capítulo 6

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"Estamos surdos?
Continuamos a varrer tudo para debaixo do tapete
Achei que podíamos fazer melhor do que isso
Espero que possamos
Tão confortáveis, estamos a viver numa bolha
Tão confortáveis, não conseguimos ver o problema"

- da música 'Chained to the rhythm' (Katy Perry)


- da música 'Chained to the rhythm' (Katy Perry)

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[Tessa]

2 semanas depois

- Tens de deixar pelo menos vinte centímetros de espaço - eu dou instruções a Daryl, um prisioneiro. Consegui fazer com que Negan o dispensasse para ajudar no trabalho da plantação e manutenção da nova horta, e, sendo honesta, ele é um dos melhores trabalhadores. Apesar de não se vergar à vontade de Negan em dizer ser 'Negan' ao invés de 'Daryl', obedece sempre às minhas instruções de forma silenciosa.

Ele acena com a cabeça em resposta ao meu pedido, e prossegue o seu trabalho sempre em silêncio.

- Toma. Precisas de energia. - eu passo-lhe uma sandes embrulhada em papel. Sou discreta ao fazê-lo, pois sei que não é suposto alimentar um prisioneiro fora de horas. Principalmente Daryl em específico. Pelo que ouvi, ele é um prisioneiro particularmente difícil.

Ele olha-me desconfiado, como que a analisar a minha verdadeira intenção, mas aceita o embrulho. Afasto-me dele, dando-lhe espaço, e indo ter com outros trabalhadores para os ajudar.

- Dwight. O que é que estás aqui a fazer? - eu franzo o sobrolho ao avistá-lo a dirigir-se a passos largos em minha direção.

Ele faz-me sinal para eu afastar-me, para pudermos falar em privacidade. Eu sigo-o.

- Espero que a tua visita signifique que venhas dar uma ajuda. Quantos mais melhor, e a este ritmo só daqui a 20 anos é que conseguimos ter uma horta suficientemente grande para as nossas necessidades. - eu comento em tom de crítica. Sabia que as pessoas não iam a correr para trabalhar na agricultura, mas achei que por esta altura, visto ganhar-se mais pontos nesta atividade, haveria mais gente.

- O que é que deste ao Daryl? - ele pergunta abruptamente. A sua expressão é neutra, mas sei que me irá repreender. Dwight segue demasiado à risca as regras. Se ao menos as regras estivessem justas...

- Ele precisa de comer. Já olhaste bem para ele? Está obviamente desnutrido. E está a trabalhar melhor que ninguém, o que é surpreendente visto que é um prisioneiro. - eu carrego na palavra 'prisioneiro', para reforçar a minha ideia.

- O grupo dele matou muitos homens dos nossos. - Dwight fala, pausadamente. A sua calma ao falar impressiona-me sempre. Ivy revelou-me que a sua esposa é agora uma das mulheres de Negan, depois de ele ter tentado fugir com ela e a irmã. Mas Dwight não sabe que eu sei isso, e não pretendo revelar-lhe que o sei até que ele próprio me conte. Se eu fosse ele não conseguiria estar assim, tão calmo e obediente. Por vezes penso que é apenas uma farsa e que secretamente anda a planear a sua vingança. Mas para ser sincera, Dwight parece-me demasiado derrotado para tentar algo do género. Por vezes apanho-o a olhar para o vazio, como se se estivesse a indagar o que raio anda a fazer da vida. Por isso, sinto pena dele, mas jamais lho direi. Não acho que o fosse ajudar em coisa alguma.

- Estás a referir-te aos mesmos homens que ameaçam comunidades à base da violência? Vá lá Dwight, não esperas que acredite que eles tivessem-nos matado sem nenhuma razão. - eu resisto à tentação de revirar os olhos. É um gesto algo irritante, e tento sempre evitar fazê-lo.

- Achas que Negan se importa com isso? Eles mataram os seus homens e por isso têm de ser castigados. - ele encolhe os ombros, como se não fosse uma grande coisa. Tenho vontade de abaná-lo e fazer com que faça alguma coisa. Que se irrite, que grite, que se queixe da tirania de Negan e do resto dos seus homens.

- Isto tem que mudar, Dwight. Estamos no século 21, e sei que vivemos tempos difíceis, mas já devíamos ter aprendido com os erros do passado. É uma questão de quando é que as outras comunidades se vão revoltar contra Negan, e não de se.

- Tens de dizer isso a Negan e não a mim.

- Caramba, achas que eu não o disse? Negan é a criatura mais estranha que já conheci. Uns momentos parece uma pessoa normal e outros parece um perfeito anormal.

- Depois de algum tempo acostumas-te a ele, não te preocupes.

Sorrio, quando percebo que o seu comentário é sarcástico. Ele sorri de lado.

- Vá, mexe-te e vem ajudar-me. - eu volto-me em direção à horta. Consigo senti-lo a seguir-me.

Society | Negan [The Walking Dead]Onde histórias criam vida. Descubra agora