Capítulo VI

301 7 0
                                    

Nós somos tão diferentes em tantos aspetos. Eu sou impulsiva e, apesar de pensar na maioria das vezes, quando estou zangada sigo uma política rígida de "agir primeiro, pensar depois". Ele é calmo, nunca perde a concentração, e tenho quase a certeza que pensa na totalidade das vezes.

Acho que é por isso que nos damos tão bem. Dizem que os opostos se atraem. Eu acho que isso é mesmo verdade, porque eu e o Brad somos muito diferentes mas somos ótimos amigos, porque nos completamos. Mas todos os amigos têm discussões, incluindo nós.

Depois daquela cena na minha casa, não nos falámos durante três dias, apesar de eu o vigiar sem me materializar durante esse tempo, só para garantir que estava tudo bem. Havia alguma coisa que me fazia querer protegê-lo.

Ao fim do terceiro dia, estava mais uma vez a vigiá-lo. Ele estava no quarto. De repente, olha para o teto com ar cansado e diz:

- Eu sei que estás aí. Consigo sentir-te.

O quê? Ele conseguia sentir-me, mesmo sem eu aparecer fisicamente (ou, pelo menos, tanto quanto me era possível) à frente dele?

- Suponho que tens alguma coisa mesmo importante a dizer, já que, mesmo sabendo que eu estava aqui, não te dignaste a falar comigo. - continuava chateada com o seu silêncio. Materializei-me em frente a ele, com os braços cruzados.

Ele assustou-se um pouco quando apareci, mas logo disse, com um sorriso:

- Sim. Na realidade, até tenho duas coisas importantes a dizer.

Levantei uma sobrancelha e mantive o meu olhar fixado no dele, em sinal para ele me explicar.

- Primeiro, queria dizer que estive a pensar e acho que o que fizeste à tua mãe foi totalmente desnecessário. - às vezes ele falava assim, com palavras que a maioria dos adolescentes não usam. Gostava muito quando isso acontecia. Fazia-o parecer ainda mais inteligente do já é normalmente. "Não. Evelyn, concentra-te, pelo amor de Deus. Era suposto estares chateada com ele, com o raio!", pensei.

Bufei. Ele levantou a mão, fazendo-me parar.

- Deixa-me acabar. - disse ele, novamente com um sorriso. - Embora tenha sido merecido, não podes simplesmente partir tudo quando estás zangada, Evelyn!

- Eu sei... - mantinha agora o meu olhar fixo no chão, para esconder o rubor das minhas bochechas. Sentia-me como uma criança pequena a apanhar um raspanete.

-  A segunda coisa que quero dizer é que não me parece que a razão pela qual estás aqui é a tua mãe.

- Então é porquê? Não tinha assim tantas pessoas a preocuparem-se comigo quando era viva. - "nem agora", quis acrescentar.

- Ainda não tenho bem a certeza, mas talvez tenha alguma coisa a ver com a tua amiga, a... Elisabeth, certo? - perguntou ele. Concordei com a cabeça. Sentimentos de culpa e egoísmo percorreram-me da cabeça aos pés. Eu não a tinha ido visitar desde que morri. Fiquei tão concentrada com o Brad que me esqueci totalmente dela. O Brad deve ter reparado no olhar de culpa no meu rosto, porque acrescentou:

- Vai ter com ela, vê como ela está e depois volta para combinarmos quando a vamos visitar.

Assim foi. Evaporei-me pelo ar e fui ter com a Elisabeth. Ainda não tinha bem a certeza de como fazia isso, mas funcionava.

A Elisabeth estava sentada na cama, com um álbum de fotografias no colo e os olhos a marejar. Quando me aproximei reparei que o álbum estava cheio de fotos nossas, ou melhor, dela, porque eu tentava sempre esconder a cara nas fotos.

Eu precisava mesmo de falar com ela. Afinal, era a minha melhor (e única) amiga.

Is This The End?Onde histórias criam vida. Descubra agora