Capítulo 3

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Vitória

- Vi... Vitória. – Senti as mãos de Deco balançando meu ombro me trazendo de volta a terra.

- Desculpa. Você falou alguma coisa?

- Tá na hora de voltar pra terra minha pipa avoada, chegamos no seu apartamento. – ele sorriu pra mim com ternura o que me deixou ainda mais culpada.

Tínhamos acabado de jantar no meu restaurante favorito que basicamente era uma tenda meio hippie servindo comida vegana, e no meio de todas aquelas cores e sabores maravilhosos me desliguei do mundo de novo. Isso sempre acontecia perto do Deco, era tudo tão leve e tranquilo que eu esquecia os problemas, obrigações ou Ana Clara e só conseguia ser feliz. Deco não era dor, era leveza e sorrisos o que me fazia querer sempre sua companhia, não curava minha dor, mas tornava ela um pouco mais suportável, quase que esquecida.

Porem quando entramos no carro e eu olhei para o céu lá estava ela, a lua cheia brilhava tanto que era impossível não se lembrar de Naclara. Ela sempre me chamava de Sol, mas não sabia que era minha Lua, meu satélite, tão mais bonita, tão mais pacata e ainda sim tão necessária, a lua não se impõe a ninguém, brilha modesta no céu, hora se escondendo de vergonha, hora encantando apaixonados. Então me perdi na lua e me perdi na minha Princesa.

- Você ficaria muito chateado se eu entrasse sozinha está noite? – Perguntei de cabeça baixa, covarde de mais pra olhar nos olhos do meu "noivo". – É que foram tantas emoções pra uma noite só que está uma bagunça aqui na minha cabeça, estou feliz pra caramba, mas meio bagunçada também.

- Claro minha luz. – Ganhei um carinho na bochecha. Porque ele tinha que ser sempre tão compreensível? – Não vou te impor minha presença e pra ser honesto to cansadão também.

Sorrimos juntos e juntei minha mão a dele. No começo eu procurei um defeito se quer no Deco, pra ver se assim achava a lógica de não ama-lo como a amava. Não fazia sentido pra mim, eu conhecia cada defeito da Ana, cada coisinha que a tornava mais humana, imperfeita e irritantemente teimosa, mas ainda assim amava aquela mulher mais a cada dia. Já o André que mal tinha defeitos, que sempre estava disposto a me dar o que precisava, um perfeito cavalheiro e dono de uma alma de anjo, até conseguiu fazer morada em meu coração, mas meus batimentos ainda eram dela, meu corpo e minha alma ainda pertenciam a ela.

- Desculpa por isso. – Deixei escapar.

- Você não tem que se desculpar por quere ficar sozinha uma noite amor. – A inocência acabou fazendo ele não entender o motivo das desculpas.

- Obrigada então. – Agradeci por mais que aquela noite também.

- Não por isso.

Nos beijamos sem pressa e subi pro meu apartamento, enfim deixando as lágrimas caírem. Aquele apartamento que foi o palco de todos os meus sofrimentos, agora acrescentava mais uma noite de choro a lista. Eu precisava deixar aquele amor por Naclara pra trás, o Deco merecia muito mais de mim e ele me fazia bem. Mas como se deixa de amar sua alma gêmea? Como ir contra o destino e ver Ana como sempre deveria ter visto, só melhor amiga?

Adormeci com essas e milhares de outras perguntas rondando a mente e quando acordei a dor no peito tinha se multiplicado e ido em parte pra cabeça.

- Ótimo. Mais um dia de enxaqueca. – Falei sozinha, habito que acabei pegando depois de morar com Ninha.

Enxaqueca em dia de show era sempre sinal de confusão então fui direto pro banho, se fosse pra ser um longo dia que começasse de corpo e alma lavados não é mesmo? Me troquei e preparei o chá antes de pegar o celular, tinha tantas mensagens que era possível que simplesmente todo mundo decidiu me parabenizar, comecei pelo WhatsApp que era só para família e amigos e sim, tinha ao menos uma mensagem de cada contato, excluindo somente Mike e a que mais me interessava; Ana Clara. Desisti de escrever pra todos e me rendi a enviar áudios, todas as tias, tios e primos, depois todos os amigos famosos ou não, deixando Mainha, Ana Be e Tatinha por ultimo, pra mamãe e Aninha uma mensagem genérica de agradecimento e para Tatinha fui um pouco mais honesta.

- Obrigada Sabra, pode deixar que falo pro Deco que se ele me magoar, graças a medicina você conhece formas muito boas de tortura. – Ri da sua ameaça, até pra ser brava Sabra era nerd. – Mas preciso de um conselho e tu é a melhor pra isso Tatinha. Tu não acha meio precipitado? Quer dizer acabei de completar 25 anos e cê sabe que nem pensar nessas coisas eu pensava. Eu disse sim na hora, mais to tão confusa que nem sei se é mesmo o que quero, cê me entende?

