Capítulo XVI

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Os resultados do teste de ADN chegaram três dias depois. Ambos o Brad e a Elisabeth correram para o hospital o mais rapidamente que conseguiram. Sei disso porque vi.

Os resultados deram positivo, como já estávamos à espera, desde que a Elisabeth teve um sonho estranho no mesmo dia do teste.

Senti que ela estava em perigo nesse dia, e quando cheguei perto dela, durante a noite, vi que ela estava com convulsões na cama e a suar frio. Fui logo acordar o Brad, de uma maneira... pouco convencional. Digamos apenas que ele talvez precise de janelas novas... e uns tímpanos também. Depois de a acordarmos e de ela se acalmar, a Elisabeth contou-nos o sonho que tivera, em que vira o Brad e soara na sua cabeça a palavra "irmão". Ainda mais estranho, foi o facto de ela simplesmente não se lembrar de nada no dia seguinte, mesmo depois de eu lhe ter contado. O Brad disse que, muito provavelmente, foi uma experiência tão traumática para ela que o seu cérebro "arrumou" aquela memória num canto escuro da mente.

A Lara voltou para casa na manhã  seguinte ao teste de ADN. Estava melhor, não havia dúvida, pois a primeira coisa que pediu depois de sair do hospital foi ir ao parque. O parque onde eu supostamente a salvei, embora não me lembre.

Talvez esteja a acontecer-me o mesmo que aconteceu à Elisabeth. Talvez o meu cérebro apenas não se queira lembrar daquilo que aconteceu. Talvez eu esteja traumatizada e não saiba.

***   ***   ***

Resolvemos focar-nos naquele homem que clama eu ser a razão da sua morte. Também decidimos que nos devemos concentrar em descobrir a razão pela qual eu ainda estou aqui, em vez de seguir para a luz.

Eu não sei se quero ir para outro sítio. Mesmo que o Brad me diga que é um lugar melhor, em que vou encontrar paz, eu sinto-me tão bem aqui! Não sei porquê, mas parece que estou ligada ao Brad e à Elisabeth, de alguma maneira.

Mas continuando, resolvemos fazer uma lista de possíveis razões para eu não ver sequer a luz. Nessa lista estava enumerada, entre outras coisas, a razão da minha morte.

Todos já sabíamos que eu tinha sido atropelada. Na realidade, essa até foi a primeira imagem que eu vi, depois de morrer. O nosso problema é: quem ia a conduzir aquele carro?

A polícia diz que foi um "atropelamento e fuga", ou seja, alguém me atropelou, deixou o carro e fugiu, para não levar com as culpas. O carro também não nos pode ajudar a descobrir quem foi, porque era roubado.

No entanto, todos os nossos pensamentos pareciam convergir para a mesma pessoa: o homem fantasma.

O Brad disse que os espíritos, como são feitos de energia, podem interagir com equipamentos eletrónicos, o que pode ser uma explicação para o que aconteceu.

- É simples: o homem culpa-te pela sua morte, vá-se lá saber porquê, então faz com que o carro vá na tua direção. O condutor do carro, como o tinha roubado e não queria problemas, fugiu. - concluiu o Brad, após uma hora de conversa e investigação.

- Faz sentido, mas ainda falta perceber uma coisa... - disse a Elisabeth. Eu e o Brad olhámos para ela, confusos. - O quê que a Evelyn estava a fazer numa estrada deserta, ao pé da floresta, a meio da noite?

A resposta trespassa-me a mente como uma bala. Agora tudo é claro. Já percebi porquê que era noite: porque eu saí de casa às escondidas. Já percebi porquê que estava numa estrada deserta: porque não queria que ninguém visse o que eu ia fazer. Já percebi porquê que estava ao pé da floresta.

Porque me queria suicidar.

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