QUATRO

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Era domingo. Eu estava exausta por ter dito que arrumar minha metade do quarto em um único dia. E no dia seguinte, teria que começar uma rotina em uma nova escola, na qual eu não conhecia ninguém.
Desci as escadas até a cozinha. Todas já estavam arrumadas tomando café da manhã na nossa nova mesa. Megan contava uma história sobre ela e Jerry para tia Ally.

- Saímos para comer pizza naquela noite. - ela riu ao lembrar do dia.

- Estão juntos a mais tempo do que eu tenho o sonho de colocar silicone. - tia Ally disse, fazendo Sam rir.

- Vai ficar parecendo a Nicki Minaj. - ela disse ainda rindo.

- Nicki Minaj é uma ótima inspiração.

- Bom dia, Alex. - minha mãe falou, enquanto fazia seu café. - O que achou da noite no novo quarto?

- Não foi tão ruim assim.

- Que bom. Megan disse que Jerry propôs uma visitinha nos lugares conhecidos no bairro. Quer ir?

- Não sei se estou afim de sair por aí. - falei pegando minha caneca para também enchê-la de café.

- Não vai dizer que você ficar se recusando a sair? Vai forçar uma depressão? Garota, temos uma nova vida agora. Precisamos ver o que temos por aqui. - não acredito que Megan disse mesmo aquilo.
Tentei ignorar suas palavras que me atingiram um pouco de um jeito bem ruim.

- Eu apenas não quero sair hoje! - me sentei na mesa e fiquei em silêncio.
É claro que todas elas ficaram me olhando de um jeito estranho, mas ignorei. E daí, se eu quiser ficar triste? Eu estou trsite.

- Eu vou - Sam disse alto. - Ainda mais, se tiver alguma pista de skate aqui perto.

- Se todas vocês vão sair, eu vou ficar aqui com a Alex.

- Sério? - perguntei, ao ouvir o que Ally falou.

- Claro. Eu não tenho nada para fazer hoje. É domingo. São dias de descanso sagrado para mim.

- Acho que você deveria estar procurando trabalho - mamãe retrucou, deixando-a com um pouco de raiva.

- Olha só, irmãzinha, eu já disse que vou procurar um emprego assim que arrumasse totalmente a minha vida. Eu sei o que estou fazendo, pode confiar.
O silêncio permaneceu alguns mimtos depois. Nada mais. Mais tarde, após a hora do almoço, Jerry chegou para buscar Megan e Sam para o tal passeio e minha mãe já havia saído para o trabalho extra de domingo, me deixando à sós com tia Ally. Finalmente, um silêncio interior.

- Então, o que quer fazer? Que tal um teste do Buzzfeed para saber de que casa você é em Harry Potter? Tenho certeza que sou da Lufa-Lufa.
A ruiva se jogou ao meu lado no sofá, logo após um demorado banho. Percebi que as pontas do seu cabelo ainda estavam molhados, chamando bastante a atenção.

- Eu já fiz. Sou da Corvinal - disse sem tirar os olhos da televisão.

- Por que não quis sair com suas irmãs? - ela perguntou, depois de um tempo.
Droga, perguntas e mais perguntas. Nada de paz, conclui, mentalmente.

- Vou passar os próximos anos da minha vida aqui. Não preciso sair para conhecer nada hoje.

- Tudo bem. Então, por que não me conta alguma coisa sobre você? Alguma coisa que eu não sei. Tipo, alguma paixão secreta. Precisamos fazer algo para passar o tempo; aqui está tudo um grandíssimo tédio.

- Paixão secreta?

- Sim. Nunca teve uma paixão secreta?

- Bem, sim. - disse, um pouco envergonhada. - No primeiro ano, tinha um cara.

- Hum, conte mais. - ela se empolgou de repente.
Não sei vocês já tiveram uma influência familiar amiga nesse sentido, mas, se não, eu vou logo avisando, é bem estranho. Provavelmente, eu teria que contar esse tipo de segredo pessoal para Ally com mais frequência, já que teríamos a relação tia-sobrinha-amigas mais pressionada agora que moramos juntas. Tia Ally era bem alegre e isso me incomodava um pouco. Só um pouco.

- O nome dele era Luke e jogava no time de basquete maculino. Nada de mais.

- Esportista? Interessante. Atletas são sempre chamativos, garota. Escute o que eu digo.

- A gente conversou um pouco no meio do ano, mas ele acabou se mudando - continuei, percebendo seu olhar fixo no meu rosto. - Mas, eu nem tive tempo de ficar triste, porque assim que ele foi embora, todo mundo descobriu sobre o mesmo ser gay. Como eu disse, foi temporário e sem sentido. Nada de mais.

- Nossa - exclamou Ally.

- Foi aí que eu percebi o motivo do jeitinho, e como ele olhava romanticamente para o Matt Gilbert, do segundo ano. Eu fui uma idiota. - falei, rindo assim como ela.

- Isso não é nada comparado ao fato de que quando eu conheci seu pai, meio que me apaixonei secretamente por ele. E escondi isso da sua mãe por muito tempo. Na verdade, ela nunca soube.

- O quê? Que horrível! - eu disse, imaginando a situação. - E ele desconfiou?

- Não! Eu lembro que sonhei que estávamos casando em uma ilha paradisíaca e quem comandava o casamento era a Kim Kardashian.
Continuamos conversando sobre coisas engraçadas e super aleatórias seguidamente, até uma certa hora da tarde, quando tia Ally arrumou um enorme pote de sorvete que divimos entre nós duas.
- Não sente raiva dele, sente?

- Não. Ele não fez nada de errado comigo - respondi rapidamente, mesmo aquela pergunta me apunhala

- Com nenhuma de vocês três. Embora ele tenha errado feio com sua mãe.

- Posso te contar uma coisa? - perguntei.

- Claro!

- Desde que ele foi preso, eu o vistitei umas três vezes.

- Sério? E como foi?

- Estranho. Ele ficava rindo no início, falando coisas felizes, mas depois ele começava a chorar, pedindo perdão pelo o que fez.

- Sinto muito.

- Ninguém sabe sobre essas visitas. E quero continuar com elas.

- Eu te apoio.

Ouvimos a porta se abrir. Megan, Sam e Jerry haviam chegado super animados, mas Sam estava toda machucada.

- O que aconteceu? - perguntei quase gritando.

- Jerry me amostrou a pista de skate incrível que têm no parque.
Foi demais!

- Vai tomar um banho. Depois conversamos sobre isso. - apontei para seu joelho sangrando. Ela tentou subir as escadas super rápido. - Vocês são impossíveis! - falei à Megan, que me olhava rindo.

× × ×








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