Praticamente ainda não tinha visto a Catherine, a minha irmã, desde que morrera e, nas únicas vezes que a vi, ela parecia estar bem. Não que eu esperasse outra coisa, claro. Afinal, ela era a minha irmã, a inteligente, a bonita, a desejável, enquanto que eu era apenas... eu. Porquê chorar a minha morte quando ela podia estar a fazer outra coisa mais útil?
Não foi uma surpresa quando a vi deitada na cama, com o telemóvel encostado à orelha, a falar com as amigas sobre sei lá o quê, como se o facto de eu ter morrido fosse apenas um pequeno incidente na sua vida perfeita.
Até que vi. Não era muito evidente, porque ela tapou a maior parte com maquilhagem, mas ainda estava lá o inchaço: um olho negro. Quem é que iria dar um soco na Catherine? Quase que imediatamente, a resposta surgiu. A minha mãe. Visto que morri, ela ficou sem ninguém para despejar a sua frustração do dia-a-dia, e decidiu usar a minha irmã.
Pequenas lágrimas formaram-se nos cantos dos meus olhos. Nós podíamos não nos dar muito bem, mas ela continuava a ser a minha irmã mais velha!
Não consegui aguentar ficar mais tempo ali, a olhar para ela, sem poder fazer nada, por isso, fui ter com o Brad. Encontrei-o no quarto e contei-lhe tudo. Desabafei e chorei. Ele disse-me para ir ter com a Elisabeth, e para lhe contar também. Nem sei porquê que não fui logo ter com ela.
Ela estava com a Lara, a brincar no jardim onde ela me viu pela primeira vez, embora eu não me lembrasse de a ter ido ver.
Assim que me viram, as duas dirigiram-se a mim, a Elisabeth com uma cara interrogativa no rosto e a Lara um pouco assustada.
- Evelyn, o que se passa? - perguntou a minha melhor amiga.
De repente, o Brad apareceu. Não sei como chegou ali tão rápido, mas ele não me deu tempo de pensar, porque disparou a pergunta:
- Já lhe contaste?
Embora ainda estivesse abalada, consegui contar tudo sem gaguejar nem chorar pelo meio. Depois de acabar, desabei.
- Temos de fazer alguma coisa. - exclamou o Brad. - Temos de a denunciar, ou assim!
- Denunciar? Isso não chega! - gritou a Elisabeth. - Temos de a assustar e fazê-la perceber que o que fez foi errado. Depois, entregamo-la à polícia.
Logo começámos a formular um plano. Ou melhor, eles começaram, porque eu continuava surpreendida com a maneira como eles me estavam a defender. Nunca fui muito amada, por isso qualquer modo de carinho era, para mim, estranho.
Por fim, decidimos instalar câmaras no meu quarto, que agora era o da minha irmã, que se mudou por o meu quarto ser maior.
Estava tudo planeado: a Elisabeth ia à minha casa, com um pretexto qualquer, e instalava as câmaras; depois, só tínhamos de apanhar a minha mãe em flagrante.
*** *** ***
No dia em que as câmaras foram postas, estive a vigiar a Elisabeth o tempo todo. Até mexi uns quaisquer peluches que estavam no quarto da minha irmã para brincar com ela. Apesar de tudo, e de saber que ela me via e que a minha morte não era mais um obstáculo (pelo menos, não era um grande obstáculo), sentia falta das nossas brincadeiras e risos.
Agora, não havia tempo para rir. Não havia tempo para nada, sem ser esperar.
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Nota: Deculpem por já não publicar nada há tanto tempo, mas estava no meio da época de testes e, para além de não ter tempo para escrever, também estava sem ideias. Também foi um pouco por me ter concentrado mais na outra história que comecei a escrever (chama-se "Éon", se estiverem interessados).
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Is This The End?
ParanormalSe ela não tivesse atravessado sem olhar. Se ele não estivesse bêbado. Se a mãe dela não a tivesse proibido de sair de casa. Se o patrão dele não o tivesse despedido. Se isso não tivesse acontecido, ela estaria viva. Mas ela não está. Copyright © C...