- Desculpa por ter perguntado, Brad...
Estávamos na casa da Elisabeth, mais propriamente no seu quarto, onde tínhamos passado as últimas duas horas. A Elisabeth tinha tido a ideia de nos reunirmos na casa dela para nos conhecermos melhor. Também foi uma oportunidade para podermos pôr um pouco de parte o tema "Lara".
Assim que chegámos, a primeira pergunta, autoria do Brad, foi dirigida a mim:
- De quê que te lembras de antes de morreres?
- Já te contei tudo o que sei... - respondi.
- Se calhar se tentares lembras-te de mais coisas. - sugeriu a Elisabeth.
- Ah... Ok. Por onde começo?
- Pelo início. - disse o Brad. - Conta a primeira coisa que te lembras de quando eras pequena.
- Acho que a minha primeira recordação é de quando tinha cinco anos. A minha irmã tinha oito anos nessa altura e, como nunca gostou de mim, ia muitas vezes roubar-me coisas ao quarto. - olhei para os meus pulsos e meu cabelo caiu-me para a cara, mas não me preocupei em afastá-lo. - Um dia, deixei a minha barbie favorita em cima da secretária, com um fio de pesca atado no tornozelo dela. O fio ia prender-se a um balde cheio de ervas e, quando fosse puxado, o balde virava-se. - cocei uma das minhas muitas cicatrizes no pulso esquerdo. - Então a Catherine foi roubar-ma quando viu que eu saí do quarto e levou com as ervas e o balde em cima. Fiquei de castigo durante umas 3 semanas e tive de limpar o meu quarto, mas valeu a pena. - finalmente, olhei para cima, apenas para ver as caras de espantados dos meus amigos.
- Wow, isso é que foi um esquema.
Rimo-nos um pouco e eu continuei a contar algumas histórias de mim e da minha irmã. Depois disso, comecei a falar sobre o meu primeiro dia de aulas.
- Lembro-me que a minha mãe estava super orgulhosa quando me foi deixar na escola. Deu-me um beijo na testa e eu fui a correr para a sala, com a mochila a bater-me no rabo. Encontrei a professora no corredor, que me levou à sala. Como tinha mudado de casa antes de ir para a primária, não conhecia ninguém, e eles também não me queriam conhecer. - pus uma madeixa de cabelo ruivo encaracolado para trás da orelha. - Acho que começou aí. Eu ficava os intervalos a desenhar, ou a olhar para os meninos e meninas, em vez de ir brincar com eles. Acho que eles pensaram que eu era um alien ou assim, por isso não falavam comigo. - olhei para o teto, a pensar um pouco acerca do que disse. - Fiquei na mesma turma até ao 4° ano, e quando me mudei para o ciclo, não ficou muito melhor. Só quando conheci a Elisabeth, no 10º, é que as coisas mudaram. - não queria falar mais de mim, por isso dirigi a próxima pergunta à Elisabeth. - E tu, o que eras antes de me conheceres?
- Sinceramente, não sei. - ela parecia um pouco confusa com a pergunta. - Acho que era tudo, e nada. Quero dizer, conhecia muitas pessoas, mas não eram propriamente amigos, percebem? - eu e o Brad acenámos ao mesmo tempo, concordando. - E tu, Brad, tens estado muito calado... Fala-nos sobre a tua vida!
- Hum... como o quê? - perguntou o Brad.
- Tipo, a tua infância, família,... - disse eu. - Nunca me falaste de nada acerca da tua família!
- Bem, não é como se tivesse muita para falar. - ele parecia ansioso. - A minha mãe morreu com um cancro no fígado, e o meu pai abandonou-me quando eu ainda era pequeno. - disse ele, enquanto batia com as unhas na mesa a um ritmo constante. - Tenho 2 irmãos, mas não faço ideia de onde eles estão... Depois de a minha mãe morrer, fomos levados para instituições diferentes, porque não tínhamos mais familiares que nos pudessem acolher.. - cansando-se de fazer música com a unhas, ele passou a mexer numa madeixa de cabelo que tendia a cair para a sua testa. - Uma família adotou-me, mas não aos meus irmãos. Ando a tentar encontrá-los desde aí.
Arrependida com a minha pergunta, sussurrei, a olhar para o chão:
- Desculpa por ter perguntado, Brad...
- Não faz mal, Evelyn. - respondeu ele. - Ias ficar a saber de uma maneira ou de outra, por isso mais vale ser eu a dizer-te.
Continuámos a falar sobre futilidades durante algum tempo. Eu permaneci calada. As palavras do Brad não me saíam da cabeça. Não conseguia acreditar que a história dele seria tão complicada.
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Is This The End?
ParanormalSe ela não tivesse atravessado sem olhar. Se ele não estivesse bêbado. Se a mãe dela não a tivesse proibido de sair de casa. Se o patrão dele não o tivesse despedido. Se isso não tivesse acontecido, ela estaria viva. Mas ela não está. Copyright © C...