TRINTA E DOIS

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- Eu... Tive uma ideia. - Barbie se levantou para contar o que havia pensado bem naquele momento.
Nós três estávamos juntos assistindo filmes na minha casa. Ela e Chris decidiram passar um tempo comigo após eu voltar do hospital.

- Que ideia? - perguntei.

- Por que a gente não faz uma festa do pijama. Hoje. Agora - ela disse, tampando nossa visão da televisão.

- Festa do pijama? - Chris riu. - Isso é loucura. Nesse momento. E... Eu nunca participei de uma festa assim. Alex?

- Eu... Acho que por mim, tudo bem - falei, enquanto me ajeitava no sofá. - O que vamos fazer?

- Eu não sei. Pedir pizza, jogar jogos, aproveitar o fato de que sua família nos deixou sozinhos aqui, e fazer algumas coisas malucas.

- Malucas? Que tipo de coisas malucas? - Chris perguntou.

- Alex, sua mãe não têm um armário na cozinha, onde ela guarda as bebidas alcoólicas secretas?

- Sim, mas você não está pensando em abrí-lo, está? - perguntei.

- Sim, querida amiga.

Eu não tentei recusar suas ideias malucas, peguei a chave que minha mãe escondia em baixo de um vazinho de flores no balcão, e abri o armário. Peguei a enorme garrafa de tequila a minha frente.
Eu era a única que sabia o motivo de minha mãe ter um armário de bebidas. Ela comprou todas um dia depois de nos mudarmos definitivamente; uma forma de esquecer o papai, pelo o que eu tinha sacado. Barbie pediu uma pizza alguns minutos depois.

- É a primeira vez que eu jogo pôquer. - Barbie disse, enquanto pegava a garrafa ao seu lado. - Mas que tal deixarmos as coisas interessantes? Vamos apostar.

- Eu não sei. Desculpe, mas eu não cago dinheiro - Chris disse, enquanto olhava suas cartas.

- Vamos começar logo com isso, Morgan - falei, enquanto bebia o uísque do meu copo grande. - Não vou passar. Começo com cinco dólares.

- Eu cubro seus cinco, e aumento dez - ele disse.

- Uh, alguém aqui está bem atacado - Barbie falou.

O entregador chegou quase quarenta minutos depois, quando eu já havia conseguido vinte e cinco dólares de meus amigos no jogo de pôquer.
Assim que Barbie fechou a porta depois de pagar a pizza, ouvimos um barulho alto vindo do lado de fora.

- O que foi isso? - Chris perguntou, se levantando.
Eu abri a caixa da pizza e peguei um pedaço, e corri para me juntar aos dois que tentavam observar algo pela janela.

- O que está acontecendo? - perguntei, mordendo o pedaço em minha mão. - Isso não foi o entregador?

- Não, ele já foi. Acho que veio do outro lado da rua. Sabe qual é a dos seus vizinhos que moram aí na frente?

- Hã... Não muito. Só nos vimos umas duas vezes. São uma família bem estranha, na verdade.

- Ei, ei, ei, está acontecendo algo. Você têm algum binóculo aí? - Barbie se abaixou para observar pela cortina.
Na casa no outro lado da rua, víamos sombras movimentadas, e absolutamente nenhuma pessoa andando pelas calçadas.

- Bem, espere aí. Deve ter algo nas coisas da Sam - falei.
Encontrei o binóculo que Sam usou durante o seu primeiro acampamento de escoteiros.

- Gente, parece que têm duas pessoas se batendo, ou algo assim - Barbie disse, enquanto não tirava o binóculo do rosto. - Eu acho seriamente que deveríamos ir ver o que está acontecendo. Pode ser caso de vida ou morte.

- Barb, espera aí. Não podemos simplesmente se meter na casa das pessoas assim - Chris a repreendeu. - Não é, Alex?

- Bem, eu não quero me sentir culpada por algo ruim ter acontecido - falei.

Após ver a reação desinteressada de Chris, nós três atravessamos a rua, e batemos algumas vezes na porta da casa. Um silêncio estranho se acasalou naquele momento, e alguns minutos depois, a porta de abriu.
A vizinha idosa meio assustadora que eu já havia visto as duas únicas vezes, nos olhou estranho assim que abriu a porta.

- Ah... Oi, então, não nos vimos muitas vezes, mas é que... Eu sou sua vizinha da frente. Moro bem ali. Então, nós ouvimos alguns barulhos estranhos, e achamos que estava vindo daqui - falei.

- Aconteceu alguma coisa? - Barbie perguntou direta.

- Adolescentes idiotas - a velha começou a fazer uma cara estranha, o que fez Barbie agarrar minha mão. - Nada está acontecendo. Voltem de onde saíram! - ela gritou e fechou a porta.

- Puxa, isso foi bem... Rápido.

- Parecia que tinha sangue na mão dela. Você viu? - Barbie perguntou.

- Eu acho que é melhor a gente voltar pra minha casa - falei, apertando mais meu casaco no corpo, por conta do frio, e atravessei a rua novamente, voltando para casa.

Barbie esqueceu tudo que havia acontecido, assim que voltamos. Eu não sabia o que estava acontecendo com minha amiga, e isso estava me assustando mais do que a minha vizinha possivelmente assassina.
Ela bebeu o resto do uísque, e acabou dormindo rapidamente depois.

- Por que será que ela fez isso? - perguntei à Chris, que me acompanhava em uma longa conversa.

- Eu não sei. Acho que ela queria te ver feliz e fazer você se divertir um pouco.

- Isso é ridículo. Eu... Odeio quando as pessoas ficam fazendo besteiras pra tentar me deixar feliz. E eu também meio que prometi à minha mãe que eu não iria beber antes de fazer dezoito anos daqui à duas semanas.

- Duas semanas?

- Bem, é. Mas não é nada demais. Eu não me importo muito com aniversários, principalmente agora.

- Mas eu me importo. Precisamos fazer algo legal. Divertido - ele disse.

- Chris, por favor. Não vamos falar sobre isso agora.

- Tudo bem. - Chris ficou em silêncio após meu pedido.
Eu me deitei no sofá próximo de Barbie e me enrolei no cobertor.

- Chris?

- Oi?

- Eu... Sei tudo que está a acontecendo. Sobre eu e você - falei baixo, sem esperança de que ele não me respondesse.

- Do... Do que está falando? - perguntou um pouco rouco.

- Não podemos... Ficar juntos. Eu estou num momento difícil da minha vida e está tudo muito louco agora. Desculpa. - falei, antes de fechar os olhos e dormir.

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Calor de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora