A princesa e o Chacal

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Alto Egito
Tebas

Willa seguiu pela rua do mercado da cidade baixa de Tebas, já havia estado ali com Khalid no dia de sua chegada ao Egito, porém sozinha, sentia-se amedrontada. Os egípcios eram um povo estranho e barulhento, falavam alto, usavam pouquíssimas roupas, as crianças corriam nuas por toda a parte e sob as cabeças uma trança única adornada com enfeites. Tudo muito diferente da Pérsia ou mesmo dos Arameus.

Tinha oito anos quando deixou a sua casa e rumou as terras dos príncipes pastores, sua mãe lhe disse que assim seria mais fácil. Cresceria ao lado de seu prometido Abdul e não teria olhos para qualquer outro homem. E embora ela não estivesse errada quanto a isso, afinal a proximidade da idade deles os fez bons amigos desde que ela pôs seus pés naquela terra, não foi mais fácil. Sentia falta de casa, do colo da mãe e até mesmo da implicância dos irmãos mais velhos. Sendo a quarta filha, onde três homens eram seus irmãos mais velhos, seu pai jamais imaginou que um dia ela seria sua única herdeira. Depois da morte em batalha de cada um dos príncipes, o reino Arquemita agora seria entregue a um rei consorte Abdul um Arameu que estava longe da sua própria linha de sucessão.

Foi impossível a ela não pensar no sofrimento dos pais ao saberem que sua única semente estava perdida para sempre. Haviam tantos corpos ao deixar a fortaleza que não demorou a perder a esperança de que a possibilidade dela estar viva, habitasse na mente de qualquer um. Principalmente depois de ver Abdul e sua família ser massacrada sem qualquer piedade.

A pequena peça de lápis azuli foi trocada por linho, contas coloridas e pequenas conchas que usaria para enfeitar a túnica. Abdul surgiu a suam mente com sua túnica bordada com conchinhas coloridas, aquele sorriso galante e espírito aventureiro. Sentiu os olhos aquecerem e as lágrimas escaparem por eles na mesma velocidade que as limpou com as mangas esfarrapadas do vestido . Precisava ser forte, os persas eram conhecidos por sua coragem e inteligência e era assim que sairia daquela situação, não chorando como uma criança tola.
Khalid era um homem rico e embora ainda não o entendesse, ele parecia ser justo, talvez com o tempo se ganhasse sua confiança e respeito, ele lhe desse a liberdade e algum ouro para que pudesse retornar para casa.

Tinha um olhar perdido sobre pequenos jarros coloridos de uma das barracas, quando ouviu uma voz sussurrada chamar seu nome a tirando de seus pensamentos. Avistou uma moça que quase não reconheceu devido a cabeça enfeitada com uma peruca trançada, maquiagem forte e um vestido quase translúcido que deixava todas as curvas a mostra, preso por um cinto marcando a cintura.

一 Sou Alena, terceira esposa do irmão de Abdul, Mustafá... Lembra-se de mim? 一 A mulher puxou- a pelo braço até uma parede.

一 Ah sim, me perdoe é que está ... diferente 一 disse ainda com estranheza e a moça retirou a peruca mostrando uma cabeça lisa.

一 Cortaram meus cabelos assim que cheguei 一 relatou a mulher com pesar 一 por acaso viu meu filho? Meu pequeno Ylah? Ouvi dizer que trouxeram muitas mulheres e criançasa para servir no Egito e que muitos meninos foram levados ao palácio, que serão educados e treinados para ser homens do faraó.

一 Não, não o vi 一 mentiu a jovem, a criança assim como todos os herdeiros diretos da coroa Arameia, haviam sido assassinados em prol do novo rei, um primo de segundo grau do antigo monarca, que jurou sua lealdade ao faraó. 一 Na verdade é a primeira pessoa que vejo, desde que cheguei. Fui entregue ao general Khalid. Vou costurar algumas roupas para ele 一 disse mostrando o cesto tentando desviar-se do assunto

一 O demônio? 一 a mulher assustou-se.

一 Ele não é tão ruim, me trata de forma respeitosa.

一 Ora você não sabe? Ele é amaldiçoado pelos deuses. Dizem que a noite se transforma em uma fera, arranca e come o coração daqueles que desagradam os deuses. 一 a mulher relatou em tom baixo 一 na casa de cerveja ele costuma ser um assunto frequente. Dizem que ele já matou mais de dez mil homens e que dorme sob uma pilha de ossos.

A Espada de Anúbis - REESCREVENDO Onde histórias criam vida. Descubra agora