TRINTA E SETE

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Minha mãe e eu não nos falamos até sábado, dois dias depois de nossa angustiante briga. Naquela manhã, eu, Sam e Jerry - que cuidava de minha pequena sobrinha -, tomávamos café da manhã, enquanto tia Ally lia um grande livro sobre parto e gestação (algo que fazia muito nos últimos meses).
Jerry tinha passado bastante tempo conosco ultimamente. Pareceria estranho, se não tivéssemos nos acostumado tão rápido, e já considerássemos ele alguém da família.
Mamãe apareceu na cozinha, usando um vestido amarelo simples que realçava seu cabeço ruivo. Sam foi a primeira a perguntar o motivo do silêncio da mesma:

- Mãe, eu não quero parecer assustada, você está linda, mas... Não precisa trabalhar hoje? - perguntou, enquanto tentava evitar a repreensão.

- Não, hoje não, Samantha - a mulher respondeu, deixando nós surpresos ao não chamar minha irmã pelo seu apelido de sempre. - Eu vou fazer uma coisa diferente. Algo que deveria ter feito há muito tempo.

- Aonde vai? - tia Ally perguntou, fechando seu livro por um segundo.

- Palm Springs - disse simples.
Todos nós olhamos para ela, confusos.

- O... O quê?! - perguntei.

- Eu preciso resolver uma coisa  - ela falou, pegando sua bolsa sobre o balcão.

- Você vai por causo do papai? - questionei novamente.
Ela confirmou, me deixando esperançosa. - Eu posso ir também.

- Não, você está de castigo! E isso é um assunto meu - disse por fim.
Ouvimos a porta se fechar quando ela saiu. Tia Ally me olhou, apreensiva.

×  ×  ×

Minha mãe não ia à casa de meus avós há muito tempo, mas se lembrava exatamente do caminho. Ela não estava nervosa, mas praticamente parou de ter controle sobre si mesma quando meu pai abriu a atendeu naquela manhã.
Então, percebeu que não sabia exatamente o que iria fazer quando eles conversassem.

- Emma? - perguntou confuso.

- Precisamos conversar - ela disse.
Ele assentiu sem nenhum tipo de dúvida, e abriu mais a porta para que ela entrasse.
Meu avô estava na sala, lendo atentamente o jornal, e procurou saber quem estava entrando em sua casa.

- Quem está aí, Hardin? - perguntou, ainda sem tirar os olhos do jornal.
A cor amarela do vestido de minha mãe, chamou sua atenção por trás do papel composto por notícias.

- Richard - ela o cumprimentou.
Ele sorriu carinhosamente. Minha avó surgiu com um avental amarrado na cintura, e com seus grandes óculos de grau presos por uma corinha de pérolas no pescoço.

- Nora, temos vistita - Richard disse.

- Emma? Oi! Como você está, querida?! - minha avó falou, um pouco confusa com sua presença.
Eles sempre amaram minha mãe. Sempre amaram a parte materna de minha família, de um modo geral, mesmo depois da separação de meus pais.
Todos dentro daquela casa, naquela tarde, pensavam que nunca mais iriam estar juntos novamente. Esse era o motivo de tanta tensão.

- Eu... Estou bem, Nora. E vocês?

- Melhores do que nunca - Nora riu, sem graça. - Você... Quer comer algo? Ou beber... Algo?

- Não, eu estou bem - minha mãe disse. - Só... Preciso conversar com Hardin.

- É, tudo bem. Nós... Vamos lá para os fundos - Hardin falou, tomando a frente. - Tudo bem?

- Claro - ela confirmou, seguindo-o até oa fundos.
Hardin acendeu um cigarro, o que incomodou bastante Emma. Ela começou a observar o céu, para não ter que ficar encarando o ex-marido.

- Então, você vai começar a contar o motivo de estar aqui, ou espera que eu descobra assim de repente? - ele perguntou, após uma tragada.
Minha respirou fundo, e finalmente olhou para o seu rosto.

