"Mantém os teus amigos próximos e os teus inimigos ainda ainda mais próximos"
- do filme 'The Godfather II' (1974)
[Tessa]- Que merda é que estás aqui a fazer? - a voz grave de Negan ecoa.
Pedi para ficar com o turno da noite, pois sinto que a minha criatividade aumenta nestas horas. Estou sentada numa cadeira encostada à parede contrária àquela onde estão as celas.
- Não é óbvio?
A minha resposta não parece agradar-lhe, pois semicerra os olhos e não tem aquele seu típico sorriso nos lábios.
- Foi Simon que te deu esta tarefa?
Eu encolho os ombros.
- Eu aceitei.
- Ainda estás chateada comigo. - ele diz e a sua expressão suaviza-se.
- Chateada é um eufemismo. - eu replico, mais na brincadeira do que propriamente a falar a sério. Mas mantenho-me neutra, não querendo que ele achasse que está tudo bem. Está tudo mal. Está tudo péssimo.
Fico surpresa quando ele não sorri com o meu comentário. Permanece com a expressão fechada. E, será? Será que ele se sente algo culpado? Não. Talvez apenas não goste que eu esteja aborrecida com ele. Chateada com ele. Fula!
- O que foi? Aconteceu alguma coisa? - eu pergunto, um pouco preocupada com a sua postura demasiado rígida e expressão séria.
- Nem passaram duas semanas desde que te alvejaram. Vai descansar, Tessa. - ele fala, parecendo cansado. É então que o olho com atenção. Ele está exausto.
- Olhaste-te ao espelho? És tu quem precisa de descansar. - eu contraponho. Tento não expressar qualquer tipo de emoção na minha voz, mas sinto que falhei redondamente.
- Tenho sido benevolente demais. Foi uma ordem, Tessa. Vai. - ele agora fala num tom autoritário. Esquece-se apenas que eu não tenho medo dele.
- O que é que vais fazer? - eu pergunto, ignorando a sua ordem.
- Nada que precises de saber . Saí.
- Não os mates, Negan. Nada do que fizeram merece a morte. - eu agarro o seu braço, quando ele se prepara para se afastar de mim. Ele olha-me de forma estranha.
Refiro-me a Mark e Amber. Os amantes. Ambos foram idiotas ao pensarem que conseguiram ter um caso sem que ninguém acabasse por se dar conta. E as consequências de tal acto? Muito maiores do que os benefícios de viverem escondidos.
Tiro a minha mão do seu braço, e dou um passo atrás.
- Matar? Não estava a pensar nisso mas é uma boa ideia. - ele fala divertidamente, sorrindo.
O meu estômago contrai-se e depois é que percebo que foi uma piada. De mau gosto, mas uma piada.
- Não estou a brincar. Porque é que não os deixas apenas ir? Expulsa-os do Santuário.
- Sabes que eu não posso fazer apenas isso.
- Fá-los desaparecer. Ninguém precisa de saber que os deixaste ir. Nada assusta mais as pessoas do que o desconhecido. A altura dos descobrimentos é um bom exemplo disso: os navegadores temiam passar além do cabo da boa esperança, pois todos os navios que haviam tentado naufragaram, por isso iniciou-se o mito que essa zona era frequentada por monstros que impediam qualquer um de passar por aí. - eu explico, tentando, um pouco desesperada, fazê-lo não matar aqueles dois idiotas. Só depois me apercebo que estou a falar demasiado.
- Tu sabes muitas merdas. - ele comenta rindo-se pelo nariz. Em seguida morde o lábio, maliciosamente. Sinto vontade de beijá-lo, por momentos, mas depois lembro-me do buraco que tenho na barriga e o desejo cessa-se de imediato.
- Então devias começar a ouvir-me mais vezes, ao invés de me contestares a toda à hora. - eu comento, aproveitando a deixa.
- Talvez o faça. Mas não prometo nada. Continuo a ser eu a mandar nesta merda toda.
Eu rio-me, mas ao fazê-lo sinto uma pontada enorme de dor na barriga.
Negan apercebe-se da minha dor, e consigo identificar traços de preocupação no seu rosto.
Ele aproxima-se de mim e agarra-me pelos braços obrigando-me a sentar na cadeira, que se encontra um pouco ao meu lado esquerdo e mais atrás.
- Pensares assim vai ser a tua derrota. - eu comento, soando mais dramática do que pretendia inicialmente.
- Estive a pensar naquilo que disseste no outro dia. - ele diz, mudando de assunto, agora sério.
- Eu digo muitas coisas. Tens de ser mais específico.
- Sobre mudar o sistema. Organizar as pessoas com base nas suas habilidades e trabalhos anteriores. - ele esclarece, captando a minha atenção por completo. Minto se dissesse que não estou surpresa por ele ter andado a pensar naquilo. Por esta altura pensava que ele já se tinha esquecido do assunto, e por isso andava a planear escrever num papel pormenorizadamente um novo sistema para o Santuário.
Sorrio levemente, suficiente grande para ele saber que estou satisfeita mas pequeno o suficiente para dar a entender que ainda falta muito para as coisas estarem ao meu agrado por aqui.
- E?
- Presumo que saibas exatamente o que tens de fazer.
Eu assinto com a cabeça.
- Faz o que tens a fazer. - ele continua e eu sorrio, agora um sorriso de verdade. É adorável vê-lo a vergar-se às minhas ideias. Sei que ele jamais o faria à frente dos outros (seria um sinal de fraqueza), mas é um começo.
Aproximo-me dele e beijo-o, mesmo ao lado da sua boca. Dou meia volta e vou-me embora sem lhe dirigir mais nenhuma palavra.
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Society | Negan [The Walking Dead]
FanfictionTessa foi preparada toda a sua vida para a eventualidade de um apocalipse. O seu pai, devido aos seus recursos económicos, educou-a da forma mais completa possível. Tessa foi ensinada a lutar, usar armas de toda a espécie, sobreviver em ambientes h...