III

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Então, era isso. Lucas estava ali, no meu quarto. Ok. Ele começou a falar meio sem graça e eu também. Até que ele viu a minha tela que eu não tinha conseguido esconder toda.
- Ah, não, não mexe nisso.
- É uma pintura sua? Você sabe que eu adoro ver!
- Sim, mas essa não ficou boa e...
Mas já era tarde demais. Ele estava com a tela na mão. Sentei na cama com as mãos na cabeça sentindo tudo girar. A última pessoa no mundo que eu queria que visse o quadro, viu.
Lucas sentou no meu lado, me observando. Eu estava sentindo, eu não conseguia mais segurar, não dava mais tempo, a qualquer momento... Ele me abraçou e eu desabei. De novo. Depois de anos sem chorar, guardando tudo dentro de mim, de repente, em um dia, eu chorava duas vezes e na frente de duas pessoas.
- Ei, calma. Tá tudo bem.
Depois de um tempo, ele voltou a falar comigo:
- Maya. O que houve?
Pensei em dizer que estava tudo ok, levantar, secar os olhos, fazer uma piada sobre meu "descontrole emocional" e tudo voltaria a ser como antes. Mas eu não aguentava mais guardar tudo e sofrer tudo sozinha. Respirei fundo e resolvi contar a verdade.
- Hoje faz 12 anos que meu pai foi embora.
- Ahhh. Maya...eu...eu sinto muito.
- Escuta, não quero que se sinta culpado, de jeito nenhum, mas você me pediu para falar, então agora, me ouça.
- Tá bom.
- Não tem um ano, nesse dia, que eu não pense no meu pai. Só que dessa vez, eu tinha decidido que ia ser diferente. Eu gosto de você. Muito. Pensei que quando eu falasse o que sentia, coisa que eu não faço desde da partida do meu pai, um ciclo estaria completo. Eu diria "ei, Lucas, eu gosto de você." Bum. Sentimentos para fora. E tudo,tudo ficaria bem, eu pensei que você também gostava de mim, e então ficaríamos juntos e eu...eu não pensaria mais...no meu...pai.
Ufa. Tudo para fora. Finalmente. E...ufa! Ufa, ufa, mil vezes ufa. Que sensação boa, a de não se sentir preso a própria mente. Pena que durou pouco, porque Lucas se afastou bruscamente, me dando um susto. Ele ficou cara a cara comigo e praticamente cuspiu as palavras.
- Maya Hart. Eu te odeio.
Peraí, o que? Será que eu nunca ia ficar em paz?
- Lucas, o que?
- Isso aí que você ouviu. Aposto que isso só faz parte de um plano bolado pela sua mente de vândala para me separar da Riley. Eu até entendo porque seu pai te largou.
E saiu, pisando duro, batendo a porta. Inacreditável. Eu me abri na frente dele, ele viu meu quadro, eu chorei na frente dele, e tudo na esperança de me sentir melhor, e eu nunca tinha me sentido tão mal na vida! Enfiei a cabeça no travesseiro para abafar os soluços e chorei como nunca. Algumas horas atrás, eu achava que nunca mais ia chorar tanto, mas pelo visto, eu tinha estoque vitalício de lágrimas.
Eu falei a verdade. Não era um plano. Eu não era uma vândala. Meu pai não me abandonou por isso, né?
Entre lágrimas e pensamentos, eu caí no sono.

Girl Meets The Broken GirlOnde histórias criam vida. Descubra agora