Enviei o áudio passei pra mensagem de Deco, um bom dia simples e desejo de boa sorte pro dia corrido pra nós dois. Por ultimo o grupo do AnaVitória que só tinha eu, Ninha, o Fê e a Isa.

Minha serumaninha (Isadora)
"Bom dia pessoal. Vi parabéns pelo noivado mais uma vez!
Mas bora lá que hoje é dia de correria. O Felipe e eu vamos mais cedo pra campinas a cidade do show de hoje, mas as meninas tem que chegar no mínimo as 13:00 pra começarmos a passar o som."

Meu serumaninho (Felipe Simas)
"Bom dia, bom dia!
Vitória parabéns de novo criança, se precisar de ajuda pra alguma coisa estou aqui.
Mas sobre hoje queria ver se não tem como vocês chegarem mais cedo que isso, to precisando passar algumas coisas e queria a equipe toda."

Eu
"Bom dia gente!
Obrigada viu, mas assim, vocês sabem que não fiz nada a não ser ficar parada e dizer sim né? Kkkk
Fê pode deixar que já já eu pego o carro e vou pra lá. Adoro quando é pertinho assim. Alguém sabe se a Ninha voltou do Rio? Podíamos ir juntas daí."

Tentei não demonstrar nada, mas precisava mesmo falar com ela e uma viagem dessas seria o tempo perfeito. Ainda não sabia bem oque falar, mas até lá decidiria. Abri o áudio que Sabra mandou.

- E quem te entende Vitória? Acho que nem você mesma, talvez só a Ana Clara mesmo. E assim, sobre ser nova tem nada haver, é estranho ver minha irmã mais nova Noiva sendo que estou solteira? Claro que é, mas Mainha era mais nova que tu quando eu nasci então desencana. Mas se tá confusa sobre casar ou não, já é um ótimo motivo pra repensar a resposta. Sei que agora tu é famosa e toda essa frescura, mas ninguém merece casar se não for com o amor da sua vida. O Deco é sua alma Gêmea Vitória? É a pessoa que mais te conhece e entende do mundo? É nele que tu pensa quando tá triste e precisando de colo? – Ela fez um silencio dramático pra eu pensar. As vezes achava que Sabra sabia de tudo que acontecia no meu coração, eu sabia qual era as respostas pra todas aquelas perguntas, mas algo me dizia que ela também. – Se for ele, então só vai ser Vi. Amor é coisa que se sente e não que se sabe maninha. Agora preciso ir trabalhar, alguém da família precisa de um emprego de verdade né. – Ela riu da brincadeira. – Te amo viu passarinha.

Sabra sempre sabia oque dizer, era incrível como ela era a melhor irmã mais velha mesmo a tantos quilômetros de distancia. Respondi agradecendo o conselho e abro o grupo de novo.

Meu Serumaninho (Felipe Simas)
"Achei que o voo dela era bem de manhãzinha, a essa altura já era pra Ana estar aqui em São Paulo.
Isa você pode tentar ligar pra ela por favor?"

Minha Serumaninha (Isadora)
"Claro Chefe."

Plinxesa (Ana Clara)
"Já estou aqui em Campinas pessoal.
Peguei um voo assim que cheguei em Sampa direto pra cá e achei um hotel pra dormir um pouco. Que horas é a reunião?"

Eu
"Você tá bem Ninha?"

Meu serumaninho (Felipe Simas)
"Se a Vitória conseguir chegar a tempo pode ser as 10:00."

Eu
"Consigo sim"

Meu serumaninho (Felipe Simas)
"As 10:00 então Aninha"

Plinxesa (Ana Clara)
"ok"

Ela realmente ignorou minha pergunta? Na cara dura ainda?

Isso só podia significar duas coisas, ou Ana Clara não estava bem e não queria me preocupar ou ela estava brava comigo, porque era isso que ela fazia quando ficava brava, te ignorava até a raiva passar ou você perceber.

Mas eu não tinha feito nada pra deixar ela assim, quer dizer nada a não ser ficar noiva...

Não era a primeira vez que Naclara fazia algo do tipo e as perguntas se arraigavam na minha mente. O fato de ela estar brava comigo sem motivo somado ao discurso de Tatinha me ajudaram a decidir, eu conversaria com Ana Clara, deixaria tudo muito bem esclarecido, no máximo levaria um pé na bunda da minha melhor amiga acabando com nossa carreira, mas quem ligava? Com um casamento (meu casamento) em jogo eu precisava arriscar, precisava de respostas e precisava desesperadamente tirar aquela aliança pesada do dedo.

Levantei desposta a me arrumar pra viajem e arrumar minha vida para o amor. 

Em fim noivaWhere stories live. Discover now