Society | Negan [The Walking Dead]

capítulo 3

"Nenhum homem escolhe o mal pelo mal; confunde-o apenas com a felicidade que procura"

– Mary Wollstonecraft

[Tessa]

Poucos dias depois

- Ainda não posso dar-me dar a tais luxos, Ivy - eu riposto, num tom divertido, quando ela constata a falta de estilo das minhas peças de roupa.

Ivy é uns anos mais velha que eu, tem o cabelo curto loiro e é extremamente bem humorada para alguém que trabalha a lavar louça para ganhar em retorno uma miséria. Quando lhe perguntei o porquê de ela não se ter tornado uma salvadora, respondera-me que sempre detestou armas e que para ela era um alívio não ter de lhes tocar.

- Os salvadores podem dar-se a todos os luxos - ela observa, e eu apenas encolho os ombros.

A verdade é que gastar recursos escassos por motivos supérfluos não me parece bem. Não quero perder os valores que o meu pai teve tanto cuidado a ensinar-me. Mas não o digo em voz alta, soaria presumida.

- Quando é que terminas o turno? - eu questiono-a mudando de assunto.

- Ainda falta bastante, como podes ver - ela acena com a cabeça para o monte de louça ainda por lavar da hora do almoço.

- Não tens ajuda? - eu franzo as sobrancelhas.

- Hoje não. É  a folga da Sarah.

- Que merda.

Dizer asneiras: aquilo que não me era permitido perto do meu pai. Ele dizia que isso era extremamente rude e nada digno de pessoas civilizadas. Eu considero que elas dão-me honestidade e formas de me expressar verdadeiramente.

- Pois...

- Tessa - ouço uma voz masculina chamar-me atrás de mim. Levanto-me do balcão e viro-me para a porta, de onde acaba de entrar Nathan. Nathan é um salvador, particularmente próximo de Simon.

- O que queres, Nathan? - eu pergunto-lhe, tendo o cuidado de o chamar pelo nome. É uma forma de cortesia, sem necessariamente ter de ser muito simpática. Ser demasiado simpática traz diversos problemas, tal como ter homens a pensarem que nos estamos a atirar a eles. Cortesia traz respeito. Respeito pode vir a trazer obediência e disciplina.

- O chefe chamou-te. - ele respondo olhando com uma certa repugnância à sua volta.

- Porquê?

- Achas mesmo que ele diz o porquê das suas ordens? Despacha-te mas é que ele não gosta de esperar - ele responde rude e impaciente.

- Vejo-te mais tarde, Ivy. - eu despeço-me dela, que entretanto já voltou ao trabalho.