Capítulo 1

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Vitória

Eu tenho um segredo!

Mas um segredo tão intimo e tão meu que nunca contei a ninguém, nem a minha melhor amiga ou a tatinha (que no caso também é muito amiga minha). Desculpa começar um texto tão importante desse jeito, é que venho guardando isso a um tempo e explodiria com um segundo a mais.

Você acredita em amor verdadeiro? Tipo aquele dos filmes com a Julia Roberts ou Sandra Bullock, em que o casal é tão predestinado que nada nem ninguém pode impedir aquele amor? Então, eu acredito nisso desde menina, em amor verdadeiro, destino, duas almas irmãs que foram feitas uma para outra e tals. Mas esse não é o segredo, até porque todo mundo sabe o quanto sou romancista, só que é o principal motivo pra que eu guarde o segredo.

Meu nome é Vitória Falcão e se você chegou até aqui é bem provável que me conheça, quero dizer que já encontrei o amor verdadeiro, a pessoa predestinada a mim e tudo isso que acabei de falar, acontece que meu namorado Deco Martins acaba de me pedir em casamento no meio do show de sua banda. Estava combinado que eu subiria ao palco pra cantar a nova musica, tudo seguia seu curso até que ele ajoelhou no final e pediu minha mão.

Você me diz, "nossa Vitória, você encontra o amor da sua vida, ele pede sua mão assim na frente de todo mundo e você só consegue ficar nervosa?", e é ai que eu te digo meu segredo; André Martins, também conhecido como Deco, não é o amor da minha vida. Ele nunca se quer teve a chance de ser, eu conheci meu destino muito antes de conhecê-lo, eu o amo também, juro que amo, tanto que jamais o faria sofrer por minha causa e por este motivo disse um sim abafado no microfone fazendo todos aqueles fãs gritarem em aprovação. Agora estou aqui, parada em frente ao espelho do camarim esperando o show acabar e pensando "oque foi que eu fiz?".

O Deco é um cara de alma leve, compreensível que ajudou a remendar meu coração, mas ele jamais seria Ninha. Ana Clara era meu destino, minha sina e minha vida, eu sempre soube disso, só que a vida não era como nos filmes, eu não podia ficar com a mocinha no final e aceitava quieta. Um cara legal, que me amava e aquecia o coração merecia uma chance, então nos deixamos levar por aquele relacionamento leve, alias só tínhamos o status de namorados porque as pessoas acabaram colocando. "Deus! Não tínhamos nem aliança por um bom tempo!" Oque agora era inevitável já que eu possuía não uma, mas duas alianças no dedo.

Olhei pra mão mais uma vez sentindo o peso do ouro.

- A Ninha vai me matar. – Pensei alto enterrando o rosto na mão em concha.

Ana Clara sabia que eu já a desejei, claro que sabia, a parte do segredo que escondi é sobre o amor predestinado e tal, eu cheguei a desconfiar de seus sentimentos uma vez, mas acabei tendo que deixar pra lá.

Fazia bem mais de ano que nós duas não dávamos mais nem um beijo se quer, o relacionamento dela era aberto o meu não, eu pregava o amor livre e era a favor de relacionamentos modernos, mas foi difícil aprender a amar o Deco, quem dirá me entregar a mais alguém. Ele aparentemente preferia assim, então seguíamos nós dois.

Eu e Ana sempre ficávamos antigamente, era algo natural pra ela, quando sentíamos vontade não reprimíamos, mas começou a me machucar tanto que cortei usando o namoro como desculpa. Namoro esse que começou só para me ajudar a esquece-la.

- Droga. – Gritei quando fui trocar de roupa e acabei rasgando o vestido.

Droga de coração também. Não sou de reclamar, juro que não, mas porque a frase "sorte no jogo azar no amor" tinha que ser tão certa? No jogo da vida eu estava bem, a carreira a mil, fãs maravilhosos por todos os lados, parcerias de todos os tipos com pessoas incríveis e todo o dinheiro que ganhávamos me ajudava a cuidar de tanta gente que me aquecia a alma. Mas em contra partida eu agora estava noiva do meu melhor amigo e amando minha melhor amiga.

