capítulo 14

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"Mantém os teus amigos próximos e os teus inimigos ainda ainda mais próximos"

- do filme 'The Godfather II' (1974)

- do filme 'The Godfather II' (1974)

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[Tessa]

- Que merda é que estás aqui a fazer? - a voz grave de Negan ecoa.

Pedi para ficar com o turno da noite, pois sinto que a minha criatividade aumenta nestas horas. Estou sentada numa cadeira encostada à parede contrária àquela onde estão as celas.

- Não é óbvio?

A minha resposta não parece agradar-lhe, pois semicerra os olhos e não tem aquele seu típico sorriso nos lábios.

- Foi Simon que te deu esta tarefa?

Eu encolho os ombros.

- Eu aceitei.

- Ainda estás chateada comigo. - ele diz e a sua expressão suaviza-se.

- Chateada é um eufemismo. - eu replico, mais na brincadeira do que propriamente a falar a sério. Mas mantenho-me neutra, não querendo que ele achasse que está tudo bem. Está tudo mal. Está tudo péssimo.

Fico surpresa quando ele não sorri com o meu comentário. Permanece com a expressão fechada. E, será? Será que ele se sente algo culpado? Não. Talvez apenas não goste que eu esteja aborrecida com ele. Chateada com ele. Fula!

- O que foi? Aconteceu alguma coisa? - eu pergunto, um pouco preocupada com a sua postura demasiado rígida e expressão séria.

- Nem passaram duas semanas desde que te alvejaram. Vai descansar, Tessa. - ele fala, parecendo cansado. É então que o olho com atenção. Ele está exausto.

- Olhaste-te ao espelho? És tu quem precisa de descansar. - eu contraponho. Tento não expressar qualquer tipo de emoção na minha voz, mas sinto que falhei redondamente.

- Tenho sido benevolente demais. Foi uma ordem, Tessa. Vai. - ele agora fala num tom autoritário. Esquece-se apenas que eu não tenho medo dele.

- O que é que vais fazer? - eu pergunto, ignorando a sua ordem.

- Nada que precises de saber . Saí.

- Não os mates, Negan. Nada do que fizeram merece a morte. - eu agarro o seu braço, quando ele se prepara para se afastar de mim. Ele olha-me de forma estranha.

Refiro-me a Mark e Amber. Os amantes. Ambos foram idiotas ao pensarem que conseguiram ter um caso sem que ninguém acabasse por se dar conta. E as consequências de tal acto? Muito maiores do que os benefícios de viverem escondidos.

Tiro a minha mão do seu braço, e dou um passo atrás.

- Matar? Não estava a pensar nisso mas é uma boa ideia. - ele fala divertidamente, sorrindo.

O meu estômago contrai-se e depois é que percebo que foi uma piada. De mau gosto, mas uma piada.

- Não estou a brincar. Porque é que não os deixas apenas ir? Expulsa-os do Santuário.

- Sabes que eu não posso fazer apenas isso.

- Fá-los desaparecer. Ninguém precisa de saber que os deixaste ir. Nada assusta mais as pessoas do que o desconhecido. A altura dos descobrimentos é um bom exemplo disso: os navegadores temiam passar além do cabo da boa esperança, pois todos os navios que haviam tentado naufragaram, por isso iniciou-se o mito que essa zona era frequentada por monstros que impediam qualquer um de passar por aí. - eu explico, tentando, um pouco desesperada, fazê-lo não matar aqueles dois idiotas. Só depois me apercebo que estou a falar demasiado.

- Tu sabes muitas merdas. - ele comenta rindo-se pelo nariz. Em seguida morde o lábio, maliciosamente. Sinto vontade de beijá-lo, por momentos, mas depois lembro-me do buraco que tenho na barriga e o desejo cessa-se de imediato.

- Então devias começar a ouvir-me mais vezes, ao invés de me contestares a toda à hora. - eu comento, aproveitando a deixa.

- Talvez o faça. Mas não prometo nada. Continuo a ser eu a mandar nesta merda toda.

Eu rio-me, mas ao fazê-lo sinto uma pontada enorme de dor na barriga.

Negan apercebe-se da minha dor, e consigo identificar traços de preocupação no seu rosto.

Ele aproxima-se de mim e agarra-me pelos braços obrigando-me a sentar na cadeira, que se encontra um pouco ao meu lado esquerdo e mais atrás.

- Pensares assim vai ser a tua derrota. - eu comento, soando mais dramática do que pretendia inicialmente.

- Estive a pensar naquilo que disseste no outro dia. - ele diz, mudando de assunto, agora sério.

- Eu digo muitas coisas. Tens de ser mais específico.

- Sobre mudar o sistema. Organizar as pessoas com base nas suas habilidades e trabalhos anteriores. - ele esclarece, captando a minha atenção por completo. Minto se dissesse que não estou surpresa por ele ter andado a pensar naquilo. Por esta altura pensava que ele já se tinha esquecido do assunto, e por isso andava a planear escrever num papel pormenorizadamente um novo sistema para o Santuário.

Sorrio levemente, suficiente grande para ele saber que estou satisfeita mas pequeno o suficiente para dar a entender que ainda falta muito para as coisas estarem ao meu agrado por aqui.

- E?

- Presumo que saibas exatamente o que tens de fazer.

Eu assinto com a cabeça.

- Faz o que tens a fazer. - ele continua e eu sorrio, agora um sorriso de verdade. É adorável vê-lo a vergar-se às minhas ideias. Sei que ele jamais o faria à frente dos outros (seria um sinal de fraqueza), mas é um começo.

Aproximo-me dele e beijo-o, mesmo ao lado da sua boca. Dou meia volta e vou-me embora sem lhe dirigir mais nenhuma palavra.

Society | Negan [The Walking Dead]Onde histórias criam vida. Descubra agora