Calor de Outono

TRINTA E SEIS

Chris me deixou em casa às oito daquela noite. Minha mãe sempre chegava do trabalho às seis, e assim como ela, tia Ally também chegara da casa de Michael.
Quando me viu entrar aquela hora da noite, ela surtou. Eu não estou falando por falar, ela literalmente surtou. Eu havia visitado meu pai e meus abuelos três vezes, e isso realmente afetara minha mãe.
A desafiei nas duas primeiras, dizendo que ver meu pai não era nada de mais. Desta vez, certas coisas passaram pela sua mente. Ela pensou em como eu visitaria-o tanto, que chegaria ao ponto de querer voltar de vez para Palm Springs, e morar com meus abuelos.

- Eu estou fazendo isso pelo meu próprio bem. Não acredito que você está querendo tirar a única coisa que me tem feito feliz ultimamente! - gritei.
Sam estava sentada no último degrau de cima da escada, enquanto ouvia nossa discussão. Ela estava chateada, é claro, mas no meio dessa história, não estava no lado de ninguém.

- Você sabe o que ele fez. Acreditei que tudo estaria bem se viessemos para Los Angeles, pois sabia que seu pai estaria PRESO. Mas, agora que ele... Eu só quero te proteger, Alex - minha mãe disse.
Ela estava prestes a começar a chorar.

- Me proteger de quê? Do meu pai? Ele pode ter feito coisas pra você, mas eu não deixei de amá-lo, mãe! Eu sei que você está se sentindo a pessoa mais infeliz do mundo agora que a Megan não está mais aqui; sei que quer que eu seja uma ótima irmã mais velha como ela foi, mas... Eu não vou deixar de vê-lo só porque você não quer - eu disse.
Minha mãe ficou em silêncio por um longo tempo. Tia Ally também nos observava um pouco distante.

- Você não vai. Tudo que eu é que você esteja aqui. Eu não quero te perder; não quero ser vista como vilã pela minha própria filha, mas como sua mãe, eu estou te dando uma ordem. Você não vai voltar naquela casa, e não vai se encontrar com seu pai - falou por fim.
Tirou seus saltos pretos, e subiu as escadas. Passou a mão na cabeça de Sam e foi para seu quarto. Tia Ally veio até mim quando eu me sentei no sofá e cobri meu rosto com as mãos.

- Me desculpa - disse, me abraçando. - Desculpa por isso. Sua mãe está se sentindo sozinha.

- Tudo bem - me levantei.
Andei até a escada, mas parei no segundo degrau quando vi que Sam estava ali, séria. Ignorei-a e fui para o quarto.
Alguns minutos depois, Ally decidiu conversar com minha mãe. Ela estava  deitada na cama com uma toalha molhada sobre os olhos.

- Podemos conversar? - Ally perguntou, quando abriu a porta do quarto.

- Não - mamãe respondeu sem tirar a toalha do rosto.
Ally entrou mesmo assim, e rapidamente viu uma garrafa de uísque pela metade, sobre a cabeceira.

- Voltou a beber de vez. Emma... Você não precisa fazer isso - ela disse, sentando na cama. - Sabe, a Alex é uma garota tão boa. Eu entendo que você esteja se sentindo bem mais ameaçada agora que o Hardin está na casa dos Alvarez novamente, mas precisa admitir que também está sendo egoísta da sua parte fazer isso - Ally concluiu, calma.
Minha mãe continuou em silêncio, até que tirou a toalha do rosto, e se sentou.

- O que... O que eu deveria fazer? - perguntou. - Sinto que fiz a coisa certa, mas também parece que eu sou horrível. A Megan se foi. O que eu vou fazer se Alex me deixar agora?

- Emma, ninguém vai te deixar - Ally disse, abraçando a irmã. - Megan pode deixado todos nós, mas ainda está aqui com a gente, e vamos superar isso juntas.

- Acho que eu deveria rever meu pensamento sobre a Alex.

- E o Hardin?

- Quero que ele se ferre - Emma disse simples.

- Acho que você deveria vê-lo - Ally pensou.
Emma a olhou séria.

- Por que eu faria isso?!

- Você precisa conversar com ele. Não pode guardar rancor pelo resto da vida - disse Ally. - Precisa perdoá-lo. Eu não estou falando por falar, é praticamente uma ordem; eu estou grávida, e estou ordenando!

- Não pode mandar em mim; sou mais velha - Emma falou, rindo pela primeira vez.
Apoiou a cabeça no ombro de Ally e pensou por um tempo.

- Lembra do tempo em que eu estava na faculdade, e pensei que não iria conseguir ficar até o final, porque tudo parecia demais pra mim. Mamãe não me apoiava, porque achava que eu estava só fazendo meu drama de sempre. As pessoas me julgaram, mas você estava lá. Emma, ninguém vai te julgar ou criticar se você conversar com Hardin - disse Ally.

- T... Tudo bem - mamãe se rendeu. - Eu vou tentar pensar nisso.

*  *  *

Deitada em minha cama, comecei a lembrar das palavras de Liam. Rapidamente, elas sumiram de minha mente. Não. Não! Relacionamentos não são o meu forte, e muito menos amor e paixões. Às vezes, me sentia super estranha em relação à essas coisas; costumava achar que eu tinha algum problema por não nunca ter me apaixonado.
Quando meus olhos se fecharam por um segundo, senti meu celular vibrando no bolso de minha jaqueta. Rosa me mandara uma mensagem.

"Ruiva, tenho ótimas notícias. Tivemos uma ideia super louca depois que você e seu amigo bonitinho foram embora." / "A propósito, Hannah gostou dele." /  "Sobre nossa ideia: as férias de verão começam em duas semanas, e Amy deu a ideia super louca de TODOS NÓS acamparmos juntos." / "Esperamos que você venha." / "LIAM ESTARÁ LÁ TAMBÉM!".

Eu respondi sua série de mensagens um minuto depois:

"Minha mãe teve um surto." / "Não sei quando vou poder ver meu pai ou vocês; mas ainda sim, eu quero ir." / "Vou fazer o possível."

Ela respondeu alguns minutos depois:

"Você precisa ir. Se for preciso, todos nós iremos até aí no primeiro dia das férias, para fazer com que sua mãe volte atrás."

Eu não disse mais nada. Fiquei pensativa sobre tudo.

*  *  *