TREZE

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Um "quase" privilégio de estar internada era o fato de que eu comecei a tomar antidepressivos - responsabilidade de Mônica, a enfermeira maravilhosa. No meu penúltimo dia no hospital aconteceu duas coisas que pessoalmente eram novidades: Um cara baleado no ombro chegou às exatas duas horas da tarde sangrando infinitamente e a segunda coisa, era que eu tive tão esperada conversa com minha mãe. Ela passou o dia todo comigo.

- Trouxe um pedaço da minha lasanha especial - disse tentando conter sua felicidade de estar comigo.

- Achei que o ideal era comer apenas a comida sem sal do hospital.

- Vamos deixar isso em segredo - falou me entregando o pote com um enorme pedaço da lasanha.
Enquanto o olhava fixamente, tive a iniciativa de falar com ela.

- Mãe?

- Sim?

- Eu... Tenho tomado antidepressivos - falei, engolindo em seco, na esperança de que ela não tivesse um surto.

- Como assim?

- Sei que anda super ocupada trabalhando e isso não é sua culpa. Na verdade, desde a prisão do papai, eu tenho me sentido estranha. Triste. Aí de repente, surge a mudança drástica de vida e eu tenho que suportar tudo de uma vez!

- Alex, por que não me contou?

- Eu não sei. Não queria que você se sentisse pressionada. Já está muito ocupada tentando trabalhar e cuidar das três filhas e a irmã adulta irresponsável - me aproximei e a abracei.

- Alex, você acha que não é difícil para mim? Seu pai era o amor da minha vida. Eu o amava tanto que acabei não percebendo o que ele fazia. A verdade é que eu ainda o amo e sofro por isso. Tentei mudar minha rotina de vida, nossa rotina de vida para tentar não pensar nele e em nossas vidas antes de todos os acontecimentos, mas olha só o que aconteceu: minha garotinha do meio agora toma remédios de controle - ela começou a chorar de repente.

- Ei, está tudo bem. Ou pelo menos vai ficar - minha voz estava rouca, pois engoli meus sentimentos pela milésima vez seguida.

- Eu o amo, mas quero que ele vá para o inferno - disse firme.

Suas palavras me deixaram em silêncio. Por um segundo achei que ela não esqueceria todas as suas palavras de amor à meu pai, ditas há alguns segundos.
Ela ainda sente a raiva percorrer em suas veias.

- Megan vai mesmo chegar daqui à dois dias?

- Sim, mas não precisa contar nada à ela.

- Tudo bem. Obrigada.

- E então, o que está acontecendo entre você e o Chris?

- Mãe, para. Você e todo mundo só vive falando sobre essa "coisa" que na real nem existe. Ele está me ajudando desde o início e somos amigos, apenas isso. Só isso!

- Tudo bem. Não vou insistir novamente.

No final do dia, descobri que o cara baleado no ombro havia ficado bem no fim das contas e Maddy e Julie foram me visitar poucas horas antes do fim do horário de visitas.

- Você faz alguma coisa divertida em alguma hora desses seus dias? - Julie perguntou.

- Na verdade, todos os dias de manhã, eu fiquei no corredor esperando alguém chegar morrendo ou algum bebê nascer.

- Irado - Maddy disse rindo.

- O que são todos esses curativos?

- Ah, as enfermeiras tentaram achar minha veia várias vezes.
Foi péssimo.

- Que horrível.

- Como você está sentindo?

- Honestamente, horrível. Não quero voltar para casa e saber que tudo vai ficar na mesma.

- Vai ficar tudo bem, Alex. Pense positivo - Maddy segurou minha mão, enquanto olhava para Julie.

Às vezes, eu não entendia muito bem a personalidade das duas.
Sentia que estariam comigo quando precisasse, mas por outro lado, talvez a Barbie estivesse certa. Talvez elas fossem más influências.

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Calor de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora