don't make noise, day 16

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A viagem até a minha casa dura quase 16 horas.

Ainda precisamos ir a Pickering para buscar roupas da família Mendes e passamos em um mercado para abastecer a despensa da minha casa. Nos dividimos em dois carros, eu dirigindo na frente meu carro com Shawn, Aaliyah e Karen. E Manny dirigindo outro com Andrew.

Esqueço facilmente que o Natal já é em alguns dias. O clima não me parece muito amistoso e feliz, apenas o inverno massacrante e as estradas cheias de neve me lembram que período do ano estamos.

Todos estavam muito quietos, ainda impactados pela gravidade da explosão. Eu não gosto nem de pensar o que teria acontecido a Shawn se ele estivesse perto da bomba ou pelo menos dentro do camarim.

Eu teria falhado novamente.

– Tudo bem? – Andrew pergunta assim que chegamos na minha casa, no meio de um monte de neve em Fort Rupert. Só quando ele fala, eu percebo que estou parada a meio caminho da porta, com a chave na mão.

Eu confirmo com a cabeça e abro a primeira porta. A segunda porta possui reconhecimento de íris, o que aumenta muito mais a segurança. Deixo que cada um deles entre e observe a casa, a sala ampla, a cozinha. Então distribuo os quartos, dando um para cada, e um para os pais de Shawn.

Todos parecem exaustos da viagem.

Pela manhã, faço uma ronda ao redor da casa. Não há nada fora do normal. Quando retorno, preparo café da manhã. Faz muito tempo que eu não recebo visitas em casa. Na verdade, acho que nunca recebemos visitas em geral. Nem quando eu era criança, eu recebia visitas. Talvez o fato de ter estudado em casa tenha afetado meu jeito para socializar.

– Bom dia. – Shawn aparece, de banho tomado. Eu apenas sorrio fraco, esperando ser uma resposta suficiente. Só que não era. – Você está bem?

Ele vinha me perguntando isso com uma frequência absurda. E cada vez que ele perguntava, eu sentia uma vontade igualmente grande de chorar.

– Acho que é só essa situação da explosão. Ficarei bem quando esse inferno acabar. – Dou ombros. Desvio o olhar, tomando um gole de café. – Não pretendo repetir o erro.

– Mas não foi sua culpa. Sabe disso, não sabe? – Ele dispara, a expressão séria.

– Eu deveria ter visto isso vindo. Mas não vi. Não ter feito outra vistoria no camarim foi um erro pelo qual apenas eu respondo. – Eu engulo o nó na garganta.

– A culpa é apenas de quem colocou a bomba lá. Não sua. Como você poderia saber? – Ele argumenta, confiante em suas palavras.

– Não é assim que as coisas funcionam, Shawn. Fui treinada anos para situações iguais a essa ou piores. Eu agi como uma amadora.

– Você agiu como humana, Ava. – Ele diz, lentamente, como se para enfiar isso na minha cabeça. Mas eu apenas encaro, é a primeira vez que ele me chama de Ava. – Você é dura demais consigo mesma. Precisa de alguém que te diga, que é normal errar uma vez ou outra. Você não é um robô. – Shawn estende a mão sobre a mesa e alcança as minhas. O toque gera uma onda de calor pelo meu corpo, que faz as minhas barreiras cederem de um jeito estarrecedor.

Sinto minha vista embaçar lentamente, e Shawn se mantém ali, parado. Ele observa cada lágrima que eu deixo sair, respeita meu silêncio e a minha dor.

– Eu queria poder ver o mundo com os seus olhos. – Eu sussurro, me deixando levar pelo momento. – Meu pai era um agente, assim como eu, assim como o pai dele.

Eu começo, e Shawn se mantém atento a mim. Ele percebe a importância do momento e da confissão que farei.

– E agora ele está morto por minha causa. Foi durante uma missão na Malásia, estávamos bem perto de pegar um grande contrabandista de armas. – Eu contextualizo. – Tínhamos tudo. Íamos prender o cara e seus aliados no dia seguinte. Mas tudo desandou quando eu não fiz uma vistoria adequada na casa, e o contrabandista descobriu que estávamos investigando. Era um resort hotel e estávamos hospedados em um apartamento. Era a minha missão fazer a vistoria sempre que chegávamos de fora, mas nesse dia eu não quis. Tinha feito a vistoria todos os dias, durante vinte e sete dias, mas não naquele dia. – Eu relembro, sentindo mais e mais lágrimas, e respirar se torna difícil. Naquele dia eu queria ver Vince, me enroscar em seus braços por algumas horas. – Eu saí depois que o meu pai dormiu. Eu queria um tempo. Quando eu estava voltando, eu vi... Um míssel em direção ao apartamento onde meu pai estava. Eu tentei correr até lá, mas o projétil chegou primeiro e destruiu tudo.

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