Tereza

Capítulo Um

- Ele quis voltar para aquele inferno, mãe! A senhora sabe o quanto o João idolatra aquele homem! Aquilo não serve pra nada! -- digo furiosa e ela bufa.

- O celular, Tereza. -- ela avisa.

- Deixa tocar. Ele quer que eu vá para aquele fim de mundo outra vez. Não perdi nada ali. Tenho fotos para fazer. -- bufo brava.

- O meu neto vai fazer dezoito anos amanhã e o pai vai dar um festão e você está mentindo. -- ela olha para mim fixamente. Parece que todos dessa família tem o mesmo olhar. Ela me adotou e agora o meu filho tem esse sangue e esse olho também! E o gênio é do pai. Um tormento!

- Pai? Há cinco anos estão nesse amor todo mas eu passei a humilhação desde o começo quando ele ignorou a minha existência e a do filho dele! Ligue para o João e diga para ele ficar de vez com o pai dele. Ele nunca gostou de mim mesmo! Não sei se volto hoje. -- digo desviando os olhos e ela fica de pé e eu prontamente parei.

- Não saía para encher a cara com aquela Suzana. Trabalhe e volte pra casa. Amanhã cedo vamos para a nossa casa. Mesmo que não apareça na fazenda do José, o João pode encontrar você. Você sabe que ele é rebelde mas não fica sem você um dia. Atende esse celular! -- a explosão rara me fez ri. Ele é insistente!

Lhe abracei e peguei o meu carro. Eu silenciei o meu celular pois eu ainda estou brava com ele. Fez uma mochila e foi embora sem falar com ninguém! Não é a primeira vez mas eu não me acostumo nunca! Entrou na adolescência e a minha vida quase para. Ele nunca foi fácil!

Com quinze anos ele começou a mexer com drogas e eu dei graças quando o pai lhe procurou, apenas por isso! O João sempre visita nas férias e as amizades se afastaram dele. Eu sempre sofri por conta da minha pele. Eu não sou apenas negra. Sou uma mulher muito preta! É impossível ninguém me notar!

Para mim não é problema mas se tornou pior quando dei a luz a um filho de alemão! O José é sobrinho da mulher que me adotou e ela é alemã. Branco, olho azul e loiro! Quinze anos e segurando um bebê. A minha mãe surtou quando eu fiz greve de silêncio para não revelar quem era o desgraçado. Ela até achava que foi o seu ex marido.

Pois desde os seis anos que eu me lembro ele me fazia toca-lo. Um grande dia ela pegou e foi o pior dia das nossas vidas. Ele tentou mata-la mas de alguma maneira ela lhe desarmou e me mandou correr mas eu não fiz. Ela me escolheu como filha e se ela tivesse que morrer eu também ficaria para morrer. O que seria de mim sem ela? Ela me tirou das garras do inferno!

Me lembro das piadas que as madames falavam nas costas dela achando que eu não entendia nada. Muitas tinham caso com o Edgard. Ele não quis um escândalo então nos mandou embora. A minha mãe saiu com a roupa do corpo de volta para a fazenda dos seus pais e foi aí que eu conheci a desgraça da minha vida! Foi ali onde tudo aconteceu. Me marcou uma única vez mas foi para sempre.

José. Vinte anos, alto, bronzeado, forte, olhos azuis que brilhavam perigosamente. Não tinha uma garota que não ficasse louca quando ele montava no cavalo mais bravo da fazenda do pai. Ele frequentava o bordel com o pai e todas que se metiam com ele sabiam que ele não prestava.

A minha mãe não me deixava ir pois eu era nova para frequentar as festas que as meninas iam. Elas iam sem ninguém saber. Um dia eu fui e não terminou muito bem. Ele bebeu demais e me obrigou a dançar com ele. Eu gostei da dança. Gostei do beijo roubado mas quando nos levou pra casa ele me deixou por último e começou a me atacar na cozinha de casa e eu não gostei mais. Estava machucando.

O José também era o meu sonho mas eu não queria sexo com ele. Sabia que chamava a atenção pois com quinze eu tinha mais corpo do que as minhas primas. Chamou a sua atenção e de tanto insistir ele conseguiu o que queria. Até que foi carinhoso apesar de estar bêbado mas não teve amor. Não foi meu amor, meu namorado. Um mês depois de me ignorar a minha mãe descobriu e eu fiquei perdida.

Ele não quis saber e mandou eu me virar e que não se lembrava de nada. Não falei nada para a minha mãe mas quando o João nasceu ela soube de quem era a criança e eu implorei para ela deixar o José na dele. Eu não quis ficar falada naquele fim de mundo então ela voltou para a cidade e eu criei o João com ela.

A minha beleza chamou atenção de um americano e ele até hoje cuida da minha carreira e quer o meu coração mas o João é um ciumento incurável! Já tentou acabar com a minha carreira e ele jura que um dia eu e o pai dele iremos ser uma família feliz mas isso não vai acontecer.

O Michael é um amor de pessoa. Tem os casos dele mas ele se derrete para o meu lado! Já passamos algumas noites juntos e foi muito bom mas eu não sei viver e me entregar por inteira e isso gera muitos conflitos.

Essa semana me deixou muito irritada e eu não atendi telefone de ninguém! Ele ficou na dele mas ficou no celular olhando o meu ensaio de lingeries. Outro que toma banho na fonte pois beira os cinquenta e ainda está jovem! As oito eu fui liberada e ele apareceu no banheiro, sério.

- O que está acontecendo com você? -- ele não está bom hoje!

- Problemas familiares. -- digo.

- Não pode atender o celular para avisar? -- elevou a voz.

- Não é porque a gente dorme junto de vez em quando que você pode gritar comigo, Michael. -- digo enfurecida e ele passa a mão na cabeça nos cabelos grisalhos, irritado.

- Eu não estou gritando com você. Eu só queria saber onde você estava. -- esse olhar não!

- Estava em casa e eu vou voltar pra casa. -- pego a minha bolsa e ele passa na frente da porta.

- O meu beijo. -- diz sério. Me aproximei e ele afasta os meus cabelos e olha nos meus olhos. - Diz que me quer. -- o sedutor!

- Beija que eu tenho que ir. -- fujo do assunto e ele ri rouco.

- Eu posso demitir você. -- diz estreitando os olhos para mim.

- Assim eu me livro de você. -- pisquei e ele fica pensativo.

- Não. -- me fez gargalhar. - Ainda é cedo. Eu te levo pra casa antes das onze. -- prometeu mas eu sei que vai me prender e vai me dá uma noite maravilhosa.

O que acharam do primeiro capítulo? Me contem tudo! ❤