Uma noite no Palácio

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Willa terminou de se vestir, ainda desconfiada com o convite de Khalid. O único lugar que ele havia a levado desde que chegaram, foi o mercado e isso porquê queria lhe ensinar o caminho e como negociar com os comerciantes, para que ele mesmo não precisasse mais se dedicar a tal função. E agora, lhe presenteou com um vestido e a levaria no palácio, tudo soava muito estranho. Ouviu ele ralhar mais uma vez e apressou-se para desembaraçar os cabelos, descendo o mais rápido possível a escada e o encontrando em pé rente ao fogão. Usava o mesmo gibão negro de quando o conheceu e um saiote marrom preso a cintura por um cinto onde uma espada fora amarrada, nos pés, sandálias de couro preto bem afiveladas aos tornozelos.

一 Está indo ao palácio ou para outra batalha? 一 ela questionou e ele fez um ar de riso.

一 Acredite o campo de batalha é muito menos perigoso do que um jantar com o faraó, seus comandantes e sacerdotes. 一 respondeu pegando uma pequena faca e prendendo-a a uma tira de couro amarrada firme a perna sob o saiote. 一 Voce é magra demais 一 falou ao observar as sobras do vestido.

一 Ficou um pouco grande, mas eu vou ajusta-lo assim que tiver tempo, obrigada senhor Khalid. Meu vestido estava em farrapos 一 Disse a menina com um leve sorriso que evidenciou as covinhas de seu rosto e ele assentiu com a cabeça.

一 Seja cordial com as pessoas e não olhe nos olhos do faraó, ou sua rainha, mesmo que eles falem com você, mantenha a cabeça baixa a menos que ele permita que olhe para ele, entendeu? 一 Disse e Willa concordou acenando com a cabeça 一 Se se portar direito talvez encontre alguma senhora que goste de uma serva barulhenta. Agora vá pegar meu cavalo.

Em trote lento, segurando-se a cintura de Khalid, Willa não sabia para onde olhar conforme se aproximavam do palácio e a jovem percebia quanto o cenário se tornava mais grandioso. As casas muito maiores, prédios ricamente adornados, praças, jardins e piscinas a coloriam ambiente arido, assim como as pinturas e hieróglifos cada vez mais precisos e belos.

Ao encarar os portões esculpidos com relevos s representando os faraós e deidades veneradas, Willa sentiu o ar pesado de história e mistério. As colunas imensas que se erguiam ao longo do caminho narravam as conquistas e triunfos dos governantes, trazendo à vida os momentos de glória. Foi impossível não pensar a tomada da fortaleza Arameia e imaginar se também estaria retratada em alguma daquelas paredes.

Respirou profundamente e balançou a cabeça tentando afastar os pensamentos daquele dia fatídico em que perdeu absolutamente tudo que amava e acreditava.

Desmontaram dos cavalos que foram entregues a um jovem soldado e a menina seguiu khalid atravéz dos imensos portões.
Uma vez dentro dos muros, a atmosfera foi permeada por aromas exóticos de incenso e mirra, queimados como oferendas para aplacar os deuses e purificar o ambiente. Ao redor do palácio, jardins meticulosamente projetados exibiam uma miríade de cores vibrantes, com plantas exóticas e flores delicadas.

O coração da jovem princesa batia num misto de medo e admiração e conforme adentravam o palácio foi impossível a ela manter a cabeça baixa como seu senhor a recomendou. Os relevos detalhados e as pinturas nas paredes contavam histórias sagradas, celebrando a vida após a morte, a criação do mundo e as batalhas épicas travadas pelos faraós. Os tetos abobadados, adornados com estrelas douradas, evocavam a grandeza cósmica e a crença na eternidade.

Willa já conhecia bem a vida num palácio, mas as proporções e exuberância egípcia eram fascinantes aos olhos dela. Foram escoltados por um dos soldados até o pequeno salão guardado por duas estátuas majestosas do faraó, enquanto uma trilha de pétalas de rosas leva os convidados a uma imponente montanha de almofadas coloridas onde o próprio Deus rei assistia uma apresentação de dança. Em uma das laterais músicos tocam harpas, alaúdes e tambores, enquanto dançarinas exibiam suas habilidades em ritmo hipnotizante no entorno dos poucos convidados que bebiam e riam alto, enquanto eram servidos por homens e mulheres em longas túnicas brancas quase translúcidas. As mulheres usavam perucas volumosas e muito enfeitadas e maquiagem forte, os homens tinham o crânio rapado e olhos pintados assim como na tradição egípcia, mas de longe a jovem percebeu que nenhum deles pertencia aquelas terras. Eram Arameus escravizados, assim como ela depois de perderem a guerra contra o Egito.

A Espada de Anúbis - REESCREVENDO Onde histórias criam vida. Descubra agora