Capítulo VIII

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- Se não estás aqui por causa da tua mãe, nem por causa da Elisabeth, então é porquê?

Ontem fomos falar com a Elisabeth e, pelos vistos, não era por causa dela, porque ainda estou aqui, e a suposta luz que eu preciso de ver não apareceu.

Quando o Brad chegou a casa dela e se sentou no sofá, materializei-me em frente a uma cómoda castanha e rústica. Pareceu-me ver a Elisabeth a estremecer, mas talvez tenha sido só impressão minha.

Enquanto ele falava, a minha amiga olhou várias vezes para o sítio onde eu estava, mas ainda mais para as escadas.

- Então, ah... Pois, a Evelyn está aqui. - explicou o Brad.

- Eu sei. - disse ela, um pouco envergonhada. - Eu... tenho-a visto.

- O quê? - o Brad estava espantado. - Quando?

- Nos últimos dias. Ela já apareceu várias vezes. À porta de minha casa, no parque e no hospital. Ela salvou a minha irmã, acho eu.

O Brad olhou para mim, procurando explicações. Eu encolhi os ombros. Não me lembrava de nada daquilo que ela disse que eu tinha feito. Até onde eu sabia, só a tinha ido visitar uma vez.

De repente, uma pequena rapariga com cabelo loiro, olhos dourados, pele branca e com ar brincalhão desceu as escadas a correr. As suas bochechas fofinhas brilhavam, refletindo os raios de luz que entravam pela janela aberta.

Assim que acabou de descer as escadas e nos viu, a sua cara mudou e ela soltou um pequeno grito.

- O que foi, Lara? - perguntou a Elisabeth, assustada.

- O quê que ela está a fazer aqui?! - gritou, apontando para mim.

- Então tu também a vês? - perguntou Brad, ainda mais confuso do que estava antes. Depois, vendo aquela menina espantada, que eu sabia que se chamava Lara (e que era a irmã da Elisabeth), não lhe ia responder, virou-se para a minha amiga e questionou:

- Já viste mais algum fantasma sem ser a Evelyn?

- Não tenho bem a certeza... - respondeu ela, pensativa. - Na realidade, nunca reparei muito nisso, mas agora que falas, já me aconteceram coisas bastante estranhas que eu nunca consegui explicar.

O Brad, com os olhos um pouco arregalados, talvez pela surpresa de encontrar finalmente alguém igual a ele, disse, por fim:

- Nunca esperei dizer isto, mas tu e a tua irmã são médiuns, como eu.

Era a primeira vez que tinha ouvido o "termo técnico" daquilo que o Brad fazia. Ele nunca dizia essa palavra.

***   ***   ***

Um pequeno e suave toque no meu ombro fez-me voltar à realidade.

- Evelyn? - chamou Brad, mais próximo de mim do que já alguma vez tinha estado. Os nossos narizes quase se tocavam e a sua mão continuava no meu ombro, fazendo com que o meu intestino se revirasse sobre si várias vezes. - Não me respondeste à pergunta e ficaste a olhar para o quadro da parede por uns 10 minutos.

- Desculpa... Estava a pensar no que aconteceu ontem. - A minha voz estava finíssima e não passava de um sussuro. "O que raio se passa contigo, Evelyn?", pensei.

- Foi um choque? - "Pelo quê? Por descobrir que a minha melhor amiga guardava um segredo de que nem ela sabia? Não, estou ótima!", pensei, mas em vez de dizer isso, apenas acenei com a cabeça. Ele aproximou-se um pouco mais. Agora os nossos narizes tocavam-se ao de leve.

O meu estômago revirou-se novo quando olhei para os olhos verdes do Brad, que me fitavam como se eu fosse a única coisa que ele queria naquele momento. Engoli em seco. O que era isto e porquê que me parecia familiar?

De repente, alguém bateu à porta, o que fez com que ambos saltássemos. Como não houve resposta pela parte do Brad, a batida tornou-se mais insistente.

- Já vou! - exclamou ele, levantando-se e, poucos segundos antes de abrir a porta, lançou-me um olhar como que a dizer "acabamos isto mais tarde". Respondi-lhe também com um olhar, que dizia "eu depois volto".

Só que eu não ia voltar. Pelo menos, não enquanto ele estivesse acordado.

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Nota: Se estão a gostar da minha história, vejam também a história da minha amiga (nome no wattpad: Lunawerewolf14), que é a versão do ponto de vista da Elisabeth. Chama-se "Depois da Vida". Obrigada pela atenção!!

Is This The End?Onde histórias criam vida. Descubra agora