04. Sem noção.

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Naquele dia eu aguardei melhorar um pouco e fui para casa.

Já era tarde da noite, e como sempre cheguei quietinho, sem fazer barulho e subi para meu quarto. Tirei minha roupa e fiquei só de cueca. Eu ainda estava em pé quando avistei meu cunhado entrando com tudo em meu quarto.

-- O que tá fazendo aqui? -- Fiquei com vergonha e tapei minhas partes.

-- Desculpa, cara. Me desculpa mesmo. Ainda estou aprendendo a andar nessa casa. É muito grande, pensei que fosse o banheiro. -- Ele falou enquanto a porta se fechava sozinha.

-- Tá desculpado. -- Respondi educadamente. — mas o banheiro fica no final do corredor.

Mesmo após ter recebido a informação, ele ainda ficou um tempo me olhando dos pés a cabeça por alguns segundos e eu morrendo de vergonha. Até que o interrompi.

-- Sim? Vai ficar aqui ainda? -- Usei um tom grosseiro. — Banheiro... Final do corredor... ENTENDEU?

-- Nossa, que legal. Você tem vários posters de bandas de rock. -- Ele avistou meus posters e começou a mexer.

-- Isso foi do meu tempo em que gostava de rock, hoje em dia não gosto mais, mas por favor, dá pra ir? Eu estou só de cueca e quero tomar banho.

-- Relaxa, cara. Somos homens. Não ligo em ver outro de cueca. -- Ele sentou na minha cama, sendo super folgado. -- Olha só que legal essa coleção de bonecos. -- Os olhos dele brilhavam.

-- Me desculpa, mas tenho aula amanhã cedo... -- Falei empurrando-o para fora do quarto.

O que tem de bonito tem de folgando. Que cara sem noção, credo. -- pensei.

Tomei meu banho e fui dormir. Assim acabava meu final de semana. No dia seguinte, mesma rotina. Sair cedo, pegar carona com a mamãe ouvindo Zezé di Camargo e Luciano e indo pra escola.

Mas tinha coisas que havia mudado. O tal do Túlio acorda cedo, come tudo que vê pela frente. Parece que faz de propósito, pois tudo que a Janete faz para mim, ele come.

Dessa vez passa, mas se continuar vou ter que ser grosso. — Pensei.

Cheguei na escola e minha best não estava lá. Como assim? Esperei acabar a primeira aula e liguei para ela. A louca disse que ontem não tinha ido dormir e sim ido pra casa de Mary. Super entendi né, faz parte.

Cheguei em casa e chamei o Luiz para passar a tarde comigo. Avisei para mamãe e para Janete pelo WhatsApp. Por volta das 15 horas, Luiz chegou.
Janete me avisou que o mesmo havia estava me aguardando no andar de baixo. Então desci as escadas e o sem noção do Túlio estava deitado no sofá só de cueca samba canção.

-- Vem, Luiz. Pode subir. -- Falei.

Luiz olhou para Túlio de um jeito estranho e no caminho me perguntou:

-- Quem é esse viado, Caio?

-- Ele não é viado, Luiz! — Sorrir alto — É o sem noção do meu cunhado. Minha irmã fica o tempo todo no quarto com minha sobrinha de quase um ano e ele andando pela casa. Estou odiando isso.

-- Hum! Não é viado mas te deu um encarada estranha quando você desceu.

-- Ele é assim, todo filho da puta.

Entramos no quarto e por costume não fechei a porta. Ficamos jogando video game e nos beijando um pouco. Eu tinha que ter cuidado para não exagerar no sarro e terminar em uma transa muito louca.

De repente, vejo aquele idiota entrando novamente em meu quarto.

-- De novo, Túlio? Porra... -- Fiquei furioso.

-- Desculpa pessoal. Eu errei a porta novamente.

-- Aí você já está com graça né? Será que vou precisar trancar a porta ou pedir para mamãe colocar um aviso na frente do meu quarto? — Falei irritado.

— Calma rapaz, eu pedi desculpa. Prometo que isso não vai acontecer novamente. — Diz Túlio fechamento a porta.

— Nossa, Caio, não acha que foi grosso demais não? — questiona Luiz.

— Eu estou ficando irritado com a presença desse cara aqui. — Digo isso enquanto levanto para trancar a porta.

-- Eu imagino, esse cara é muito estranho mesmo. Tua casa nem é tão grande assim. -- Luiz questionou.

-- Tá vendo? Está ficando insuportável ficar aqui em casa. Mas esquece esse idiota, vem cá. — O puxei pelo pescoço e voltamos a nos beijar.

-- Para, será que ele percebeu alguma coisa da gente? -- Luiz pergunta.

-- Sei lá. Mas se percebeu, foda-se. Devo nada a ele não. -- Respondi.

Então continuamos até ele ir embora. Dessa vez não transamos, por receio que alguém escutar ou perceber algo. Até por que a gente não fazia nada discreto.

A semana passou muito rápido. Eu sempre tendo que engolir as atitudes sem noção daquele idiota. Mas finalmente chegou a sexta-feira tão sagrada.
O meu grupo já sabia a hora que eu iria chegar. Eu estava apenas escolhendo a roupa que iria nessa noite e como de costume, deixei a porta aberta.
Dessa vez ele não tinha desculpa, ele entrou devagar em meu quarto e me pegou gravando meus stories bem menininha para o Instagram.

Eu fiquei sem reação nenhuma. Já era tarde e ele deveria está dormindo igual a todos. Mas aquele idiota fez de propósito.

Ficamos alguns segundos um olhando para o outro. Ele não falou absolutamente nada, até que o mesmo resolveu fechar a porta e ir embora. Corri para tranca-la e fiquei ainda boquiaberto encostado nela.

Pensei: será que aquele idiota vai falar alguma coisa para Yasmin ou para mamãe? Ah, que se foda, se ele falar eu nego e vai ser minha palavra contra a dele.
Desci as escadas em silêncio, mas pude ouvir que tinha barulho de TV ligada vindo do quarto do belo casal. Então tive muito cuidando para sair de casa.

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