Livre

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Cinco anos. Em cinco anos muita coisa mudou, outras morreram, outras nasceram ou apenas mudaram. Ao menos eu estou vivo. Acreditem,isso é extraordinário.

-Boa menina, vai, de quatro, princesa.

-Sim senhor.

Eu o obedeci.

Quase todo o dia é assim, os clientes sempre vêem até mim, mas hoje é minha última noite na cadeia, e esse é o último cara que me visita hoje. Logo esse pesadelo acaba. Antes dele sair, ele disse:

-Vou sentir sua falta, cachorra. O dinheiro vai tá na tua conta amanhã. Tchau, boneca.

-Tchau, senhor. ..obrigado pela visita.

-Boa garota.

Ele saiu batendo as grades da cela e as trancando novamente. Eu permaneci imóvel. É impossível eu me mover agora, eu nunca me acostumei com isso totalmente. Amanhã eu vou estar livre e é isso que importa.

Eu aprendi muita coisa aqui dentro. Infelizmente, descobri que parte dela eu poderia ter aprendido através de gentileza ao invés de violência...

Quem me vê agora nem me reconhece. Quem diria que aquele Jungkook imponente, poderoso, dono da verdade, babaca, arrogante, viraria a prostituta obediente do presídio. Porque é só assim que um traidor sobrevive na cadeia. Ou vira a prostituta deles ou eles te batem até você morrer. No começo eu os comprava com dinheiro, só que meu dinheiro não era infinito, tive que escolher a quem continuar pagando, mas eu ainda tinha que pagar uma grande parcela lá dentro, precisei arrumar outras formas de pagamento.

Eu decidi me entregar por vontade própria o que não era fácil diante do meu orgulho, mas eu tinha que dar meu jeito...eu só tinha meu corpo, por sorte, eles me achavam atraente...eu virei prostituta aqui...sexo por dinheiro, pela minha vida, ou era isso ou era apanhar...eles já me olhavam muito, cedo ou tarde, eles iam me tocar, pelo menos assim eu poderia juntar dinheiro para pagar os mais cruéis.  Cada vez mais os clientes aumentaram ...o que eles pediram também..eu fazia com dois, três quatro..suruba as vezes...eu saía acabado, mas a grana era boa, eu conseguia passar um tempo sem abrir as pernas depois que fazia algum serviço pesado. Eles não queriam que eu morresse, então me davam um tempo para descansar.

Eu aprendi a baixar a cabeça e olhar pro chão. Porque dignidade eu não sentia mais que tinha. Aprendi a dizer " Sim senhor", " claro senhor", "como quiser senhor", " obrigado pela visita ", " me desculpe senhor", " tem razão senhor", "como o senhor quer?"...aprendi a não falar até que falem comigo. Aprendi a implorar com humildade e medo. Aprendi a cuidar do meu corpo e mantê-lo atraente para que não se cansem de mim e me matem, precisava ser a favorita deles.

Aprendi a fingir orgasmos, me obrigar a gozar. Aprendi que eu não sou e nunca fui ninguém nessa vida...ninguém que valha a pena. Aprendi a abaixar a cabeça e curvar meu corpo toda vez que um dos meus senhores passar por mim.

Isso mesmo, senhores. Depois de um tempo, alguns dos presos e dos guardas também, passaram a ser "clientes frequentes". Eles passaram a me bancar. Cada noite que passavam comigo eles depositavam 400 reais cada um na minha conta...dupla penetração me rendia 600, eu tinha preços variados pra coisas variadas, eles não me contestavam, valia a pena e sabiam disso. 200 desses 400 sempre eram destinados aos assassinos. Graças aos meus donos, eles baixaram o preço para mim e agora eu tenho um pouco de dinheiro pra me virar lá fora. Ah, eu tenho que ser uma prostituta bem cuidada, ou eles desistem e dão o dinheiro pra outro qualquer. Eles compram coisas pra mim pra isso: barbeador, cremes pro corpo, produtos pro cabelo, de higiene pessoal, maquiagem, bijuterias e...roupas femininas. Na primeira vez que vesti eu me olhei no espelho e rasguei a roupa. Me deixaram três dias preso na solitária, perdi esses três dias de trabalho. Eu aprendi a não reclamar de nada e agradecer a tudo, zero reclamação, zero punição.

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