𝖺𝗎𝗀𝗎𝗌𝗍

𝟐𝐧𝐝 𝐚𝐜𝐭: 𝐥𝐨𝐯𝐞 𝐚𝐩𝐩𝐥𝐞

golas altas sufocam a minha vontade de ser diferente. de repente me auto-sufoco por não poder ser diferente de algo que me priva do ar, já que eu mesma me auto intitulo incapaz de respirar.

verdares não existem, o ar é perigoso e o afeto corrói por dentro.

digamos que eu me sinto nua ao usar branco, o que faria? diria que estou morta por dentro ao não me dar o luxo? ou melhor, o luxo é tão tentador assim para me fazer dizer nada por tão pouco?

meus pés se enterram sozinhos na areia da praia e a maré não espera em bater fria em minhas canelas.

estou desprovida de todo e qualquer luxo que se possa dar, todo e qualquer medo que se possa sentir e de qualquer vento que o norte possa vir a entortar numa prosa.

mergulho de peito no mar. meu pescoço dói bastante mesmo que eu esteja pelada.

você vai me empurrar e me puxar pela gola quando eu quiser te beijar. vai me amarrar, me colocar num puleiro e vai nomear a montanha russa louca pra caralho da sua vida de uma simples roda gigante.

quando eu estiver com os dentes quebrados tentando morder a décima maçã do amor que você usa para me alimentar como um pássaro, me darei o trabalho de cuspir todo o açúcar vermelho no meu cabelo, só para vê-lo com uma navalha perto do meu couro cabeludo, tirando de mim o que me resta.

não poderei gritar porque a minha boca estará sangrando.

e quando você me perguntar porquê me deixei ser amarrada, açúcar pingará dos meus labios cortados como se eu fosse uma abelha faminta.

e eu não vou me dar ao luxo de novo.

eu consigo sentir você arrancando-o de mim de novo.

você vai sentar do outro lado da roda gigante e ao olhar para a maçã despedaçada no chão, o açúcar vermelho pingando e o pânico latente nos meus olhos, vai ver a minha gola branca, o meu vestido branco intacto e a minha cabeça careca. mas ainda assim vai protelar, como se estivesse mergulhado num mar de amnésia.

vai me perguntar se eu sinto alguma coisa além de nada.

mas ninguém vai estar aqui para te responder