catelleya, você precisava ver a cara da Arabella quando ele insinuou que ela estava flertando com ele, é sério foi hilário, eu tive uns quatro ataques de risos internos! - Tiny estava pela milésima vez rindo alto fazendo todos ao redor olharem para nós como se fôssemos três extraterrestres invadindo a hamburgueria de Nashville.

- Cat, não é verdade, você tinha que estar lá para ver, eu estava muito brava, não estava flertando! - Eu já estava perdendo a conta de quantas vezes eu explicava a mesma coisa para as garotas da mesa.

- Eu estou rindo tanto que sinto que o milkshake pode entrar por outro canal a qualquer momento! - Catelleya se pronuncia com as bochechas avermelhadas provando que ela estava realmente rindo muito.

Era exatamente duas horas da tarde e eu me encontrava no Green Door, uma hamburgueria muito conhecida de Nashville onde sempre nos reuniamos as quartas-feiras pois, esse era o dia em que os detentores cumpriam meio período de trabalho como punição pelas falcatruas que faziam na escola pública de NT, o que eu nem sequer pensava em reclamar, pois acabava ganhando um dia livre para me divertir com minhas melhores amigas, já que era bem difícil fazer com que Catelleya se reunisse conosco em dias de semana já que a mesma não cursava em Vanderbilt, impossibilitando que nossos encontros fossem diários como acontecia com a Tiny.

Catelleya é a minha melhor amiga desde quando éramos apenas duas pirralhas do ensino fundamental. Eu a conheci no meu primeiro dia de aula quando adentrei na classe e me vi totalmente confusa com tantas pessoas agrupadas gargalhando de uma maneira escandalosa e ocupando todas as carteiras daquela sala. Cat estava sentada na última carteira concentrada em alguma música que tocava em seus headphones pretos enquanto rabiscava em seu caderno, e para minha sorte, o único lugar vago era em frente a menina.

Quando eu parei em sua frente e arrastei a cadeira para poder me sentar, fui recebida com um de seus sorrisos irradiantes de dentes alvos e grandes, seu sorriso parecia transportar a luz do sol para toda aquela sala barulhenta e desorganizada, e eu pude me sentir mais tranquila.
Aquela manhã trocamos figurinhas e dividimos nossos lanches no intervalo e quando fomos até o banheiro, onde eu fiquei observando meu reflexo no espelho, ela simplesmente diz "Ei, pare de arregalar seus olhos enquanto está na frente do espelho, nós já sabemos que eles são bonitos!" e após isso caiu na risada que por sinal era um daqueles risos eufóricos e engraçados que apenas pelo fato de ouvi-lo você se dispunha a fazer companhia daquele som alto e claro, como se fosse algum tipo de crime deixar rindo-a sozinha, e desde então somos amigas.

Eu tinha acabado de chegar na cidade e ela me apresentou tudo, passávamos as tardes jogadas na cama enquanto eu escrevia poemas ridículos no meu caderno extremamente broxante e infantil para o garoto mais velho que eu gostava, enquanto ela passava as tardes ouvindo música alta naqueles fones de ouvido extravagantes e desenhando coisas que somente ela entendia, alguma espécie de mundo imaginário que fazia parte dela. Apesar de estarmos sempre juntas e compartilharmos risadas e alguns segredos e mentiras, havia esse lado que pertencia somente a ela e que eu nunca fui convidada a fazer parte, e mesmo que isso me incomodasse, eu gostava da ideia de poder estar ao lado dela, mesmo sem saber exatamente o que se passava.

Catelleya possuía cabelos negros lisos e eram tão comprimidos finalizando-se no final de suas costas, seus olhos amendoados apesar de muito bonitos possuíam aquele brilho terno, melancólico, quase cintilantes, eram olhos que sempre inundavam. Um par de olhos chorosos e suaves como um sorriso triste, eu nunca deixei de prestar atenção em cada pontada de dor que habitava naquelas íris chuvosas.

FrenesiOnde histórias criam vida. Descubra agora