- Vi? – Escutei o Deco me chamar atrás da porta.

- Pode entrar já me troquei.

Ele entrou tão feliz que saltitava a cada passo, sempre um menino com alma de passarinho. Isso era tão injusto com ele também, manter um namoro nessas condições já era ruim, não podia aguentar fazer disso um casamento. Ele merecia mais.

- Deco... – Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa ele me puxou pra um beijo. E eu o amava o bastante pra gostar disso, o beijo dele é um dos melhores que já provei, só perdia pra um em especial.

- Você faz ideia do quanto estou feliz? Posso chamar a mulher da alma mais brilhante de noiva a partir de agora.

- Bobo. – Dei um tapa leve em seu braço ficando vermelha com o elogio. Era fácil amar ele assim, sendo tão parecido comigo, só quem já teve a essência elogiada saberia dizer o quão isso pesa. – Você fica falando essas coisas e eu fico toda encabulada ó.

- Mas você é Vi. A melhor pessoa que eu já conheci sem pensar duas vezes. Por isso te amo tanto. – Mais beijos me fizeram esquecer o mundo.

Ao menos esquecer o mundo até meu celular vibrar avisando mensagem. Olhei pra tela voltando a me sentir culpada.

Plinxesa: (Ana Caetano)

Vi me liga assim que puder.

- Está tudo bem amor?

- Ah! Tá sim. – Corei com a mentira rezando pra ele interpretar errado. – A Ninha me mandou uma mensagem pedindo pra ligar pra ela. Será que aconteceu alguma coisa?

- Ela já deve ter visto alguma coisa sobre a novidade. – Ele acariciou meu rosto enquanto beijava minha mão da aliança. – Faz assim, eu vou me trocar com os meninos enquanto você liga pra ela tá? Depois nos encontramos lá fora, vou te levar pra jantar. Só eu e você dessa vez, prometo.

Ergui uma sobrancelha em duvida.

- Nós nunca saímos sozinhos. – E era verdade.

- Eu sei, mas hoje é um dia especial. Já já estou de volta.

Então saiu me deixando sozinha com a aliança pesando em uma mão e o celular na outra.

- Vamos Vitória, é só uma conversa amigável sobre seu noivado. – Não resisti e fiz careta ao dizer aquilo. Liguei pro contato que já era o primeiro na lista de favoritos e mal começou a tocar quando ela me atendeu.

- É verdade? – Ana Clara perguntou impaciente.

- Oi pra você também Ninha. – Não resisti ao sorriso ao ouvir sua voz, eu nunca resistia. – Aonde você viu?

- Acabo de ver uma foto no insta de algum fã clube. – Podia jurar que ela revirou o olho. – Vi. É verdade?

- Que o Deco me pediu em casamento?

- E que você aceitou.

- Sim Ninha. É verdade.

- Ah! – Ficamos ambas em silencio por um tempo incalculável, sem saber ao certo oque dizer, ela foi a primeira a quebra-lo. – Bom... Meus parabéns então. Eu e o Mike estamos muito felizes por vocês viu.

Mas ela não parecia feliz, podia jurar que só falou de Mike pra esconder alguma coisa.

- Ana, você sabe que... – Não sabia oque iria dizer a ela e nem tive tempo de descobrir já que fui interrompida.

- Vi, desculpa, mas eu tenho que ir agora tá? Estou muito feliz pior vocês solzinho, desejo que seja muito feliz, mas tenho que ir. Desculpa. Tchau.

- Tchau. Um beijo pro... – Escutei a ligação sendo encerrada e olhei para o celular. – Mike.

Por um momento me perguntei se ela realmente estava feliz ou se tinha algo pra fazer. Se tratando de Ana era sempre assim, cada vez mais duvidas que nunca eram respondidas.

Peguei minhas coisas e fui em direção a saída lateral do teatro. Já tive muitas questões na vida e sempre fui bem indecisa, mas eu tinha uma certeza agora, não podia me casar com o Deco amando Ana Clara,então uma das duas coisas teria que mudar.

Em fim noivaWhere stories live. Discover now