Society | Negan [The Walking Dead]

capítulo 19

"Nao tenho a certeza de como me sentir quanto a isso
Algo no modo como tu te mexes
Faz-me sentir como se não pudesse viver sem ti"

- da música 'Stay' da Rihanna e Mikky Ekko

[Tessa]

- Estive com o Doutor Coulson ontem de manhã. Disse que já posso fazer esforços. - eu esclareço a curiosidade de Dwight antes sequer de ele me perguntar o que estou a fazer na horta.

- Não te perguntaste porque é que és a única a estares aqui? - ele pergunta ríspido. Nunca o ouvi usar aquele tom de voz em direção a mim.

- Disseram-me que mandaram reforços para uma das outras comunidades. Isto não é propriamente um trabalho prioritário... Ainda... - eu resmungo. Só saberão a importação da agricultura quando deixarem de receber suprimentos agrícolas de pessoas terceiras.

- Estamos em guerra, Tessa.

- O quê?!

- Tinhas razão. Todas as comunidades revoltaram-se.

- Porquê é que só agora é que sei disso? Estamos em guerra e ninguém se importa em informar-me? Como é que ainda ninguém me disse nada? - eu deixo transparecer a minha perplexidade a tal notícia.

- Aconteceu hoje de manhã. Suponho que tenhas estado aqui o dia todo.

- Merda. E agora? O que é que está a acontecer? Onde está Negan? - eu bombardeio com questões, sem saber qual delas é a mais pertinente.

- Agora estamos a preparar-nos para a guerra. Negan está em negociações para obter aliados. - ele fala.

- Preparar-nos para a guerra... Ridículo. Simplesmente ridículo! - eu quase grito a última frase.

- Trouxemos alguém de Alexandria que sabe fazer munições. Temos de estar preparados para um possível ataque ao Santuário. - Dwight continua, ignorando-me.

- Fazer munições... Tens noção dos riscos que isso implica? A arma pode explodir nas nossas mãos e antes de dares conta do que aconteceu morres! - eu riposto.

- Sabes o tiro que levaste? Era uma munição caseira. - Dwight diz, num tom calmo. Costumava achar que era controlada, mas Dwight consegue ser a pessoa mais disciplinada que eu já conheci. Daria um excelente general.

- Isso não faz com que seja seguro usar esse tipo de munições... - eu resmungo entre dentes, sem muita paciência para continuar esta discussão.

- Precisamos de munições, Tessa. De outra forma podes considerar-nos mortos.

- Podíamos render-nos.

Ele solta uma gargalhada pelo nariz.

- Sabes bem que Negan jamais dobraria o joelho.

- Prefere morrer. E levar-nos a todos com ele.

Dwight acena afirmativamente com a cabeça.

- Talvez tu possas colocar-lhe algum juízo. - Dwight sugere e eu encaro-o atentamente.

Um frio percorre a minha espinha. É como se ele soubesse da noite que passei com Negan. Ivy jamais lhe teria contado, ela prometeu-me que não o faria. Mas Negan pode ter contado aos seus "amigos", como Simon. Sei que devia ter-lhe pedido para manter aquilo apenas entre nós, mas achei que seria pior se o fizesse.

- Não acho que desta vez pudesse fazer alguma coisa. Daryl continua preso, não continua?

Falei com Negan, tentando levá-lo a libertar Daryl. Os meus esforços foram, obviamente, inúteis.

Dwight encolhe os ombros em resposta. Eu relaxo. Ele não sabe de nada.

- Podíamos fugir. Agora era uma excelente altura. - o seu tom é calmo, mas consigo ver algo de diferente nos seus olhos. Uma espécie de desafio, não em termos de me estar a desafiar, mas de se desafiar a si próprio.

- Ele não mandaria reforços à nossa procura nesta altura... Não com o perigo de eles atacarem o Santuário. - eu consigo seguir o seu raciocínio. Dwight acena com a cabeça.

- Seria muito difícil fazer com que cinco pessoas fugissem, Dwight. - eu continuo, pensando nas reais implicações de uma fuga.

- Cinco? - ele franze o sobrolho.

- Eu, tu, Ivy, Cheryl e Daryl. - Eu esclareço a sua dúvida.

- Cheryl? Daryl?

- Sei que ela é importante para ti. E temos o dever de libertar Daryl.

- Ivy contou-te. - ele adivinha. Eu encolho os ombros. Não é altura para rodeios.

- É fácil. Só precisamos de resgatar uma das esposas de Negan, que são constantemente vigiadas, e Daryl, que vive numa cela igualmente constantemente vigiada. - eu falo, sarcasticamente.

- Mais fácil era impossível.

- Em relação a Daryl, tenho um plano. Eu posso ficar de vigia num turno da noite. E como sabes os turnos da noite costumam ser individuais. - eu digo, depois de uns momentos a pensar.

- Cheryl também não deve ter muita dificuldade em escapulir-se durante a noite do seu quarto. Desde que Negan não se lembre de ir ter com ela. - é a vez de Dwight falar.

- Então estamos mesmo a ponderar nisto a sério.

- Eu não brinco com coisas sérias, Tessa.

- Eu sei. Mas... Se formos apanhamos morremos.

- Eu com certeza morreria. E talvez Daryl. Mas tu e as outras, não. Negan não mata mulheres.

- Que loucura. Não quero que morras, Dwight.

A verdade é que não tenho a certeza se queira fugir. Posso morrer se ficar, mas o que ganharia em fugir? Para onde fugiríamos, já agora? O melhor que posso fazer é esperar que isto acabe e eu consiga permanecer viva. Render-me-ia e não me matariam, certo? Não sei o que fazer, mas parte de mim não quer deixar Negan. Sei que ele é quase um monstro, sem remorsos das vítimas que já vez, mas não consigo deixar de me importar. Estou a deixar-me levar pelas emoções.

- Eu também não desejo morrer. Mas se libertarmos Daryl podemos fugir para Alexandria e lutarmos ao seu lado.

- Tenho de te relembrar que um deles me deu um tiro?

- Ou podemos ir para o Reino.

- E se eles não nos aceitam?

- Eles vão aceitar-nos.

- Podem pensar que somos espiões.

- Não, pois levaremos Daryl connosco, que era um prisioneiro. Além disso, têm perfeita noção que muita gente do Santuário está cá contra a sua vontade. E tu tens conhecimentos que lhes serão muito úteis.

Pondero nas suas palavras. Ele tem razão. O Reino é a nossa melhor opção. Mas não quero abandonar Negan. Que idiota me saí. Pensar em não seguir um excelente plano por causa de um homem cruel é simplesmente estúpido.

- Sim... Tens razão. - eu acabo por anuir com a cabeça. Não posso deixar as emoções cederem.

- Eu falo com a Sheryl. Tu falas com a Ivy e o Daryl.

Eu aceno com a cabeça, em concordância.