0.5 Sentindo o Vazio

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 "Bem-vinda ao mundo real. É uma droga. Você vai amar!" - Friends

18/06/2017, 07:00 AM, Universidade de Vanderbilt

Todos em Vanderbilt exalavam um bom humor e uma alegria que naquele momento me invejava, seus rostos estampados por um sorriso e suas conversas ainda mais altas e risonhas me deixavam ainda mais cansada, noite passada eu não dormi mais do que quatro horas e hoje eu poderia ver as consequências de uma noite mal dormida com olheiras arroxeadas ao redor de meus olhos e um humor ácido que mais parecia uma catástrofe combinada com toda a falsa simpatia que todos esbanjavam, mas isso nem me surpreendia, óbvio que toda aquelas ações amigáveis teriam uma razão e a causa disso se dá a um nome: Festival de Música

Condado do Norte ou popularmente conhecida como Music City realizava grandes eventos musicais ao decorrer do ano, e o mais famoso deles era conhecido como o "Festival de Música: Sunrise" onde bandas de diversos gêneros musicais reuniam-se para regar uma noite quente com músicas, bebidas e decorações lindas. Esse evento ocorria na praça principal da cidade e também agregava a fast foods reunidos pela praça para faturarem com a multidão eufórica que todos os anos comparecia para fazer do Sunrise um dos festivais mais comentados da então, Music City.

Nashville sempre foi conhecida como a cidade da música, enfatizando a importância do country no vale, mas não deixando de abrigar diversos cenários sonoros categorizados, e o melhor de se morar em um local tão abrangente quando se trata de algo que me move: A música, era poder participar de todas as festas que Nashville contemplava, mas levando em conta o sono impregnado em meu corpo, nem mesmo o Sunrise era capaz de atingir mesmo que uma pequena alteração em meu humor.

Os pesadelos tem me atingido com maior frequência do que eu gostaria de assumir, todas as noites são regadas com gritos mudos, um frio percorrendo em meu corpo banhado pelo suor enquanto minha mente engrenava em momentos desconexos e assustadores, alguns deles sendo apenas recordações de uma infância agoniante, outros novas adaptações de meus temores, mas todos possuíam o mesmo rosto, a face marcada por linhas cansadas, olhos duros, rugas de tensão em sua testa, e uma fina linha em sua boca que recordava lábios que não estavam acostumados a sorrir, e essa caricatura pertencia a meu pai, o primeiro homem que amei e também o primeiro a me decepcionar. O primeiro homem a me abandonar e deixar meu corpo pequeno e frágil ser embalado por choros convulsivos e não por seus braços que ao invés de trazer a sensação de amparo, traziam a mim apenas a frieza. Suas mãos grandes e fortes que deveriam acariciar meus cabelos enquanto lê histórias sobre princesas e um reino fantasioso, foram mãos que simbolizaram as manchas em tons azuis quase lilases que estavam estampadas pelo corpo de minha mãe. Sua boca que eu sonhara em dizer me amar, apenas cuspiam palavras de ódio direcionadas a mulher que me deu a vida. Seus pés que ao invés de correrem até mim toda vez em que em meus joelhos estivessem ralados por conta da tentativa falha em andar de bicicleta, apenas caminhavam para cada vez mais longe de mim, e percorriam um caminho que eu jamais poderia alcançar. E como se não bastasse toda a mágoa e cicatrizes que ele deixara por meu coração, o mesmo que tão estúpido e cego, ainda o amava. Um amor silencioso, doloroso, temeroso, quase proibido, nunca pronunciado para não presenciar o desgosto da mulher que sempre cuidou-me com tanta dedicação e carinho. Um amor que para mim jamais será alcançado.

Cansada até mesmo para continuar andando pelos corredores da faculdade, apenas me sento em um dos bancos e fecho meus olhos sentindo todo o cansaço vibrar em minhas pálpebras que sutilmente se entregavam ao sono que foi interrompido por uma voz animada, fina e doce.

- Bella, você não vai acreditar no que eu acabei de presenciar!

Tiny me encarava com seus olhos da cor do mel e com um sorriso bonito estampado no rosto.

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