capítulo 25

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"As coisas passam. Até as coisas grandes. E quando estão bem lá para trás, já não nos parecem tão grandes"

- citação do livro 'A Seca'

- citação do livro 'A Seca'

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[Tessa]

- Tens sentimentos por ele? - Dwight questiona-me, e apesar de não dizer o nome 'dele', sei de imediato a quem se refere.

- Claro que tenho. Assim como tu tens e centenas de outras pessoas têm. A maioria possui um profundo sentimento de ódio em relação a ele - eu encolho os ombros, desviando-me à real pergunta que ele me fez. Soo ridícula, bem o sei. Eu a fazer-me de burra é como um coelho a fazer-se de caçador.

Dwight não diz, e apenas me encara com aquele seu olhar, à primeira vista inexpressivo, mas cheio de significado. É a sua forma de se expressar a maioria das vezes, mas só as pessoas que o conhecem conseguem entender essa sua linguagem tão sua.

- Não acho que falar sobre isso contigo fará algum bem - eu acabo por dizer, com honestidade, enquanto caminhamos. Estamos na reta final até chegar ao meu antigo refúgio. Esta parte tem de ser feita a pé, pois não podemos ir de carro por entre o bosque cerrado.

- Gostas dele - ele nota, quase num tom acusatório, porém brando. Uma estranha combinação, porém a mais próxima da verdade. Dwight é um homem estranho, e mesmo conhecendo-o mais, ainda há tanto mistério na sua figura.

- Sim - eu anuo, quase inaudível. Ele não fez uma questão, e sim uma afirmação, mas tinha de concordar em voz alta. Não vale a pena negar o inegável. Gosto dele, caramba. Porquê? Logo ele... Tinha de ser logo ele? Negan... O raio do Negan!

- E ele sabe?

Eu encolho os ombros, desta vez, mesmo que parte de mim soubesse que sim, ele sabia. Talvez Negan não saiba o quanto gosto dele, mas sabe que tenho interesse nele. Não é burro.

- Ele é um psicopata. E está preso.

- Eu sei.

- Achei que precisasses de alguém para te relembrar.

- Talvez se no disseres muitas vezes eu deixe de gostar dele.

Dwight ri-se pelo nariz, e eu sorrio de lado.

- Quão longe estamos?

- Mais alguns quilómetros.

- O teu pai sabia o que fazia.

- Ele era um gênio.

- Qual era o plano de fuga, caso necessário? - Dwight questiona, perspicaz. A sua inteligência e perspicácia maravilha-me sempre. Antigamente frustrava-me muito com as pessoas com quem me dava, por se mostrarem sempre tão desinteressadas em assuntos que deviam importar. Dwight para além de possuir uma inteligência superior, era interessado em assuntos de facto importantes. É por isso que para mim a sua companhia é sempre um prazer. Contudo, não acho que alguma vez possa dizer-lhe isto tudo. Seria estranho. E, por alguma razão, acho que ele no fundo já sabe isto tudo, sem eu necessitar dizer-lhe.

- Helicóptero. Mas não te entusiasmes, aquele pedaço de metal é demasiado barulhento e consumidor de combustível para que nos seja útil. E hum, digamos que eu nunca aprendi a pilotá-lo de forma 100% segura - eu esclareço, sorrindo embaraçada. O meu pai obrigara-me a aprender a pilotar helicópteros, mas eu nunca tive paciência para aquilo, crente de que jamais seria necessário ter de realizar aquela proeza. Resultado: a probabilidade de conseguir aterrar aquela coisa com sucesso era demasiado reduzida para tomar esse risco.

- Uau. Nem sei por onde começar... Tu tens um helicóptero. E para além disso, aprendeste a conduzi-lo.

- Correção: semi-conduzi-lo. Não me irias querer como piloto, acredita.

- Sabes o quão inacreditável isso soa? E como é que nunca antes disseste isso? - ele franze o sobrolho, com um meio sorriso.

- O meu pai era um génio rico. E nunca antes revelei isto porque dificilmente poderia considerar ser capaz de controlar tal máquina.

Dwight abana a cabeça, sem querer acreditar. Rio-me da sua expressão.

- Ele era muito excêntrico - eu comento, sorrindo ao recordar-me do meu falecido pai. Já não dói tanto como doía.

- Ele educou-me bem ao ponto de quando o perdi, não sentisse que fosse o meu fim. Estava preparada. Ele fez questão que eu tivesse preparada a todos os níveis. Mental e fisicamente - eu confesso. É a primeira vez que revelava algo tão... íntimo. É bom ser capaz de falar sobre estas coisas de vezes em quando.

- Ele devia ser um bom pai.

- Oh ele era. Mas não do modo como as pessoas esperam que um pai seja para as suas filhas. Ele não era o meu herói, ele fez-me uma heroína. Para eu ser capaz de me defender por mim própria e aos outros quando necessário.

Dwight anuo silenciosamente, com um aceno de cabeça.

- O meu pai era um bêbedo. E a minha mãe... Simplesmente não estava presente.

- E ainda assim és o homem que és hoje. Isso é bastante mais incrível que a minha história. - eu noto e ele olha-me de uma forma como nunca antes. Como se eu tivesse dito uma coisa incrível. Será que nunca ninguém lhe dito algo assim? É difícil de acreditar.

- Isso é... Muito querido da tua parte, Tessa. Obrigado - ele agradece, ao início parecendo não saber o que dizer ao certo.

- Tontaria, Dwight. Não tens nada que agradecer.

- Eu ainda gosto da Cheryl. - ele confessa abruptamente, um quilómetro adiante.

Cheryl fora a sua esposa. E agora poderia voltar a ser a sua esposa. Mas ele nunca antes havia dito que ainda nutria sentimentos amorosos por ela depois da queda dos salvadores.

- Porquê é que só sei isso agora? - eu franzo as sobrancelhas, um pouco aborrecida. Ele sabia tanto sobre mim mas só agora relevava uma coisa daquelas.

- Não é correspondido.

- Como assim? Vocês... - eu páro de andar. Era difícil para mim entender como é que um sentimento tão grande como amor, que fez juntar duas pessoas em matrimónio, podia desaparecer. Quero acreditar que um sentimento como o amor dura para sempre. Mas talvez não durasse. Talvez nada dure para sempre, mesmo que o sempre fosse apenas o tempo de vida de um humano.

- Não há nada a dizer, Tessa. Apenas queria admitir isto para alguém.

Mas eu queria dizer um milhão de coisas. Coisas que a maioria das pessoas diriam, como 'ela é que perde', ou 'vais arranjar a tua alma gêmea noutra pessoa'. E isso seria tudo dito com profunda honestidade. Contudo, ele tinha razão. Não havia nada a dizer pois tudo o que se pudesse dizer nada mudaria. No fim ele teria sempre o coração partido.

Society | Negan [The Walking Dead]Onde histórias criam vida. Descubra agora