Capítulo Vinte e Nove

2.3K 330 23
                                    

Uma semana sem falar um ai e muito menos com fome. Essa bateu no fundo da minha alma. O João entrou no meu quarto e senta na cama e não diz nada. Eu sei que pegou o pai fazendo alguma coisa errada e dessa vez não se atreveu a lhe defender! Achava até que aquele cretino do Dante tinha algo com o sumiço mas eu não descarto.

- Vai fazer greve de fome? Não quer nem a Clara por perto. -- olha para as mãos cabisbaixo. Não suporto quando ela lhe chama. Vai ficar sem o miserável! Aqui ele não pisa!

- Ainda estou digerindo o ocorrido. -- digo e ele assentiu.

- E está pensando em ir embora? -- pergunta e olha para mim.

- Pensando seriamente em retomar a minha vida. -- digo séria e ele deita na cama na frente. Acaricia o meu rosto.

- Ele errou mais você não precisa ser radical, mãe. A Maria vai sentir a sua falta e eu também. A sua vida é aqui agora. -- diz.

- Eu preciso trabalhar. -- a minha cabeça vazia não vai prestar!

- Aquela velha te deu o dinheiro para a Clara. Porque não faz alguma coisa? Pode trabalhar com culinária, bolos, você é boa com doces. Não precisa ir embora de novo. Você tem a mim para defender você. -- eu sorri e beijei o seu rosto bonito.

- Onde ele estava? -- pergunto e ele desvia os olhos dos meus. - Ele tinha outra não é? -- insisto e ele baixou os olhos. A resposta.

- Tudo bem. Vou ficar por você, pela Maria e por meus netinhos. E eu vou pensar na sua ideia. Esta muito maduro. -- bati na sua bunda e ele ri e me abraça.

- É a Maria. -- diz sorrindo. Dormiu na minha cama e alguém quis se juntar também. Deixei os dois dormindo e eu fui até a sala e encontro a Maria.

- Não vai jantar? -- tu também?!

- Estou sem fome. Ela está agarrada nesse peito de novo? -- mudo de assunto e ela sorriu.

- Leite evapora rápido. Também estou sem sono então eu vim pra cá. -- diz e olha para o seu bebê. - Eu te entendo, Tereza. -- buscou a minha mão e aperta forte.

- Quando o João fez aquilo comigo ficou um gosto amargo na boca e eu não queria perdoar. Doeu demais. -- respira fundo.

- Você perdoou e ele está calmo. Eu não quero falar sobre isso. Vou seguir a minha vida e criar a minha menina. Sabia que o João me deu uma ideia hoje? Eu acho que vou fazer bolos para vender. Cozinhar me faz bem. -- sorri e ela balança a cabeça.

- E se o Dante armou alguma para o José? -- diz e eu levanto.

- O João confirmou que viu o José com outra. Ele simplesmente iria sumir no seu casamento? Ele apagou! Pelo amor de Deus, Maria! Estou farta dessa vida tirana! Parece que eu tenho imã para desgraças! O que falta agora? Aquele homem me matar porque eu não quero ele? Eu já devia ter acostumado! -- digo furiosa clamando por paz!

- Eu não queria ter gritado com você. Me desculpe. -- suspiro.

- Tudo bem. Não vai mesmo comer? Vai ficar doente. -- diz.

- Você venceu. Vou comer aqui. -- fui até a cozinha e me esforcei pois não tenho apetite para nada.

*******

Meses depois...

Amanheci azeda e irritada. O César veio trazer um bolo que a Marisa mandou para mim e ele entrou e a sala girou um pouco e por isso eu me sentei no sofá.

- Você está bem? -- pergunta e eu aperto os olhos e sinto uma agonia de quem vai vomitar.

- Estou um pouco tonta. É o calor. -- digo e ainda sinto a agonia.

- Você está pálida. -- diz e eu ri.

- Como? Sou preta. -- riu também e se sentou do meu lado no sofá.

- Dá para perceber olhando para você, Tereza. Vou buscar água. -- levantou e foi buscar para mim.

Abri o embrulho e deu água na boca! O César ficou um pouco e veio para trazer recado do patrão mas eu não quis ouvir nada! Ele foi embora e eu me sentei para comer o bolo quase que inteiro! Almocei muito bem e a tarde eu não costumo dormir tanto mas eu apaguei sentada na cadeira.

A Maria tem me olhado estranho a semana toda e não diz nada. Acordei tarde mas não deixei de fazer os meus afazeres mas no fim do dia eu não tenho mais cadeiras! Um cansaço imenso.

- O que você tem, mãe? -- o João pergunta me olhado preocupado. - A Maria disse que você estava passando mal de novo? -- diz.

- Acho que é pressão. Não sei. -- me sento na cama e num movimento involuntário acariciei a barriga e ele sorriu.

- Está enjoada? -- pergunta cínico! Eu rezo ao senhor todo dia para que não seja um bebê!

- Não sou mais mocinha, João. A minha vida não é mais de uma modelete. Eu trabalho em casa e até a sua mulher cansa. Não é nada! Me deixa! -- digo brava.

- Sabe que se estiver grávida ele vai se enfiar aqui de novo. Está doido para ver a Clarinha e você não deixa levar. -- diz irritado.

- Leva então mas para de me amolar! Se você contar alguma coisa eu expulso você também. -- estreito os olhos e ele gargalhou.

Não escapei de ir no médico mas eu fui com a Maria. Que Deus me perdoe mas parece castigo ou a tristeza de um destino! O grito da Maria denunciou tudo! Dirigi tremula e um cavalo parou na frente do meu carro e ele desceu. Caminha até a porta.

- Preciso conversar com você. -- o homem diz com uma mistura de ódio e espanto e a Maria aperta o meu braço tremendo também.

- Eu já implorei para ficar longe de mim. Eu estou grávida do José. Eu não quero você. -- as vezes eu tenho medo dele.

- Parabéns! O meu assunto com você é outro. Vem comigo até a fazenda daquele velho imundo! -- abre a porta e puxa o meu braço mas eu me desvencilhei.

- Ela não sabe dirigir. Não vou abandona-la no meio do caminho. Vai no seu cavalo e eu vou com ela. Você não manda em mim. -- os hormônios estão gritando! Ele assentiu e foi até o cavalo e subiu. Voltei para o carro e me sentei tremendo.

- Tereza, vamos pra casa. Não pode mais esconder essa perseguição do João, do José ou do César. Eles resolvem na bala se for preciso. -- diz nervosa.

- Não. Eu quero saber o que ele quer comigo e tem até o seu pai no meio. -- a curiosidade aguçou! Muitas coisas passam na minha cabeça mas nenhuma certeza.

Tereza Onde histórias criam vida. Descubra agora