Society | Negan [The Walking Dead]

capítulo 15

"Todos esses momentos irão perder-se no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer"

- do filme 'Blade Runner' (1982)

[Tessa]

- Aqui a Tessa teve uma excelente ideia para renovarmos o sistema. - Negan começa, com todas as pessoas reunidas a ouvir. Não tinha noção do número enorme que somos.

Dou um passo em frente quando Negan faz sinal para me aproximar dele e falar.

- Quero que cada um de vós escreva num papel a profissão que exerciam antigamente, e o vosso nome, claro. Também quero que escrevam os hobbies que faziam, e conhecimentos que tenham sobre determinada área. Tudo é pertinente. O objetivo é organizarmos-nos todos em tipos de trabalhos conforme aquilo que faziam e os vossos conhecimentos. - eu falo. Consigo projectar bem a minha voz, e o eco da antiga fábrica, que agora serve como a nossa casa (o Santuário), ajuda a isso.

Há murmúrios na multidão. A maioria parece desconfiada e receosa (a presença de Negan tem sempre esse efeito nas pessoas).

- As vossas respostas vão ajudar à elaboração de tipos de atividades. E todas elas são pagas de igual maneira. Mais tarde haveremos ainda de incluir escalões em cada área, e quantas mais horas de trabalho efectuadas determinarão a ascensão, ou até descensão, de escalões. Depois falaremos disso mais pormenorizadamente. - eu continuo.

Dou uns passos atrás, passando a ser a vez de Negan voltar a falar.

- Ouviram o que ela disse. Escrevam as merdas todas necessárias no papel, que depois as respostas serão todas analisadas. É tudo por agora.

E todos começam a dispersar, iniciando uma fila organizada por um dos Salvadores encarregue de distribuir papéis para toda a gente. As canetas terão de ser dadas à vez, pois são demasiado escassas para se andar a distribuir por toda a gente.

(...)

- Elizabeth Bell era recepcionista, mas cantava nos tempos livres. - Ivy lê em voz alta o primeiro papel que agarra. Pedi-lhe auxílio na leitura de todos os papéis.

- Excelente, uma cantora. - eu sorrio, satisfeita e escrevo o seu nome na coluna dos 'Artistas'.

Até agora criei nove tipos de grupos:

- Mecânicos / Eletricistas
- Artistas
- Médicos / Enfermeiros
- Caçadores
- Cozinheiros
- Agricultores
- Guardas
- Professores / Instrutores
- Comerciantes

Mas com o tempo posso vir a criar mais classes. Temo estar a esquecer-me de alguma coisa importante.

- Marcus Connor. Agente imobiliário. Corria nos tempos livres. - Ivy lê outro papel. Esse é fácil.

- Comerciante. - eu escrevo seu nome na respectiva coluna. Ivy concorda, assentindo com a cabeça.

- Patrick Grant. Jardineiro.

- Ah sim, conheço-o. - eu assinto. Patrick já não é novo, deve estar na casa dos 60 anos, mas percebe de plantas, e é muito simpático.

- Vou colocá-lo como instrutor. Penso que ele dar-se-á melhor a ensinar outros a cultivar, do que ser ele a cultivar. - eu digo, e coloco o seu nome na parte dos 'professores / instrutores'.

É então que alguém bate à porta. A pessoa em questão não espera por uma resposta, abrindo de imediato a maçaneta da porta do meu quarto.

Trata-se de Negan. Está, para minha surpresa, sem o bastão na mão. Ele parece ficar sem saber o que dizer, olhando-me intensamente. É só depois de uns momentos que se apercebe da presença de Ivy, sentada na minha cama, que está coberta por papéis.

- Esqueci-me que tenho uma coisa para fazer. Vejo-te ao jantar, Tess. - Ivy levanta-se rapidamente da cama. Quando passa por Negan murmura 'chefe' respeitosamente. Quando sai, fecha a porta atrás de si.

- Precisas de alguma coisa? - eu pergunto-lhe, sem me dignar a levantar da minha cadeira.

- Deixei-os ir. Irás ouvir uns rumores por aí em como eles foram terrivelmente torturados e abandonados no meio de walkers no bosque para serem comidos vivos - ele fala, com um sorriso divertido nos lábios. Em seguida aproxima-se da minha cama, encarando o monte de papéis aí estendidos, para depois os desviar e se sentar aí.

- Fico contente por me teres ouvido. - eu digo, cautelosamente, sem demonstrar qualquer emoção. Ele olha-me, analisando-me.

- Dei a Mark uma cicatriz e ameacei-os que caso os voltasse a ver os mataria. - ele continua, como se fosse algo normal de se falar. Acho que talvez esteja a tentar não soar demasiado brando.

- Não acho que os voltes a ver.

- Claro que não achas. - ele ri-se secamente.

- O que é que estás aqui a fazer realmente?

- Agora fiquei com uma esposa a menos. Tenho de arranjar alguém que a substitua. - ele fala, claramente desejoso de ver a minha reação. Sorri maliciosamente e aguarda em silêncio que eu fale ou reaja de alguma forma.

Pondero seriamente as minhas próximas palavras. É estranho, mas não sinto ciúmes pelas suas múltiplas esposas. Sei que elas não são nada para ele. Mas não consigo deixar de me sentir algo indisposta por saber que ele se deita com diferentes mulheres. E mais indisposta ainda por ele estar prestes a convidar-me a tornar-me numa das suas "esposas". Sinceramente, depois de tudo por que passamos, acho ofensivo que ele sequer pense que eu poderia aceitar tal papel.

- Com certeza encontrarás uma candidata adequada para a tarefa. - eu comento, conseguindo manter-me neutra.

- Penso que tu darias conta da tarefa. - ele fala. O meu estômago dá uma volta.

- Não. A minha resposta é não.

- Sabia que seria essa a tua primeira resposta. Pensa no assunto. E no beijo... Não te arrependerás. - ele pisca-me o olho, maliciosamente. Acho que nunca tive tanta vontade de lhe partir o nariz.

Perco então o controlo. Mas não lhe bato.

- Porque é que tens de ser um idiota?! Não achas que já chega? Não sei o que queres de mim, mas jamais serei uma das tuas vadias. E tu sabes disso! Então para quê está conversa de merda? Pára de tentar enganar-te a ti próprio. É óbvio que sentes algo por mim. E não é só atração sexual. Ambos o sabemos. - eu falo num tom mais alto do que pretendia. E soando mais furiosa do que queria.

O seu sorriso cessa de imediato. E vejo depois traços de alguma raiva no seu rosto.

- A verdade dói, não é Negan? - eu atiro e levando-me de rompante da cadeira. Abro a porta e vou-me em embora, sem sequer fechá-lá, deixando-a escancarada.