O Faraó

79 6 0
                                    

Alto Egito
Tebas

Willa viu a luz de Rá iluminar o horizonte apinhado de construções de pedra e barro. Tebas, era a maior cidade que viu em seus treze anos de vida. Barulhenta e apinhada de pessoas das mais diversas raças, a rainha das cidades era ainda mais gloriosa do que a princesa poderia imaginar. Durante a viagem de retorno, vislumbrou templos gigantescos que se erguiam em direção ao céu, honrando Amón, Mut e khonsu*, mercados repletos das mais exóticas mercadorias, palácios exuberantemente adornados com pinturas e estátuas, canais bem construídos que levavam água e transporte as áreas mais longínquas a margem.

Sentia-se envergonhada em destoar tanto das mulheres magras que desfilavam pelas vias apertadas com vestidos brancos e perucas trançadas com jóias, contas e maquiagens coloridas, já que tudo que tinha para usar era um vestido imundo de tecido grosseiro.

Depois de alguns dias em seu novo lar, Willa não tinha mais tanto medo de seu senhor e tentava se adaptar a nova vida. Ainda não conseguia entender qual era o sentimento que as pessoas tinham a respeito dele; medo? Admiração? Inveja? Desdém? Era difícil lê-los, mas de fato não o viam como aos outros generais, não o viam como um homem. Ouviu alguns o chamar de benção dos deuses, outros de demônio de Anúbis, e ainda não tinha formado sua própria opinião, das poucas palavras que trocaram não houve uma que não fosse uma ordem ou repreensão. No entanto, vinha a tratando com respeito, não a molestara de nenhuma forma e permitia que comesse até sentir-se saciada, um luxo comparado ao tratamento que Arameus trazidos como despojo de guerra recebiam de outros senhores.

一 Costurei sua túnica, senhor 一 disse num egípcio precário estendendo a peça a Khalid que a ignorou continuando o trabalho moldando a ponta de uma lança de madeira. 一 Se me permite, entre seus pertences, percebi ter muitos tecidos, aprendi a costurar e bordar, posso fazer-lhe peças novas, suas roupas estão velhas e gastas e um homem na sua posição, deveria vestiu-se de acordo 一 ponderou e novamente foi ignorada.一 Não conheço muito dos trajes egípcios, mas pelo que percebi o senhor também não tem muito apreço por eles, posso costurar túnicas simples e se me permitir gostaria de costurar um ou dois vestidos para mim, este é o único que tenho e...

一 Se isso lhe fizer fechar a boca, faça!
一 interrompeu Khalid de forma grosseira e Willa concordou com a cabeça, levantando-se e afastando-se rapidamente dele.

O homem acompanhou com o olhar enquanto a menina subia as escadas, não devia tê-la trazido, sabia muito bem disso. Mas como recusar um presente de seu faraó? Principalmente em momentos conturbados como aquele, estava a tempo demais no Egito, o antigo faraó o usou não só como uma arma de guerra, mas uma propaganda política. Seu nome era conhecido e temido além do deserto e embora para muitos não passasse de uma lenda ou uma mentira bem contada pelos egípcios, sabia o quanto aquilo preocupava o rei. E mesmo seguindo a risca todos os desejos de Menerptah sabia que era questão de tempo até o faraó vê-lo como um perigo ao seu reinado, isto se já não o visse. Como se já não bastasse suas preocupações, agora tinha uma criança barulhenta, andando pela sua casa, mechendo em suas coisas e fazendo perguntas a todo o momento.

Soltou um longo suspiro e deixou o trabalho subindo as escadas estreitas que levavam ao segundo andar da casa. Assim como a maioria das moradias comuns de Tebas, a casa era pequena no andar de baixo uma sala aberta que servia de cozinha e sala de estar, decorada com pouquíssimos moveis, acima, três ambientes divididos por cortinas e madeira; os aposentos de Khalib o qual a entrada da garota era proibida desde o primeiro dia, um quarto adjacente onde ele guardava armas, lanças, espadas e armaduras adquiridas durantes os anos e um outro cômodo cheio de entulho que agora servia de aposento a jovem princesa.
Ainda havia um alçapão abaixo da cozinha, uma dispensa onde Khalid aculumava sacos de grãos, cerveja, jóias e ouro. Tanto que Willa não conseguia parar de pensar em qual seria o motivo para ele viver numa casa tão modesta.

A Espada de Anúbis - REESCREVENDO Onde histórias criam vida. Descubra agora