- Nunca conversamos sobre o que aconteceu - ela começou, cruzando os braços. - Eu... Eu achava que estava tudo ótimo entre nós, e aí... Que porra aconteceu, Hardin?!

- Vamos quer mesmo ter essa conversa? Porque eu pensei que você só fosse se ouvir. Ouvir o que está na sua cabeça, e nunca me dar a chance de me explicar - ele falou, olhando para suas mãos de repente.
O cigarro na esquerda.

- Bem, essa é sua chance - Emma confirmou.
Hardin ficou um pouco em silêncio antes de começar.

- A gente não tinha dinheiro, Emma. E tínhamos a Megan... Nossas filhas. Eu não me liguei no momento em que isso se tornou grande. Eu nunca quis  te magoar em absolutamente nenhum dia da minha vida.

- E então, você me deixou com três filhas? Acha isso justo? Eu tive que deixar que levassem minhas coisas, eu deixei minha casa! Tive que suportar minha mãe e seus puxões insuportáveis de orelha da minha mãe, a revolta da Sam. Sua filha acha que ela é só um erro pra você.

- É claro que isso não é verdade - ele corrigiu.

- E agora... Megan se foi. - Emma segurou as lágrimas e sua tristeza. - Alex deve ter te contado. Você não estava lá quando... Recebemos a notícia. A bebê é linda.

Limpou a única lágrima que escorreu pelo seu rosto.

- Me desculpe - Hardin disse baixo. - Me desculpe por tudo. Eu nunca deveria ter te conhecido, e estragado sua vida. Talvez, agora você estivesse melhor - concluiu.
M

inha mãe se aproximou. Ela segurou seu rosto, e olhou diretamente nos seus olhos.

- Isso não é verdade - falou. - Durante os últimos meses, eu achei que nunca iria te perdoar pelo o que você fez, mas eu me senti bem sabendo que estava preso. Eu impedi a Alex de te ver, e me senti horrível. Tivemos um passado, Hardin, e não podemos evitar. Eu sinto muito - ela completou.
Os dois se abraçaram. Era a primeira em vez em anos.

Minha mãe voltou para casa a noite. Ela passou a tarde com meu pai e meus avós, conversando sobre o passado. Estava se sentindo bem pela primeira vez.
Jerry resolvera passar a noite conosco, e assim como nós, ficou apreensivo quando minha chegou em casa.

- Oi - tia Ally disse à ela, assim que a mesma entrou e se sentou em uma das poltronas da sala. - E então, como foi? Parece feliz.

- Bem, foi... Interessante - ela disse. - Hardin e eu conversamos.

- É sério? - perguntei.

- Sim. Nós dois fizemos coisas erradas, e nós dois não soubemos reagir bem. Estamos bem agora, só precisávamos de tempo. Você pode ver seu pai quando quiser, na hora que quiser - ela olhou para mim e depois para Sam. - Vocês duas podem. Prometo parar de beber, e me desculpem por ser uma péssima mãe ultimamente.

- Você não estava sendo uma péssima mãe - falei. - Você mesma disse que do queria me proteger. Eu demorei pra entender, mas está tudo bem. Obrigada, mãe.

- Eu... Acho que quero vê-lo - Sam disse de repente.

- Podemos fazer isso - minha mãe confirmou. - Bem, amanhã eu preciso resolver tudo no trabalho, mas em dois dias, podemos arrumar um jeito de irmos até Palm Springs. Ally também pode ir.

- Ah, eu não sei - tia Ally fungou. - Michael e eu estamos tentando passar mais tempo juntos. Ele está pensando em vender o apartamento e... Quem sabe a gente não investe mais na nossa relação.

- Eca, tia Ally! - Sam exclamou. - Você está grávida!

- Eu não quis dizer desse jeito, miniatura de adulto. Não totalmente  Emma, vê se controla sua filha! - brincou.
Nós quatro rimos.
Minha mãe sorriu para mim. Era primeira vez em muito tempo em que ela estava feliz, e isso me fazia sentir bem.

- E é por isso que eu me sinto bem com vocês - Jerry apareceu, segurando a pequena bebê.

*  *  *

Calor de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora