01. Uma péssima notícia.

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-- Filho, o café da manhã está na mesa, já pode descer.

-- Calma mãe, estou terminando de me arrumar.
Mentira!

Eu estava provando uma blusa que minha amiga Luana havia me dado semana passada.
Ela me deu mais pra zoar com minha cara, pois ela diz que sou a "bicha" preferida dela. Mas óbvio, eu sou o único gay lindo da vida dela mesmo.

-- Mãeee -- Gritei após chegar a mesa -- A senhora falou que tinha colocado todo o café na mesa, mas cadê o meu leite? -- Fui sentido a geladeira e a abri.

-- Ah, filho. Acabou ontem e eu não tive tempo de tirar o dinheiro para dar para Janete ir comprar... Toma suco, olha aí na mesa. -- Ela andava de um lado para o outro juntando os papéis espalhado na mesinha ao lado do sofá.

-- Aí mãe, que saco. A senhora sabe que não pode deixar faltar meu leite, que inferno. -- Falei emburrado.

-- Cala a boca e come logo. Se não quiser deixa aí que depois a Janete recolhe. Mas anda logo, eu não posso me atrasar... É um ano pra se arrumar, parece uma mulher.

(Eu era quase uma mulher, mamãe haha). — Pensei.

-- Tá, tá bom. Que saco! -- Comi umas frutas e umas bolachas.

A Janete é nossa empregada (mas a considero como minha segunda mãe). Ao ouvir o comentário da minha mãe me comparando com uma mulher, ela sorriu disfarçadamente. Eu olhei para ela e fiz o mesmo.

Eu fiquei esperando até minha mãe sair com o carro da garagem. Ela que me desculpe, mas confesso que morro de medo de andar de carro com ela. Mas fazer o que? Melhor do que pegar ônibus.

Todos os dias ela coloca as mesmas músicas para tocar. Já estou cansado de ouvir as músicas do Zezé di Camargo e Luciano, Daniel, Leonardo, Bruno e Marrone. Vida de estudante é isso.

Ao som de "É o amooooor, que mexe com minha cabeça e me deixa assim", ela joga um balde de água gelada na minha cara logo cedo, dando uma péssima notícia:

-- Olha, amanhã de manhã sua irmã está chegando pra morar com a gente. -- Soltou.

-- Como assim morar com a gente? A senhora fala isso com essa calma todinha? -- Fiquei inconformado.

-- Óbvio! E detalhe: você tem uma sobrinha agora, já sabe né? Não quero ciuminhos bestas.

-- Putz, não acredito. -- Coloquei a mão no rosto de tanto desespero. -- Vou logo avisando, eu não divido meu quarto com ninguém, está ouvindo?

-- Deixa de frescura, Caio. Se você me fizer raiva troco você de quarto e coloco a Dayana no seu. -- Ela deu uma olhadinha rápida para mim, só pra mostrar um sorriso sarcástico e voltou a focar no trânsito.

-- Genteeee, como assim alguém bota o nome da filha de Dayana? A Yasmin é doente né? Só pode... Credo! -- Fiquei rindo sozinho.

-- Deixa de frescura e se comporta. Vai, desce do carro. -- Ela se despediu com um beijo pra disfarçar a grosseria em me expulsar de seu carro.

Nesse dia eu cheguei na escola super estressado. Fui direto para sala de aula, nem sequer dei bom dia ao porteiro.
Ao chegar na sala, Luana veio logo me perguntar o que havia acontecido:

-- Mulher, tu acredita que eu vou ter que engolir uma irmã e uma sobrinha morando na mesma casa que eu? -- Virei os olhos.

-- Credo, porque isso? Ela num era casada e o marido era dono de não sei o que lá em São Paulo? -- Luana fez uma boa pergunta.

-- Bem pensado... Não sei o que aconteceu, só sei que ela vai ficar um tempo lá em casa, não sei porque. Nem tive coragem de perguntar a mamãe.

-- Pensa pelo lado bom, amigo. Se ela estiver magrinha ainda, dá pra você pegar as roupas dela pra gente ir pras festas.

Rimos ao mesmo tempo. Uma gargalha bem gostosa, mas fomos interrompidos.

-- A piada está boa aí não é senhores? -- O professor falou.

Olhamos um para o outro e rimos novamente.

-- Desculpa, professor. -- Falei.

O dia passou tão lento quanto uma lesma. Na escola foi um saco, com todos aqueles garotos me zoando como sempre. Eu nem ligo mais, sou bicha mesmo e já deixei claro para todos eles. Confesso que foi um alívio, porque nada melhor do que bater no peito e assumir quem realmente é, isso tira todas armas dos homofóbicos.

hoje, uma sexta- feira. Dia de sair escondido e ir para o role LGBTs que tem no outro bairro. Eu amo aquele lugar. Meu Deus!!!

Minha mãe nem sabe que geralmente eu saio nas sextas. Ela sempre chega tarde em casa e vai dormir. A Janete sempre me cobre no dia seguinte quando a mamãe pergunta por mim e eu estou igual uma bela adormecida cheia de resto de maquiagem trancado no quarto.

-- Amiga, você vai chamar o Luiz? Chama Lu, por favor. Ele ta com raiva de mim mas depois que ficarmos bêbado passa, tu sabe.

--- Não sei amigo, ele está todo estranho comigo também.

-- Mas chame, eu vou está bem fofinha hoje. -- Risos

-- Estou indo agora, tchau. Falo contigo pelo whatsapp — Falei correndo pois minha mãe já estava surtando buzinando na frente da escola.

Esse é o horário de almoço dela e me buscar na escola para ela é sagrado, ela no fundo sabe que sou gay, sabe? E acho que por isso ela tenta ser mais presente, mesmo sabendo que não consegue. Indo para casa com ela é até bom, pois assim os meninos héteros da escola me zoam pouco e eu não vou de ônibus no sol. A partes ruim é que uma, eu fico parecendo uma criança para ela. E duas, é que tenho que ir ouvindo Zezé di Camargo e Luciano de novo.
"O dia em que sair de casa, minha mãe me disse: filho vem cá". Esse foi o single da vez. Af.

Em casa costumo fazer absolutamente nada. O máximo que eu faço é conversar um pouco com Janete, falar das minhas aventuras, dos boys que eu fico (alguns casados na nossa rua) Ou então fico dentro do quarto me maquiando e tirando fotos para postar no Instagram. Ah, as vezes jogo lool, eu sou viciado nesse jogo, mulher...

O dia passou tão rápido. A Luana já estava desesperada falando comigo no WhatsApp, dizendo que eu estava atrasado, mas já é uma tradição e ela nunca se acostuma.

"Olá meninxs, tutubom? O meu look de hoje é uma vibe princesinha. Estou aqui com um short jeans claro, uma "brusinha" básica e rosa por dentro da calça. Um cinto brando, um tênis rosa bebê e uma jaqueta jeans clara também... Beijos e estou indo pro rolê da little vale, me encontrem lá."
Esse sou eu me passando gravando stories para o Instagram. — Risos.

Solicitei um Uber e sim, essa parte tem todo um ritual. A Luana sabe disso. Eu sempre fico cancelando quando os motoristas são feios, até encontrar um gatinho. Vai que né?
Finalmente encontrei um bonito, mas nem me deu bola. Também não tô nem aí, hoje é dia de balada e o que não me falta é boy gato para beijar.

Passei pela casa da Lu partimos para o rolê "juntas".

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